No dia 28 de maio, completaram-se 600 dias desde que o Hamas realizou um ataque surpresa ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, atravessando com facilidade uma fronteira que deveria estar fortemente vigiada. O ataque resultou na morte de 1.200 pessoas e no sequestro de 251 civis, marcando o início de uma das fases mais sangrentas do conflito israelo-palestino. E uma luz no fim do túnel parece cada vez mais distante
Desde o 7 de outubro, a resposta militar de Israel devastou a Faixa de Gaza. Segundo o Instituto Nacional de Estudos de Segurança, mais de 20 mil combatentes do Hamas foram mortos, incluindo praticamente toda a sua liderança conhecida. A infraestrutura militar do grupo — como túneis, centros de produção de armas e arsenais de mísseis — foi quase totalmente destruída.
Contudo, o custo humanitário é imenso. Mais de 54 mil palestinos foram mortos, a grande maioria civis (incluindo mulheres e crianças), e grande parte de Gaza foi reduzida a escombros. Outras projeções apontam ainda que o número de vítimas pode ser ainda maior, considerando pessoas desaparecidas ou que potencialmente estão soterradas sob escombros de antigas edificações. Apesar do enfraquecimento do Hamas, o Irã continua tentando fornecer armas e apoio financeiro a seus aliados na região.
Ajuda humanitária?
Após um cessar-fogo acordado em janeiro, Israel retomou suas ofensivas em 18 de março. Dois dias depois, o Hamas respondeu com ataques e se disse disposto a negociar a libertação de todos os reféns e um cessar-fogo permanente, desde que Israel se retire completamente de Gaza.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no entanto, rejeitou a proposta, insistindo que só aceita um cessar-fogo temporário em troca da libertação dos reféns. Ele reforçou que a guerra continuará até a “erradicação total” do Hamas.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA) declarou Gaza como “o lugar mais faminto do mundo”. Apesar da autorização de Israel para a entrada de 900 caminhões com ajuda, apenas 600 conseguiram chegar às fronteiras, devido a obstáculos burocráticos e de segurança.
Jens Laerke, porta-voz da UNOCHA, afirmou que “as operações de ajuda humanitária em Gaza são hoje uma das mais obstruídas da história recente”. A escassez é tamanha que a maior parte dos suprimentos entregues consiste apenas em farinha, enquanto a população corre risco iminente de fome generalizada.
O prolongamento da guerra e o alto número de vítimas civis levaram Israel a perder apoio de aliados tradicionais e sofrer crescentes críticas internacionais. António Costa, presidente do Conselho Europeu, afirmou que “a autoridade moral de Israel está desaparecendo”, destacando que a resposta israelense se tornou desproporcional. Líderes como o chanceler alemão Friedrich Merz também se posicionaram contra a condução do conflito, declarando que “o combate ao Hamas não justifica a tragédia humanitária que estamos assistindo”. Costa ainda defendeu uma solução de dois Estados e a reconstrução de Gaza com apoio da União Europeia e da Liga Árabe.
Apelos por reféns e memória dos 600 dias
No marco de 600 dias desde o início da guerra, familiares de reféns realizaram um ato em Tel Aviv, lembrando que 58 pessoas seguem em poder do Hamas. Na praia, ativistas formaram uma faixa amarela em homenagem às vítimas.
Boaz Zalmanovich, filho do ex-refém Arye Zalmanovich, pediu publicamente ajuda a Donald Trump: “Você é o único que pode agir para interromper a guerra de vingança e garantir o retorno de todos — tanto os vivos para a reabilitação quanto os mortos para o enterro”.
Seiscentos dias após o ataque que reacendeu um dos conflitos mais antigos do mundo, a esperança por uma solução parece cada vez mais frágil. A devastação de Gaza, o sofrimento de civis palestinos e israelenses e a erosão do apoio internacional colocam em xeque não apenas estratégias militares, mas os próprios valores e princípios que deveriam nortear as ações de um Estado democrático. O futuro da região dependerá não apenas de cessar-fogos, mas da coragem política de construir, enfim, um caminho viável para a paz.
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