O ano de 2024 foi que mais registrou mortes em rotas migratórias, com 8.938 casos confirmados em todo o mundo. O dado foi divulgado nesta sexta-feira (21) pela OIM (Organização Internacional para as Migrações) e é o mais alto desde que esse levantamento começou a ser feito, em 2014, por meio do programa Missing Migrants Project.
A Agência da ONU para as Migrações, como a OIM também é conhecida, reconhece que o dado real pode ser ainda maior, pois muitas das mortes não são registradas. No entanto, ele já é suficiente para superar o recorde anterior, que havia sido alcançado no ano anterior (2023), quando foram reportadas 8.747 mortes em travessias. Com o resultado, fica mantida uma série de altas crescentes que vem ocorrendo ano após ano desde 2020, auge da pandemia de Covid-19, quando os óbitos atingiram seu nível mais baixo.
Pela primeira vez, o mar Mediterrâneo não aparece como a rota migratória mais letal, sendo superado pela Ásia. Um exemplo recente desse crescimento foi o naufrágio de quatro embarcações entre o Djibouti, na África, e o Iêmen, no sul do Oriente Médio, deixando mais de 180 mortos e desaparecidos.
A OIM esclarece que os dados finais para a região das Américas ainda não estão disponíveis (o que incluem a selva de Darién, entre o Panamá e a Colômbia, rotas marítimas no Caribe, e travessias terrestres até o México). Segundo a entidade, até 20 de março haviam sido registradas 1.233 mortes.
“A tragédia do número crescente de mortes de migrantes em todo o mundo é tanto inaceitável quanto evitável. Por trás de cada número há um ser humano, alguém para quem a perda é devastadora”, disse a Diretora-Geral Adjunta de Operações da OIM, Ugochi Daniels. “O aumento das mortes em tantas regiões do mundo mostra por que precisamos de uma resposta internacional e holística que possa evitar mais perdas trágicas de vidas.”
Julia Black, coordenadora do Missing Migrants Project, complementa. “Além do desespero e das questões sem resposta enfrentadas pelas famílias que perderam um ente querido, a falta de dados mais completos sobre os riscos enfrentados pelos migrantes dificulta respostas que poderiam salvar vidas.”
Mais mortes, menos recursos
O crescimento das mortes e desaparecimentos em rotas migratórias ocorre em um cenário em que as Nações Unidas fazem apelo por mais recursos, diante das quedas e suspensões no repasses de recursos por Estados-membros.
A própria OIM, que contabiliza os dados de mortes por meio do Missing Migrants Project, confirmou nesta semana que fará um corte de 20% no quadro de funcionários na sede da entidade, em Genebra (Suíça), para se adequar ao orçamento de 2025. A projeção da agência é de um valor 30% menor que o do ano passado. Além disso, também mencionou que operações serão revistas em todo o mundo, afetando pessoas assistidas direta ou indiretamente pela entidade.
Outra agência das Nações Unidas envolvida com a temática migratória, o ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) fez um apelo recente à comunidade internacional para que “cumpra seus compromissos com as pessoas deslocadas”.
“Não se trata apenas de uma escassez de fundos: é uma crise de responsabilidade. O custo da inação será medido em sofrimento, instabilidade e futuros perdidos. Agora é o momento da solidariedade, não do recuo”, salientou Filippo Grandi, chefe do ACNUR.
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