Por Letícia Agata Nogueira
Entre os dias 15 e 18 de maio acontecerá a 7ª edição da Festa Literária da Mantiqueira (FLIMA), em Santo Antônio do Pinhal (SP), com o tema “Deslocamentos e Pertencimentos” – fazendo alusão direta à migração e seus desdobramentos, que também servem de inspiração para diferentes obras literárias.
O evento promete mais de 60 atividades literárias artísticas gratuitamente para todos os públicos, além de shows musicais e feira de livros.
O tema dessa edição é uma homenagem a Milton Hatoum, escritor, tradutor e professor brasileiro, amplamente reconhecido por suas obras que exploram temas como memória, identidade, conflitos familiares e a diversidade cultural da Amazônia. Milton nasceu em Manaus, em 1952, e é filho de imigrantes libaneses, origem que também influencia fortemente sua escrita. Ao longo do evento, sua trajetória e obras serão debatidas em diferentes mesas e atividades.
“A FLIMA é um evento literário importante e já consolidado. Penso que o tema (Deslocamentos, Pertencimentos) tem tudo a ver com uma certa tradição romanesca e com questões essenciais do nosso tempo. É uma honra ser homenageado pelo festival”, comenta o escritor.
Temática migratória nas mesas literárias
Em reunião com a imprensa, ocorrida em 15 de abril, Cristiane Tavares, Maria Carolina Casati e Roberto Guimarães, integrantes da curadoria, anunciaram a programação completa, destacando 11 mesas literária no Auditório, que trarão, entre os assuntos, a temática migratória, com o objetivo de promover diálogos necessários sobre o mundo contemporâneo e suas encruzilhadas por meio de encontros entre literatura, realidade e sensibilidade. Maria Carolina Casati contextualiza:
“Escolhemos este tema porque ele nos é muito caro. Falar sobre deslocamento é falar da existência da humanidade, que por várias razões está o tempo todo se deslocando fisicamente e metaforicamente, pensando em outras formas de existir para além do que se espera e para além do que é possível dentro das circunstâncias que temos ao nosso dispor. E pensar em pertencimento é pensar em como podemos sobreviver. Pertencer a quê? A quem? A que lugar? A que grupo? A que família? A que possibilidade? Mais uma vez também a despeito do que nos é ofertado e no que se espera demais. Estamos pensando nisso de uma forma literária: a partir da palavra e dos corpos: como podemos existir?”
A mesa 3 trará o tema “Poéticas de deslocamento: literatura e território” com a participação de Edimilson de Almeida Pereira, poeta, ficcionista, ensaísta, professor e pesquisador da cultura e da religiosidade afro-brasileiras, e Kaká Werá, escritor, ambientalista, educador, conferencista, empreendedor social e líder indígena brasileiro. A mediação será realizada por Cristiane Tavares.
A mesa 6 trará o tema “Deslocamentos forçados: migração e refugiados”, com a participação de Jamil Chade, jornalista, e Marie-Ange Bordas, artista, escritora e mediadora cultural. A mediação será realizada por Paula Carvalho.
Já a mesa 7, por sua vez, trará o tema “Brasil deslocado: literatura e fronteira”, com a participação de Edyr Augusto, contista, cronista, romancista, poeta, jornalista, radialista e dramaturgo, e Morgana Kretzman, escritora e roteirista. A mediação será relizada por Jéssica Balbino.
Migrações também na música e em debates
A parte musical do Festival, por sua vez, contará com a participação do alaudista sírio refugiado no Brasil, Rajana Olba, que fará um recital com o tema “Retrato sonoro de um certo Oriente”. Rajana também é fundador e condutor da banda Nikkal, um projeto musical que reflete sua versatilidade artística.
A banda Quimbará, formada por filhos de cubanos radicados no Brasil, também marcará presença, trazendo a riqueza da música caribenha, especialmente ritmos cubanos como son montuno, salsa, bolero e chá-chá-chá, buscando preservar e reinterpretar clássicos da música latina, respeitando suas tradições e sonoridades.
A 7ª edição da FLIMA também proporcionará rodas de conversa abordando a migração, como a roda “Quando os Prédios Começaram a Cair: Deslocamentos e Pertencimentos em Tempos de Crise”, o lançamento e bate-papo “Yalla, yalla: a construção de um livro a partir das Vozes das Crianças do Campo de Refugiados de Mbera-Mauritânia” e a roda “Das Dores: Por uma escrita sociológica biográfica com as pessoas em situação de rua e migrantes”. Entre os participantes, estão nomes como Mauro Paz, Silvana Bezerra Magalhães, Lidiane Maciel, Maria das Dores de Oliveira e Marília Goulart Silva.
O que é a FLIMA
Instalada em Santo Antônio do Pinhal (SP), no coração da Serra da Mantiqueira e da sua Área de Proteção Ambiental, a Festa Literária da Mantiqueira celebra a literatura como experiência viva e coletiva. O festival promove encontros que unem literatura, arte e educação para refletir sobre os desafios e possibilidades do nosso tempo, reunindo diversas vozes e homenageando, a cada edição, um autor brasileiro contemporâneo.
Desde sua criação, em 2018, a FLIMA aposta em uma curadoria que valoriza a diversidade, a inclusão e o diálogo com diferentes públicos, sem abrir mão da qualidade artística. Para ampliar a participação, o festival adota, desde 2022, a seleção de parte da programação por meio de editais públicos — voltados a propostas literárias e artísticas para públicos adultos e infantojuvenis.
Nas suas seis primeiras edições a FLIMA realizou mais de 400 atividades, alcançando cerca de 60 mil participantes. O festival já recebeu nomes importantes da literatura e do pensamento contemporâneo, como Ana Maria Machado, Conceição Evaristo, Eliane Brum, Itamar Vieira Junior, José Eduardo Agualusa, Lilia Schwarcz, Sidarta Ribeiro, entre outros.
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