A vida do boliviano Omar Castro Sanchez passou por grandes mudanças em menos de dois anos. Da chegada ao Brasil com a família em fevereiro de 2018, vítima de tráfico de pessoas, conseguiu superar tal realidade. E hoje ele ajuda na prevenção e combate ao problema do qual ele próprio foi alvo no passado recente.
“Quando passei pela fronteira com o Brasil sem passar pelo trâmite migratório eu percebi que tinha alguma coisa errada”, conta Castro, que é natural de cidade de Santa Cruz de la Sierra.
A busca por informações para sair da situação de tráfico de pessoas e exploração laboral em uma oficina de costura o levou ao CAMI (Centro de Apoio e Pastoral do Migrante). A entidade, que possui largo histórico de atuação contra essas práticas, foi fundamental para que Castro e sua família — a mulher e mais três filhos — fossem resgatados, em meados de 2019.
Uma vez livre, Omar optou por permanecer no Brasil e tentar uma nova história de fato no país. Para essa tarefa, também contou com as orientações da entidade para obter a documentação necessária e se regularizar no país.
Da oficina à ação social
Com a regularização, optou inicialmente por abrir uma pequena oficina de costura com a família. Mas uma nova mudança esperava por Omar meses depois.
No começo de 2020, Omar recebeu convite do CAMI para integrar a equipe da instituição. Ele aceitou a oferta de imediato e, desde fevereiro, trocou a máquina de costura pela função de agente social.
Dessa forma, Castro atua no trabalho de base da instituição, especificamente no setor de visitas às oficinas de costura. O objetivo é dialogar com donos de oficina de costura e seus funcionários imigrantes sobre conscientização de direitos humanos e deveres como cidadãos no Brasil — sobretudo a prevenção contra o trabalho análogo à escravidão.
“Isso mostra também que bolivianos podem fazer outras funções além da costura. Me sinto empoderado”, comenta Castro.
Em razão da pandemia, o fluxo de trabalho ganha limitações e o contato com as oficinas é feito basicamente por telefone. Para Castro, no entanto, é justamente nesse momento que a função de agente social se faz ainda mais necessária.
“Ligamos para as pessoas, checamos se elas precisam de ajuda, providenciamos cestas básicas em alguns casos. As coisas estão bem movimentadas por aqui”, resume.
Para Castro, o Dia Internacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas é uma data da maior importância, seja para conscientização contra esse crime, seja pela sensação de superação de um contexto de exploração.
“Essa data é muito importante. Tem muitas pessoas nessa situação e nos enche de orgulho poder ajudar toda essa gente. Ao ficar livre, você se sente empoderado”.
Sobre a data
O tráfico de pessoas é considerado um crime grave e uma séria violação dos direitos humanos. Segundo informações do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), ele movimenta anualmente cerca de US$ 30 bilhões e estima-se que cerca de 40 milhões de pessoas sejam vítimas dessa prática.
Em 2013, a Assembleia Geral da ONU aprovou o 30 de julho como Dia Internacional contra o Tráfico de Pessoas. Diversos países desenvolvem campanhas de conscientização nas proximidades dessa data.
No Brasil, a mobilização contra a prática é marcada pela campanha Coração Azul, coordenada pela ONU. O coração representa a tristeza das vítimas do tráfico humano e lembra da insensibilidade daqueles que compram e vendem outros seres humanos.
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