No Brasil e em mais de 80 países comemora-se neste 1º de maio o Dia do Trabalho. E em especial para aqueles que acompanham o noticiário e as demandas relacionadas às migrações, é impossível não lembrar dos milhões de homens e mulheres que deixaram ou pensam em deixar a terra natal em busca de melhores oportunidades de vida.
“Nesse Dia do Trabalho, não consigo deixar de lembrar dos quase 30% de cidadãos que não têm trabalho na Espanha, entre os quais muitos jovens, e dos também muitos jovens imigrantes haitianos que têm chegado ao Brasil buscando o trabalho que seu país ainda não tem possibilidade de oferecer. Minha homenagem vai para esses resilientes e sobreviventes da precariedade e desigualdade globais”, disse a professora Denise Cogo, especialista em comunicação e migrações e uma das organizadoras do Guia das Migrações Transnacionais e Diversidade Cultural para Comunicadores – Migrantes no Brasil.
Migrar é um direito e uma atividade exercida pelo ser humano desde o princípio da história, ainda que tantas pessoas e governos não concordem com essa concepção. E a questão econômica é um dos principais motores das migrações locais e internacionais. Como bem lembra a professora, os migrantes são vítimas, testemunhas oculares e sobreviventes da precariedade e das desigualdades neste mundo.
O documentário “Por um Punhado de Dólares – Os Novos Emigrados” ajuda a dar uma ideia dessa economia global movida, direta ou indiretamente, pelo trabalho dos migrantes mundo afora. Mas o longa vai além da questão meramente econômica e das estatísticas. Ele tem como grande diferencial mostrar o preço que muitos desses indivíduos acabam pagando pela ousadia de deixar uma zona de conforto (ainda que mínima ou questionável, de acordo com os padrões de cada local) em troca de buscar uma melhor condição de vida, seja para si como para seus familiares.
Trabalho e punhados de dólares estes que tantas vezes são obtidos e exercidos em condições degradantes, de subemprego, devido a situações de fragilidade diversas – seja do ponto de vista psicológico, trabalhista, social, jurídico de cada região ou país… Ainda assim, os migrantes vencem medos, suportam dificuldades e preferem tentar do que ficarem com a sensação de imobilidade, de inércia perante uma realidade que anseiam em mudar.
Neste Primeiro de Maio e em todos os demais, é preciso lembrar também dessas pessoas que não movimentam apenas dinheiro e bens de consumo, mas também vidas inteiras – as próprias e as que delas dependem, direta ou indiretamente. E entendendo tais indivíduos, que são e devem ser vistos como parte da sociedade (local ou global), fica mais fácil entender um assunto tão complexo como a questão migratória.
O mais cético pode ainda se perguntar: por que deveria eu refletir sobre migrações e migrantes se não sou um migrante? A resposta é: você pode não ser agora, mas qual a garantia de que, em um futuro próximo ou distante, você não terá ou desejará se deslocar para outro lugar?
Migrantes e trabalhadores de ontem, de hoje e de amanhã, este dia também é de reflexão e homenagem a todos vocês.