Está disponível para o público no Brasil um livro intitulado “O Santo dos Migrantes”, que resume e atualiza a biografia do sacerdote italiano João Batista Scalabrini, que desde outubro de 2022 é considerado santo pela Igreja Católica.
O livro é um compilado de textos organizado pelo padre Graziano Battistella, Secretário Geral da Congregação Scalabriniana e postulador da canonização do sacerdote. A obra sintetiza a biografia oficial e mais completa de Scalabrini, escrita por Mario Francesconi, da década de 1980, que conta com mais de mil páginas.
Mesmo em formato mais enxuto, a publicação disponível no mercado brasileiro, que sai pela Editora Paulus, tem “apenas” 378 páginas, sendo que cem delas são apenas de citações bibliográficas, incluindo uma série de documentos produzidos pelo próprio Scalabrini, além de material fotográfico.
Por meio da trajetória de vida de Scalabrini, o leitor consegue tomar contato com uma série de questões que pautavam o cotidiano na Península Itálica na época: o processo de unificação da Itália e seus primeiros anos, a Revolução Industrial no país europeu, o debate sobre o comunismo e a própria movimentação de italianos saindo do campo em direção às cidades e também em barcos – com destino especialmente ao continente americano, incluindo o Brasil.
Do receio da migração a “pai dos migrantes”
Ao longo da obra, o leitor toma conhecimento de um fato curioso: inicialmente Scalabrini se opunha à migração dos italianos para o exterior.
O religioso italiano tinha grande preocupação com a perda de fé dos paroquianos diante do grande processo de emigração em curso e quando estivessem distantes da terra natal. No entanto, depois do receio inicial quanto à ida de italianos para o exterior, passou a a ser um defensor ferrenho de ações de apoio aos emigrados.
Foi dessa preocupação, aliada ao fato de Scalabrini ver a migração como algo necessário à sobrevivência dos italianos mais humildes, que surgiu a Ordem dos Missionários de São Carlos Borromeu, nome oficial da Ordem Scalabriniana.
A obra relata ainda visitas que Scalabrini fez, no fim da vida, aos Estados Unidos e Brasil para conhecer a situação dos italianos emigrados. Esses dois momentos são considerados importantes porque despertaram no sacerdote italiano a necessidade de expandir o trabalho dos scalabrinianos para outras nacionalidades em situação de migração, e não apenas aos italianos.
A visita ao Brasil, inclusive, foi um uma das grandes e últimos movimentações de Scalabrini, que viria a falecer em 1º de junho de 1905 por complicações de uma hidrocele que contraiu após feridas em razão de longas viagens a cavalo, anos antes. Várias homenagens foram dispensadas ao sacerdote italiano tanto nos dias seguintes à sua morte quanto nos anos posteriores.
Atualidade do pensamento de Scalabrini
Os três últimos capítulos do livro tratam da relevância do pensamento de Scalabrini para as migrações atuais e outros legados para a religião católica, como a ênfase em uma postura apostólica e de encontro com as pessoas mais necessitadas.
Em relação à mobilidade humana, o bispo italiano defendia uma migração regulamentada e assistida. Um pensamento bem semelhante ao conceito de migração “ordenada, regular e segura”, defendido pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e que norteia o Pacto Global para a Migração, estabelecido em 2018. O Brasil é um dos signatários desse acordo, tendo retornado a ele depois de quatro anos de ausência.
Entre outras contribuições, Scalabrini ainda fez uma releitura do conceito de pátria e pertencimento, sintetizado em uma de suas das frases mais famosas: “Para o desterrado (migrante), a pátria é quem lhe dá o pão”, que consta em obra datada de 1889.
Serviço
Livro: “O Santo dos Migrantes” – João Batista Scalabrini
Autor: Graziano Battistella (org)
Editora: Paulus
Total de páginas: 378
Valor de capa: R$ 63,00
