O sacerdote apelidado de “Pai e Apóstolo dos Migrantes” agora é oficialmente um dos santos reconhecidos pela Igreja Católica. João Batista Scalabrini, que já era beato, foi canonizado em cerimônia no domingo (9), no Vaticano.
É do agora santo que vem uma das frases mais famosas da área das migrações, “Para o migrante, a pátria é terra que lhe dá o pão”. O dia dedicado à sua memória passa a ser 1º de junho, mesma data de seu falecimento, em 1905.
O anúncio da canonização foi feito em maio passado. Ela se deu justamente em meio às celebrações pelos 25 anos da beatificação de Scalabrini, ocorrida em 9 de novembro de 1997. Por ocasião da data, em 7 de novembro de 2021 foi lançado o “Ano Scalabriniano”.
Além do bispo italiano, também foi canonizado outro compatriota, Artêmides Zatti (1880-1951). Enfermeiro e religioso salesiano, durante cinquenta anos se dedicou a cuidar dos pobres e doentes de Viedma, na Argentina. Era beato desde 2002.
Recado à comunidade internacional
A canonização de Scalabrini representa um recado do Papa Francisco, bem como da Igreja Católica, à questão migratória no mundo. Durante a cerimônia, o pontífice lembrou que a formação da Igreja tem relação com perseguições e migrações forçadas, e que é dever da instituição ser “instrumento de paz e comunhão entre os povos”.
“Neste momento, aqui na Europa, há uma migração, que nos faz sofrer tanto e nos impele a abrir o coração: a migração de ucranianos que fogem da guerra. Não esqueçamos hoje a martirizada Ucrânia! Scalabrini olhava mais além, olhava lá para diante, para um mundo e uma Igreja sem barreiras, sem estrangeiros”, afirmou o papa Francisco.
A questão migratória tem sido um dos temas recorrentes do pontificado de Francisco, ele próprio um argentino filho de imigrantes italianos. Entre as ações já realizadas pelo Pontífice estão visitas à ilha italiana de Lampedusa, tradicional ponto de chegada de migrantes que chegam à Europa a partir das travessias pelo mar Mediterrâneo; visitas a campos de refugiados na Grécia; e a inclusão destes em cerimônias da Semana Santa, como na celebração do Lavapés.
Francisco ainda chamou de escandalosa a postura assumida pela grande maioria dos países mundo afora a respeito das migrações, destacando o cenário europeu.
“Hoje, no dia em que Scalabrini se torna santo, gostaria de pensar nos migrantes. A exclusão dos migrantes é escandalosa. Aliás, a exclusão dos migrantes é criminosa, faz com que morram diante de nós. E assim, hoje temos o Mediterrâneo que é o maior cemitério do mundo. A exclusão dos migrantes é nojenta, é pecaminosa, é criminosa. Não abrir as portas para quem precisa… “Não os excluímos, os mandamos embora”, para os campos de concentração, onde são explorados e vendidos como escravos. Irmãos e irmãs, hoje pensamos em nossos migrantes, aqueles que morrem e aqueles que são capazes de entrar. Nós os recebemos como irmãos ou os exploramos? Deixo esta pergunta”.
O recado à Igreja e à comunidade internacional se torna ainda mais claro pelo fato de a canonização de Scalabrini ocorrer sem a necessidade de comprovação de um segundo milagre, conforme padrão da Igreja Católica.
“Scalabrini santo é um convite a reconhecermo-nos todos como migrantes no mundo e reconhecer nos migrantes pessoas que fazem parte da família universal”, afirmou o Superior-geral dos Scalabrinianos, Padre Leonir Chiarello.
Quem foi o Santo Scalabrini
João Batista Scalabrini nasceu em nasceu em Fino Mornasco, na Província de Como (Itália), no dia 8 de Julho de 1839. Foi ordenado sacerdote em maio de 1863 e aos 36 anos assumiu o cargo de bispo de Piacenza, que exerceu até sua morte, em 1º de junho de 1905.
Entre outras atividades paroquiais e diocesanas, acompanhou de perto e com preocupação a situação dos italianos que deixavam a zona rural em direção às grandes cidades e a outros países longe da Europa, em meio ao avanço e transformações que a Revolução Industrial gerava no continente europeu. Com a aprovação de Leão XIII, no dia 28 de Novembro de 1887 fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos), para a assistência religiosa, moral, social e legal dos italiano emigrados. Com a mesma finalidade, também fundou, em 1895 fundou, a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos, e abriu o campo da emigração também para as Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração.
Em 1904, o bispo de Piacenza esteve no Brasil, em visita às instituições scalabrinianas de apoio aos italianos emigrados, em São Paulo, Rio e Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. Até hoje as entidades criadas e conduzidas sob a inspiração de Scalabrini figuram entre as referências na acolhida e atendimento a imigrantes mundo afora, incluindo o Brasil.
“Devido ao seu amor para com os pobres, e em particular para com os emigrantes, fezse apóstolo dos numerosos concidadãos obrigados a emigrar, com frequência em condições difíceis e com o perigo concreto de perder a fé: foi para eles pai e guia seguro”, afirmou o Papa João Paulo 2º na cerimônia em que Scalabrini foi declarado beato, em 9 de novembro de 1997.
Em artigo divulgado no último dia 16 de maio sobre o legado de Scalabrini, o colunista do MigraMundo e vice-presidente do SPM (Serviço Pastoral dos Migrantes), o padre e missionário scalabriniano Alfredo J. Gonçalves apontou o bispo italiano como um grande profeta e protagonista do seu tempo.
“Enquanto profeta, denunciou com veemência os maus agentes da migração como “comerciantes de carne humana”. Ao mesmo tempo, porém, foi capaz de entrever nos fenômenos migratórios um sinal dos tempos, verdadeiro anúncio da Boa Nova do Evangelho, na exata medida em que podem contribuir pra o encontro, o diálogo, o enriquecimento de distintos povos e culturas”.
Com informações do portal Vatican News
[…] No site MigraMundo, a Canonização de Scalabrini ganhou espaço em um texto que retrata a importância da obra pastoral de Scalabrini e sua relevância ainda hoje no mundo das migrações, destacando a conhecida frase de Scalabrini: “Para o migrante, a pátria é terra que lhe dá o pão”. Confira o texto no link: migramundo.com/pai-e-apostolo-dos-migrantes-joao-batista-scalabrini-agora-e-oficialmente-santo-da-ig… […]