Atualizado às 9h05 de 24.03.2020
Além da incerteza que afeta brasileiros que tentavam voltar do Peru, outros grupos vivem situação semelhante em diferentes países mundo afora diante dos voos cancelados e fechamentos de fronteira na tentativa de resposta à pandemia de coronavírus.
Na África do Sul, dezenas de brasileiros tentam no aeroporto internacional Oliver Tambo, em Joanesburgo, uma oportunidade de retornar ao Brasil.
Segundo estimativa divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, há 11 mil brasileiros que tentam retornar ao país. Desses, 250 estão na África do Sul, de acordo com a representação consular na capital, Pretória.
A empresária Naiade Granatelli, 31, de São Paulo, está nesse grupo. Ela partiu de férias no começo do mês para a Cidade do Cabo, quando ainda haviam voos regulares entre os dois países. Ela tem divulgado vídeos nas redes sociais e pelo WhatsApp narrando a situação.
Há cinco dias ela faz contato com representações diplomáticas do Brasil na África do Sul. Do Consulado na Cidade do Cabo, no entanto, a resposta foi desanimadora.
“Enquanto as fronteiras estiverem abertas [não há impedimento oficial do Brasil à chegada de voos da África do Sul até o momento], a embaixada instrui que os brasileiros busquem remarcar seus voos ou adquirir bilhetes em companhias que ainda estão operando. A embaixada não está capacitada para realizar remarcações individuais de voo”, declarou a representação.
A África do Sul já registra ao menos 240 casos do chamado Covid-19.
Apreensão e ceticismo
A companhia aérea local South African Airways suspendeu seus voos internacionais até o final de maio. Foi justamente por ela que Naiade viajou ao país e pretendia voltar ao Brasil.
“Estamos desamparados por essa empresa”, resumiu a empresária.
Outros brasileiros também estão no aeroporto de Joanesburgo aguardam uma definição de outras companhias, como a Latam. A empresa chileno-brasileira cancelou o voo previsto para o último domingo (22). Há uma expectativa a respeito do próximo, marcado para o dia 27.
Na tentativa de resolver a situação, Naiade apostou na ida a Joanesburgo, de onde saem os voos diretos do país com o Brasil. De lá gravou novos vídeos e passou a fazer contato com a Embaixada brasileira, que fica em Pretória.
Alguns passageiros em Joanesburgo procuram voos para Dubai, na esperança de conseguir retornar pelo país do Oriente Médio. A manobra, além de cara, não traz nenhuma garantia de sucesso.
Naiade chegou a cogitar essa possibilidade, mas descartou. Ela própria só está no mesmo hotel destinado aos passageiros da Latam por pressão desses colegas. Cerca de 80 brasileiros estão nesse local.
“Não sei por quanto tempo poderei ficar, nem se terei de pagar por esse período aqui”, relatou a empresária.
Além da apreensão sobre a volta, Naiade relata descrença por parte dos brasileiros sobre os meios de comunicação.
“Eles acham que a mídia não vai ajudar muito. E muitos não querem aparecer por medo de assustar a família no Brasil.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a Latam informou que os voos foram cancelados porque o espaço aéreo sul-africano está fechado.
“A companhia está em contato com diversas autoridades do Brasil e de outros países para analisar a viabilidade da repatriação de seus clientes que não conseguiram retornar aos seus países de origem”, disse.
Segundo a Latam, a companhia ajudou no repatriamento de 3.370 pessoas entre os dias 19 e 21 de março, e estima que o número deve chegar a 7.000 nesta segunda-feira (23).
A companhia ativou um formulário no site para que passageiros no exterior preencham com seus dados. E afirma entrará em contato com os passageiros progressivamente à medida que a data dos voos especiais de repatriação se aproximar”.
Além da Latam, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) também disponibilizou desde domingo (22) um formulário de cadastro para passageiros com passagem comprada e que estão com dificuldades para retornar ao Brasil.
“Com as informações coletadas pela ANAC, as autoridades brasileiras seguirão com os esforços para ajudar a viabilizar os brasileiros que tiveram seus voos cancelados em países que estão com restrições para deslocamento aéreo”, diz a agência.
A Embaixada do Brasil em Pretória informou que está monitorando o caso.
“O serviço consular está registrando todos os brasileiros nessa situação, com vistas a ser informado de eventuais situações de emergência ou desvalimento, ao mesmo tempo que buscado interceder e obter informações junto às companhias aéreas sobre a realização dos vôos. Da mesma forma, o MRE estabeleceu gabinete de crise, em Brasília, que recebe todas as informações obtidas pela Embaixada e, em cooperação com a ANAC e outros órgãos, tem buscado junto às companhias aéreas encontrar soluções que permitam o retorno dos brasileiros”.
*Venha ser parte do esforço para manter o trabalho do MigraMundo! Veja nossa campanha de financiamento recorrente e junte-se a nós: https://bit.ly/2MoZrhB
*Gostaria de receber notícias do MigraMundo diretamente em seu WhatsApp? Basta acessar este link e entrar em nosso grupo de distribuição de conteúdo