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quarta-feira, março 19, 2025

Migrantes desaparecem em rota entre o Chifre da África e o Iêmen; ONU faz apelo por recursos

Naufrágios que ocorrem entre a África e o Iêmen mostram que as mortes de migrantes em travessias marítimas vão além das que são noticiadas no mar Mediterrâneo

Enquanto a rota pelo Mar Mediterrâneo costuma concentrar as atenções da comunidade internacional, outros caminhos igualmente perigosos continuam a ser palco de tragédias que levam à morte os migrantes que nelas se arriscam. Um fato que ficou evidente mais uma vez por um novo naufrágio de quatro embarcações entre o Djibouti e o Iêmen, ocorridos entre quinta (6) e sexta-feira (7) e que deixaram 180 desaparecidos e uma pessoa já confirmada como morta.

Segundo informações da Agência da ONU para as Migrações (OIM), há pouca esperança de que os demais migrantes sejam encontrados com vida.

As embarcações saíram do Djibouti, país localizado na região conhecida como Chifre da África, em direção ao Iêmen, já no sul da Peninsula Arábica. Além da fragilidade dos barcos, os naufrágios foram motivados pelas condições climáticas ruins na região, com ondas e ventos fortes.

De acordo com relatos de pessoas que chegam aos Pontos de Resposta para Migrantes no Iêmen, os traficantes estão se tornando cada vez mais imprudentes, enviando deliberadamente embarcações para condições perigosas a fim de evitar patrulhas.

“Esses últimos naufrágios são um lembrete contundente dos graves perigos que os migrantes enfrentam em busca de um futuro melhor”, disse Abdusattor Esoev, chefe de missão da OIM no Iêmen. “Os traficantes continuam a jogar com vidas humanas, forçando pessoas a embarcarem em jornadas perigosas, apesar dos avisos claros sobre as condições climáticas. Há uma necessidade crítica de proteção adequada e alternativas seguras para os migrantes. Sem uma ação urgente, mais vidas poderão ser perdidas e mais famílias ficarão enlutadas.”

Desde 2014, o Missing Migrants Project, mantido pela OIM, já registrou mais de 3.400 mortes e desaparecimentos ao longo dessa travessia, incluindo 580 mulheres e 100 crianças.

Ainda segundo o projeto mantido pela OIM, até esta sexta-feira (7) eram 73.510 migrantes mortos ou desaparecidos em diferentes rotas por terra ou mar desde 2014. A própria agência da ONU, no entanto, admite que os números reais devem ser ainda maiores, dado que certos naufrágios e outras tragédias sequer chegam a ser reportadas.

Por que o Iêmen?

Em junho de 2024, o MigraMundo destacou que um naufrágio nessa rota migratória do Mar Vermelho/Golfo de Áden deixou 49 mortos e outros 150 desaparecidos, mostrando que as fatalidades em travessias vão muito além das que já ceifam milhares de vidas no mar Mediterrâneo, entre o norte da África e o sul da Europa

Apesar dos perigos, mais de 60 mil migrantes chegaram ao Iêmen apenas no ano passado por meio da chamada Rota Oriental. Atualmente, estima-se que cerca de 380 mil migrantes estejam no Iêmen, mesmo diante do conflito armado que assola o país desde 2014.

O objetivo final para muitos deles é alcançar países mais prósperos, como Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico, onde esperam encontrar oportunidades de trabalho, especialmente nos setores de construção civil ou serviços domésticos.

Os perigos não cessam depois de superada a travessia marítima. Em agosto de 2023, a Human Rights Watch acusou os guardas de fronteira sauditas de estarem envolvidos na morte de centenas de migrantes etíopes que tentavam atravessar a fronteira do Iêmen para a Arábia Saudita entre março de 2022 e junho de 2023. Em resposta, Riad refutou as conclusões do relatório da ONG, argumentando que estas não se baseavam em fontes confiáveis.

Apelo por recursos

Ao informar sobre a tragédia no Iêmen, a OIM também fez um apelo diante dos cortes de recursos para ajuda humanitária internacional realizados pelos Estados Unidos – a agência, contudo, não faz menção ao país.

“Com os cortes de financiamento impactando gravemente os esforços humanitários, a OIM teme que mais migrantes fiquem indefinidamente presos no Iêmen, com pouco acesso a comida, abrigo ou atendimento médico”.

Nesta semana, a ONU anunciou a liberação de US$ 110 milhões para garantir assistência vital a mais de 300 milhões de pessoas no mundo, no âmbito do Cerf – sigla para Fundo Central de Resposta a Emergências. O recurso visa auxiliar a resposta humanitária nas 10 crises consideradas mais subfinanciadas no planeta no momento.

Segundo a ONU, um terço desse montante vai para o Sudão, que atravessa uma crise generalizada, marcada por conflitos armados, deslocamentos forçados e fome. Também estão previstos para serem contempladas pelo recurso as crises em curso no Afeganistão, República Centro-Africana, Honduras, Mauritânia, Níger, Somália, Venezuela e Zâmbia.

No final de 2024, o Iêmen esteve entre os países destinatários de um outro montante de US$ 110 milhões liberado pela ONU, que atendeu também crises humanitárias em Burkina Fasso, Burundi, Camarões, Etiópia, Haiti, Malauí, Mali, Moçambique e Mianmar.

Para este ano, o valor solicitado para atuação junto a crises humanitárias pela ONU neste ano foi de US$ 45 bilhões. No entanto, apenas 5% desse financiamento foi recebido até o momento, tanto de Estados-membros das Nações Unidas quanto do setor privado e de outras partes.

Com informações da OIM e ONU

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