O mundo se despediu na última terça-feira (13) do ex-presidente do Uruguai e ex-senador José Mujica, também conhecido como Pepe Mujica, uma semana antes de completar 90 anos. Ele era considerado uma referência para setores progressistas e era um dos ícones da esquerda no país sul-americano e no continente americano.
Nascido numa família de imigrantes bascos e italianos em 1935, Mujica governou o Uruguai de 2010 a 2015, quando foi sucedido por Tabaré Vazquez, que também havia sido seu sucessor. Embora a temática migratória não tenha figurado entre as principais políticas de seu mandato presidencial, ele apresentou alguns pensamentos e falas públicas a respeito do tema que dialogam com a postura progressista que marcou sua trajetória.
Entre as principais realizações de seu mandato como presidente estão a ampliação de programas sociais (iniciada pelo antecessor, Tabaré Vazquez) que levaram à redução da pobreza de 32,6% em 2006 para 8,1% em 2018. Além disso, tiveram destaque a descriminalização do aborto, a descriminalização da produção e comercialização da maconha e o reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Mujica também se notabilizou pela defesa de pautas ambientais e pela crítica a um estilo de vida que prioriza o consumo. O líder uruguaio era ainda um entusiasta da integração regional como forma de aproximar os países latino-americanos, trabalhando em prol do Mercosul.
No começo de 2024, Mujica anunciou a descoberta de um câncer no esôfago. Em janeiro passado, ele revelou que o câncer havia se espalhado por todo o seu corpo e que ele não faria mais tratamento. Nos últimos dias, estava sob cuidados paliativos.
Críticas à Europa e reconhecimentos da contribuição migrante
Ao lado da esposa, Lucia Topolansky, Mujica partiu em 2015 para uma viagem à Europa que passou pelos locais de origem de seus antepassados. Ele visitou o vilarejo basco de Muxica, na Espanha,terra natal de sua família paterna, e o vale italiano de Fontanabuona, de onde vêm seus parentes maternos.
Mesmo sendo declaradamente ateu, Mujica teve nessa viagem um encontro no Vaticano com o então Papa Francisco (1936-2025), notório defensor global dos direitos dos migrantes. “Olhem bem, os que estão contra a imigração, o quão equivocados vocês estão. Como é possível entender que a Europa moderna e rica tenha resistências fenomenais a integrar gente que escapa da penúria, da guerra na Síria ou do que acontece na África?”, disse ele durante o encontro, que ocorreu no mês de abril.
Mujica afirmou durante o encontro ainda que a Europa está ficando “velha” e que a imigração ajudaria a frear tal processo. “Não tenham medo da mistura!”
Em um vídeo para a emissora de TV alemã Deutsche Welle, Mujica novamente criticou as políticas migratórias empreendidas pela Europa e sua recusa em acolher os migrantes que chegam de barco ao continente. E usou o próprio Uruguai e a Argentina como exemplos, sendo ambos dois destinos dos barcos que levaram europeus para o continente americano durante o período da chamada “Grande Migração”, entre meados dos séculos XIX e XX.
“Meu país, que é muito pequeno, recebeu de uma vez só mais de 40 mil imigrantes e eles contribuíram para nossa língua, nossos hábitos, nossa cultura. A Argentina chegou a receber mais de 200 mil, nós, do Rio da Prata, recebemos muitos barcos abarrotados e imigrantes”.
Meses depois da visita de Mujica à Europa, a temática migratória ganharia repercussão inédita no continente após a foto do menino sírio de origem curda Alan Kurdi morto em uma praia na Turquia ganhar o mundo. Ela ajudou a escancarar a jornada que milhões de pessoas faziam – e continuam a fazer até hoje – do Oriente Médio e de outras regiões do Sul global em direção ao continente.
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