Um misto de tristeza e gratidão pautou as manifestações de entidades e indivíduos que atuam junto às migrações a partir da morte do Papa Francisco, ocorrida na manhã de segunda-feira (21).
O Pontífice, que faleceu aos 88 anos, teve a defesa da dignidade das pessoas migrantes como um dos marcos de seu papado (2013-2025). O primeiro ato simbólico do pontificado de Francisco, inclusive, foi uma visita à ilha de Lampedusa, onde jogou flores no mar em homenagem aos migrantes mortos em travessias.
A questão migratória esteve presente, incusive, na mensagem Urbi et Orbi, elaborada pelo próprio papa para a celebração de Páscoa e que passou para a história como a última manifestação de Francisco aos fiéis, lida por um auxiliar. “Quanta hostilidade é despertada, às vezes, contra os vulneráveis, os marginalizados e os migrantes! Neste dia, gostaria que todos nós renovássemos a esperança e revivêssemos a confiança nos outros, inclusive naqueles que são diferentes de nós, ou que vêm de terras distantes, trazendo costumes, modos de vida e ideias que nos são desconhecidos!”, diz trecho do pronunciamento.
O MigraMundo recordou algumas das principais ações que o Papa Francisco protagonizou em favor das pessoas migrantes ao longo de seu pontificado, incluindo a canonização do “Pai e Apóstolo dos migrantes” e as críticas aos governos que perseguem e hostilizam os que se encontram em mobilidade.
Líder corajoso
Além de grandes líderes globais e instituições internacionais, a morte de Francisco também reverberou junto a agências da ONU, centros de pesquisa e entidades diversas com incidência sobre a temática migratória. Elas destacaram o papa como um líder corajoso, que a todo o momento chamava a atenção para o drama dos deslocamentos forçados e criticava a indiferença de governos nesse quesito.
Em nota oficial, o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) declarou que Francisco foi um “defensor incansável dos direitos e da dignidade das pessoas refugiadas, migrantes e deslocadas à força em todo o mundo”. A agência da ONU lembrou ainda das idas do Pontífice a locais como Lampedusa, Grécia, Chipre e outros lugares com incidência significativa de refugiados e seus apelos à comunidade internacional para que não virem as costas àqueles que são forçados a abandonar seus países.
“Ao longo de seu pontificado, o Papa Francisco utilizou sua autoridade moral única para pedir aos governos e à comunidade internacional como um todo que acolham, protejam, promovam e integrem as pessoas refugiadas na sociedade — especialmente em um momento em que sua situação desesperadora é frequentemente enfrentada com barreiras, rejeição e medo. Ele também se comprometeu com a causa do meio ambiente e da natureza”.
Outra agência da ONU, a OIM (Organização Internacional para as Migrações) também destacou o forte engajamento de Francisco em torno da temática migratória – a começar pela visita a Lampedusa ainda no começo do papado, na qual denunciou o que chamou de “globalização da indiferença” e exortou o mundo a não desviar o olhar do sofrimento humano.
“Sua voz clara e corajosa lembrou ao mundo nossa humanidade compartilhada e a urgência de agir. Seu profundo envolvimento com as realidades das pessoas em movimento deixou uma marca duradoura nos esforços globais para promover uma migração segura, digna e humana”, disse a OIM.
“Seu legado perdurará e sua voz continuará a ser ouvida, lembrando ao mundo o chamado do Evangelho para ‘acolher o estrangeiro’. Que ele descanse em paz”, citou o Center for Migration Studies, de Nova York (EUA), que recordou Francisco como um ferrenho defensor dos direitos dos migrantes, dos refugiados e das vítimas de tráfico de pessoas.
Agradecimentos e legado
A Missão Paz, entidade ligada à ordem católica scalabriniana e referência no atendimento e orientação a migrantes em São Paulo, citou Francisco como uma pessoa “simples, autêntica, espontânea, corajosa, atenta e sensível às pessoas que vivem nas periferias geográficas e existenciais. “Nossa gratidão, especialmente pela constante atenção de Francisco aos migrantes e refugiados, expressada com gestos concretos e palavras sempre corajosas e fraternas”.
Também de inspiração scalabriniana, o IMDH (Instiuto Migração e Direitos Humanos) expressou que Francisco ensinou que “a fé não se fecha em muros, mas caminha com os pés descalços dos que cruzam fronteiras em busca de vida” e que sua presença foi “farol e confirmação” da missão da entidade, que é de acolhida, promoção, integração e proteção das pessoas migrantes.
A Cáritas Arquidiocesana de São Paulo disse ter “esperança de que as sementes plantadas por ele [Francisco] sob as bênçãos do Espírito Santo, não só na Igreja, mas no mundo, nos manterão no caminho do anúncio e da caridade”. Na mesma linha, a Caritas Brasileira destacou que o legado do Pontífice permaneceá vivo em cada gesto de solidariedade e em cada comunidade que acolhe aos que mais precisam.
“Sua mensagem de inclusão e acolhimento foi fundamental para os imigrantes e refugiados, que muitas vezes enfrentam desafios e obstáculos em suas jornadas. O Papa Francisco sempre enfatizou a importância de tratar todos com dignidade e respeito, independentemente de sua origem ou situação. Nossa Solidariedade e nossos pensamentos e orações estão com os fiéis católicos e todos aqueles que foram inspirados pela liderança e mensagem do Papa Francisco. Sua partida deixa um vazio, mas seu legado de amor e compaixão permanecerá conosco”, salientou o CAMI (Centro de Apoio e Pastoral do Migrante).
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