Em tempos nos quais a migração é vista como algo negativo, ressaltar as contribuições promovidas por esse movimento é uma forma de resgatar sua importância para entender melhor o mundo em que vivemos
Por Rodrigo Borges Delfim
São Paulo é reconhecida como um dos polos mundiais da gastronomia. Por meio dos paladares é possível fazer pequenas viagens para países distantes. Em determinados bairros e eventos, é possível dar até mesmo mini-voltas ao mundo em poucos passos, bastando atravessar a rua ou ir ao estabelecimento seguinte.
Se a capital paulista – e outras cidades mundo afora – permitem esse tipo de experiência, ela se deve às migrações – do passado e do presente.
Essas e outras contribuições das migrações, que englobam aspectos econômicos, sociais e culturais, contrastam com o tratamento cada vez mais negativo que o movimento – e seus executores, os migrantes – recebe na atualidade.
Eis uma das razões de existir de datas como o Dia Nacional do Migrante, lembrado no Brasil nesta terça-feira (25) – há ainda o Dia Internacional do Imigrante (18 de dezembro), instituído pela ONU.
Datas como essas ajudam a resgatar um pouco sobre o que significa de fato estar em uma situação de migração para um outro lugar – dentro ou fora de seu país. E também sobre as contribuições e transformações promovidas pelos movimentos migratórios no passado e no presente – seja no Brasil ou no exterior.
Nunca é demais lembrar que migrar é um ato exercido pela humanidade desde seus primórdios. A exposição permanente do Museu da Imigração, em São Paulo, é bem didática nessa explicação – já fica a dica de passeio para o dia ou mesmo para o final de semana.
Esse ato, contudo, está longe de ser uma decisão fácil. Mesmo os processos mais planejados de migração – alguns até com direito a consultoria – envolvem uma série de renúncias e readaptações sociais, econômicas, culturais, políticas, psicológicas, familiares… Voltar de um processo de migração, então, é ainda mais complexo.
Quando o processo migratório é forçado por questões como perseguições, conflitos armados e violações de direitos humanos, as renúncias e readaptações são potencializadas pela necessidade de preservação da própria vida.
Para o colunista do MigraMundo e missionário scalabriniano Pe. Alfredo J. Gonçalves, a migração é um verdadeiro “sinal dos tempos” – enquanto denuncia a falta de condições de vida nos países de origem, anuncia a abertura de horizontes novos nos lugares de destino.
A pessoa que migra carrega consigo seus valores, sonhos, medos e habilidades, ao mesmo tempo que adquire novos atributos em sua nova morada, criando pontes entre um lugar e outro.
Ao mesmo tempo, essas contribuições se juntam a outras – individual e coletivamente e ajudam – no curto, médio e longo prazo – a criar ambientes como o polo gastronômico paulistano. Isso, é claro, só para ficar em um exemplo de legado deixado pelas migrações.
Tais horizontes, contudo, nem sempre ficam claros diante de manifestações -teóricas e práticas – cada vez mais negativas sobre as migrações e os migrantes.
Especialmente em condições adversas, datas como o Dia Nacional do Migrante têm o potencial para ajudar a clarear horizontes e a fomentar visões mais humanas sobre um movimento que é, essencialmente, humano.
Entender os desafios e contribuições trazidas pelas migrações – e por seus agentes, os migrantes – ajudam a compreender melhor o mundo em que vivemos. E assim o fazendo, é possível desenvolver e colocar em prática ferramentas que ajudem a tirar o melhor proveito possível dessa diversidade.
Origens do Dia do Migrante
O dia 25 de junho foi determinado como o Dia do Migrante através do Decreto nº 30.128, de 14 de novembro de 1957, emitido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta data foi escolhida por coincidir com o fim das celebrações da semana da Imigração Japonesa, comemorada a partir de 18 de junho.
Há ainda outras fontes que apontam datas diferentes, como 21 de junho e 1º de dezembro. O 25 de junho, no entanto, é o mais aceito.
Mundialmente o Dia do Imigrante é celebrado em 18 de dezembro, instituído pela ONU por conta do aniversário de dez anos da Convenção Internacional para Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias – um compromisso, aliás, que ainda não conta com adesão do Brasil.
Rodrigo Borges Delfim é jornalista, fundador e editor do MigraMundo