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domingo, dezembro 22, 2024

Conflitos, crises e escassez de recursos geram refugiados e deslocados internos no Sudão

Conflito que afeta o Sudão desde abril segue gerando refugiados em países vizinhos e deslocados forçados internos; Organizações pedem resposta internacional

Por Flávia Gauger
Colaboração de Rodrigo Borges Delfim

Mais de um milhão de pessoas já foram obrigadas a deixar suas casas no Sudão desde que uma tentativa de golpe de Estado desencadeou um conflito armado que já deixou cerca de 1.800 mortos, segundo estimativas oficiais. Além do impacto interno, a crise também repercute sobre países vizinhos, nos quais sudaneses estão buscando refúgio.

De acordo com dados atualizados do ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados), são cerca de 1,2 milhão de deslocados forçados internos, além de 292 mil pessoas refugiadas em nações vizinhas. Egito (164 mil) e Chade (100 mil) foram os locais mais procurados. Além disso, quase 85 mil pessoas do Sudão do Sul que estavam refugiadas no Sudão já foram obrigadas a retornar ao país de origem.

O ACNUR informou que está trabalhando com seus parceiros para implementar planos de emergência nas nações fronteiriças para receber os solicitantes de refúgio. As Nações Unidas como um todo, por sua vez, anunciaram que precisam de US$ 3 bilhões para apoiar afetados pela crise humanitária no Sudão.

A precariedade do povo sudanês é ainda agravada pela escassez de alimentos, água e combustível, bem como pelo acesso restrito a energia, transporte e comunicações. Além disso, o preço do fornecimento de requisitos básicos continua subindo.

“O ACNUR e seus parceiros têm equipes de emergência no local e estão auxiliando as autoridades com suporte técnico, registrando chegadas, realizando monitoramento de proteção e fortalecendo a recepção para garantir que as necessidades urgentes sejam atendidas. Isto é só o começo. Mais ajuda é necessária urgentemente”, salientou Raouf Mazou, Alto Comissário Adjunto para Operações do ACNUR, ainda no mês de maio, em comunicado à imprensa.

Entenda o conflito

Desde o dia 15 de abril de 2023, acampamentos do exército sudanês em Cartum foram alvo de ataques pelas Forças de Apoio Rápido (RFS), desencadeando uma tentativa de golpe de estado. O general Abdel Fatah al Burhan, líder de fato da nação, comanda o exército, enquanto o general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como “Hemedti”, lidera as Forças de Apoio Rápido (RFS).

A ONU, que recomendou uma trégua humanitária em 17 de abril de 2023, expressou “extrema decepção” após essas ocorrências. O grupo também criticou a escalada das hostilidades, que coloca em risco ainda maior a estabilidade da região.

A truculenta transição de poder após a queda do presidente Omar al-Bashir em abril de 2019 é uma das causas dos conflitos no Sudão. Depois que protestos prolongados contra o então presidente, que estava no cargo desde 1989, eclodiram em dezembro daquele ano, o país passou por uma transição política significativa. Estas manifestações foram organizadas por uma combinação de partidos políticos e grupos da sociedade civil.

O Sudão teve dificuldade em implementar as mudanças estruturais e políticas necessárias durante o período de transição que dificultaram no alcance da democracia. Incerteza na economia, conflitos políticos internos e tensões entre as muitas partes participantes da transição.

A nação africana também teve que lidar com desafios regionais de governança e segurança, particularmente em áreas como Darfur e ao longo de suas fronteiras com o Egito e o Sudão do Sul, onde ocorreram conflitos étnicos e territoriais que levaram a deslocamentos populacionais significativos e à necessidade de ajuda humanitária.

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