Oito mulheres de diferentes países africanos foram reunidas em uma roda para contar a história de suas joias ancestrais e compartilhar as experiências vividas por elas ao migrar para o Brasil. O resultado desse diálogo está no novo documentário do Projeto Vozes e Olhares, que será lançado oficialmente nesta sexta-feira (24) em São Paulo, às 10, dentro do seminário Vozes Africanas, no Museu da Imigração.
A produção representa uma nova etapa do projeto, lançado em 2021. O documentário, com 12 minutos de duração, foi gravado nas dependências da Missão Paz, em São Paulo. A produção traz ao público temas relevantes para a vida das mulheres migrantes e refugiadas, como a inserção no mercado de trabalho brasileiro, situações de xenofobia e racismo, questões culturais, mas principalmente sobre a história da África – o berço da humanidade.
A primeira edição, por sua vez, consistiu em uma série audiovisual com histórias de mulheres congolesas, filipinas e venezuelanas. Os relatos evidenciaram os desafios, riscos e dores da migração e do refúgio, a saudade dos filhos e da família, a adaptação a uma nova cultura, os abusos sofridos no país de origem e no Brasil e a batalha por uma vida mais digna e feliz. Relembre aqui a reportagem do MigraMundo sobre o projeto.
A realização das gravações do documentário ficou a cargo dos cineastas Juliana Sanson e Gustavo Castro, da produtora Fabulário Filmes. Eles são os criadores do projeto Feitos de Coragem, que desde 2019 promove oficinas de Storytelling e Realização de Vídeos com migrantes e refugiados que vivem no Brasil.
Ancestralidade, migração e gênero
O projeto Vozes e Olhares é idealizado por Clarissa Paiva, consultora de projetos da Missão Paz, e pelo padre Paolo Parise, coordenador da instituição. Além disso, conta com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo Brasil e Paraguai, que também apoiou a edição de 2021.
Para Clarissa Paiva, o novo vídeo documental reforça a importância de celebrar a ancestralidade também nos processos migratórios contemporâneos, além de dialogar com a questão do gênero.
“Numa estrutura social patriarcal, machista e violenta em que vivemos, é muito importante que tenhamos esse olhar atento para as histórias de vida das mulheres migrantes, principalmente aquelas do continente africano. A gente espera que cada vez mais, a partir desse movimento de falar sobre a feminilização do fenômeno da migração e refúgio, que as pessoas reflitam sobre a importância dessa memória dessa celebração.
A idealizadora do Vozes e Olhares acrescentou ainda que o documentário foi pensado ainda em uma proposta de ser algo mais celebrativo, muito mais do que trazer relatos sobre a dificuldade da vida das mulheres imigrantes no Brasil.
“A memória é um direito à celebração, um direito à felicidade. Espero que cada vez mais a gente possa ver histórias sendo contadas e mulheres migrantes ocupando espaços de poder na nossa sociedade para mudar esse cenário estrutural que a gente enfrenta no Brasil com a população negra mas também com a população migrante”.
O Vozes e Olhares é inspirado ainda no seminário Vozes e Olhares Cruzados, evento presencial promovido pela Missão Paz entre 2012 e 2017. O MigraMundo acompanhou três dessas edições – em 2014, 2015 e 2017.