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quarta-feira, dezembro 11, 2024

Campo de Yarmouk na Síria: entre o martelo da fome e a bigorna do extremismo

Este texto foi publicado originalmente no Global Voices em Português, com o qual o MigraMundo tem parceria de conteúdo

Um sírio-palestino comendo o que encontrou no lixo. Fotografia 2015/03/03 por LensDimashqi on Tumblr. Usada sob CC.BY. 2.0
Um sírio-palestino comendo o que encontrou no lixo. Fotografia 2015/03/03 por LensDimashqi on Tumblr. Usada sob CC.BY. 2.0

Texto e tradução para o Português por Rami Alhames

Um total de 18.000 refugiados palestinos que vivem em “condições desumanas” no Campo de Refugiados Yarmouk, em Damasco, capital da Síria, estão presos entre o martelo da fome e a bigorna do extremismo.

Bombardeados pelo regime sírio e desde 1 de abril sob o ataque de ISIS (sigla em inglês para Estado Islâmico), os refugiados palestinos estão há quase dois anos sem água e com pouca comida. O campo está localizado a cerca de 10 quilômetros de distância do palácio presidencial, mas isso não impediu que o regime do presidente sírio Bashar Al Assad atirasse bombas sobre a população, que voltou para casa, onde não tem alimento, com medo de aventurar-se nas ruas cheias de extremistas armados. De acordo com notícias que circulam na mídia social, ISIS está prendendo, executando e decapitando pessoas do campo enquanto combatem com outros grupos armados da oposição.

Muitos ativistas culpam a invasão de ISIS ao exército do regime Assad, que lhes deu a oportunidade de invasão. Eles observam que num momento em que era impossível entrar alimentos e assistência médica ao campo de refugiados palestinos, as milícias do ISIS apareceram de repente dentro do campo.

O martelo: morrer de fome

“Para saber como é em Yarmouk, corte eletricidade, água, aquecimento, coma uma vez por dia, viva no escuro e viva queimando madeira.” – Anas, residente do Yarmouk.

De acordo com a Organização das Nações Unidas de Socorro e Agência de Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), esta é a situação de 18.000 refugiados palestinos entre os 160.000 que viviam no Campo de Yarmouk. Eles permanecem no campo sem uma distribuição bem sucedida de alimentos e outras ajudas emergenciais desde o dia 6 de dezembro de 2014. Ainda que as pessoas tenham ido às ruas em 18 de janeiro de 2015 para protestar contra o cerco imposto pelo regime de Assad iniciado em julho de 2013, a crise deixou pelo menos 200 pessoas mortas de fome.

Depois de um ano da publicação de um vídeo mostrando o desespero que é adistribuição de alimentos em Yarmouk, outro documentário intitulado “Cerco” surgiu do coração do campo em 3 de abril registrando o dia a dia em quatro peças que refletem como as pessoas sofrem com a falta de alimentos e de luz.

Outro vídeo postado no dia 6 de fevereiro de 2015 por Sami Al Silwadi mostra um refugiado palestino culpando seu governo por deixar o campo morrer de fome sem tomar medidas contra o regime do Assad. Em seguida, o vídeo mostra o que parece ser um caminhão distribuído pão às pessoas, jogando os pacotes no ar para um sortudo. O refugiado acusa o presidente palestino Mahmoud Abbas:

“Tudo isso é fome, Abbas. Você está em Ramallah e não sabe o que o seu povo palestino está sofrendo aqui. Milhares de pessoas estão com fome aqui. Onde você está com isso? Que vergonha”.

ISIS diz que está lá para ajudar os refugiados do Yarmouk. Mas isso o que eles estão fazendo.  Foto via @AlaaAllagta. Usada sob CC. BY 2.0
ISIS diz que está lá para ajudar os refugiados do Yarmouk. Mas isso o que eles estão fazendo.
Foto via @AlaaAllagta. Usada sob CC. BY 2.0

A bigorna: extremismo até morte

A partir de 1º de abril, informações das redes sociais confirmaram que as forças do ISIS entraram no Campo de Yarmouk e agora controlam 90% da sua área. Os internautas estão seguindo de perto as notícias estas notícias dramáticas. Os usuários do Twitter relataram que ISIS entrou no campo depois que a frente Al Nusra, uma afiliada da Al Qaeda no Levante, facilitou seu acesso a partir de Hajar Aswad, uma cidade vizinha.

https://twitter.com/Terror_Monitor/status/583237861735948290/photo/1

“Síria – ISIS controla a maioria do campo dos refugiados palestinos – #Yarmouk em Damasco: PLO (Organização para a Libertação da Palestina) confirmou”.

https://twitter.com/TheSyriaCmpgn/status/583336558499094529/photo/1

“Um ano após a reação do mundo para esses milhares de famintos sitiados em Yarmouk, ISIS entrou no campo”.

Tom Finn e Linah Alsaafin explicaram a entrada de ISIS e como eles se aproximaram de um campo de refugiados de uma cidade vizinha:

https://twitter.com/tomfinn2/status/583383488293945344/photo/1

“Linah Alsaafin e eu perguntamos a um jornalista dentro do campo de Yarmouk: como ISIS entrou em Damasco?”

Enquanto Talal Alyan compartilhou uma foto de dentro do campo:

https://twitter.com/talalalyan/status/583301546617774080/photo/1

“Uma foto de combatentes de Akhnaf do um amigo em Yarmouk, que foram repelindo o ataque do ISIS durante o dia todo”

Um mapa dos partidos que controlam o campo foi compartilhado por Rami Al Lolah para seus 16K seguidores no Twitter, mostrando a área fragmentada controlada entre ISIS, os grupos armados palestinos, FSA (Exército Sírio Livre), o exército de Assad e Al Nusra.

https://twitter.com/RamiAlLolah/status/584037471035457536/photo/1

“Mapa da situação militar no campo de Yarmouk ao sul de Damasco”

Os ativistas não esperaram muito tempo para relatar assassinatos horríveis cometidos pelo ISIS, como confirmou Raqqa_SI conformou aos seus 21K + seguidores:

“ISIS decapitando um monte de jovens no campo de Yarmouk e a coordenação da cidade de Yarmouk não publica as fotos por serem tão terríveis”.

Leia Também: The Situation in Yarmouk Refugee Camp has Reached Catastrophic Levels

Link original do texto no Global Voices em Português: http://pt.globalvoicesonline.org/2015/05/20/refugiados-yarmouk-siria-fome-morte/

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