Por Cáritas RJ – texto e fotos
“Deixei meu país em plena guerra, mataram meu irmão na minha frente.”
Harouna nasceu na República Centro-Africana, onde um conflito político-religioso já matou e deslocou milhares de pessoas desde 2012. Como o país não tem recursos naturais importantes, pouco se fala ou se faz para dar um fim à violência. É rara a chegada de centro-africanos ao Brasil. A história de Harouna é muito peculiar. Primeiro ele buscou proteção em Camarões, mas as notícias de rebeldes atravessando a fronteira o levaram a arriscar uma viagem rumo à Europa. Após percorrer 5.000km até o Marrocos (o equivalente a uma viagem de ida e volta entre Rio e Fortaleza), ele teve que retornar a Camarões. Ainda em perigo, decidiu entrar despercebido em um navio comercial que vinha para o Rio.
“No primeiro dia, fingi que era um funcionário. Quando anoiteceu, desci para a casa de máquinas com minha mochila, onde tinha comida. Fiquei seis dias escondido. Minha comida acabou, mas resisti por mais cinco dias. Depois tive que subir e me revelar. O capitão me prendeu em uma sala, mas consegui escapar e subir ao convés. Dava para ver a estátua do Cristo. Sabia que estava no Rio de Janeiro. Subi num mastro e disse que, se ele não chamasse a polícia, eu iria me atirar e ele seria preso. Ele chamou a Polícia Federal. A Polícia chegou, mas eu não acreditei, achei que era máfia. Fiz o cara subir e me mostrar o distintivo.”
Após ser trazido à Cáritas RJ pela PF, Harouna recebeu orientação sobre como solicitar refúgio no Brasil. A entrada irregular no país não anula seu direito ao refúgio. Enquanto aguarda a resposta do governo, ele aprende português e, como qualquer pessoa, faz planos para o futuro.
“Sei que vou realizar muitas coisas aqui. Porque não bebo, não fumo, não me drogo. Quero ter uma vida normal, com esposa e filhos. A África é um continente rico em tudo, mas os governos continuam fazendo a guerra. Tem que parar com isso. Pegar um navio e cruzar o mar é muito difícil. Quando as pessoas fazem isso é porque as coisas não estão bem. Não é possível parar esse movimento. As pessoas sempre vão querer sair enquanto houver conflitos.”
Material reproduzido pelo MigraMundo pela parceria de conteúdo com a Cáritas RJ, na qual é autorizado a divulgar e reproduzir as histórias de refugiados acolhidos pela entidade. Com isso, a ideia é ajudar ampliar o máximo possível a divulgação do tema do refúgio no Brasil, que infelizmente ainda é bastante desconhecido.
Texto publicado originalmente na página da Cáritas RJ no Facebook.