Atualizado às 12h20 de 5.mai.2020
Seja em atos coletivos ou individuais, as ações protagonizadas por imigrantes e refugiados em São Paulo em resposta à pandemia de coronavírus têm se destacado.
Dessa forma, tais mobilizações mostram sua força e valor, ao mesmo tempo que evidenciam as lacunas sociais e políticas no atendimento e nas formas de participação social dessa população.
A inclusão dos imigrantes nas discussões e na execução dessas respostas, inclusive, é apontada como uma saída não apenas para lidar com a questão do Covid-19, mas também para outras demandas diversas.
De cestas básicas a campanhas
Um desses grandes exemplos ocorreu no último domingo (3), promovido pela ONG África do Coração no bairro de Santana, zona norte de São Paulo. Fundada e composta por imigrantes e refugiados, a entidade promoveu uma ação social junto a 360 famílias de 17 nacionalidades distintas, que vivem em uma ocupação na região.
A ação contou com apoio do Projeto Parabéns e da Cruz Vermelha, que providenciou um total de 300 cestas básicas.
Além da distribuição de cestas básicas e kits de higiene, o grupo ajudou os imigrantes em relação aos cadastros de solicitação do auxílio emergencial e deu dicas de prevenção contra o coronavírus.
“Um trabalho de formiga leva muito tempo, mas faz a diferença”, disse via Facebook o congolês Jean Katumba, presidente da ONG África do Coração, ao falar da ação e agradecer os apoios recebidos.
Uma outra ação social já havia sido liderada pela África do Coração, no último dia 11 de abril, na distribuição de cestas básicas e kits de higiene próximo à sede da ONG, no centro de São Paulo.
A ONG, junto com representantes em outras cidades brasileira, também puxa a campanha “SOS Solidariedade para refugiados e imigrantes”, que visa sensibilizar a sociedade brasileira para a situação vulnerável que boa parte dessa população vive em meio à pandemia.
Além desta, a África do Coração também puxou uma outra campanha recente, conscientizado a população migrante sobre a necessidade de manter o isolamento social como forma de frear a disseminação do coronavírus.
Campanhas diversas
Felizmente, as ações da África do Coração e as parcerias que consegue articular não são exemplos isolados, apesar das dificuldades vividas por imigrantes em geral.
A comunidade boliviana, a maior entre as imigrantes em São Paulo, também tem promovido ações e articulado parcerias para atenuar os efeitos da pandemia.
Por meio da campanha Bolívia Solidária, centenas de cestas básicas têm sido distribuídas a famílias em condição social vulnerável. A campanha é conduzida por voluntários independentes ou que integram uma série de associações e coletivos da comunidade boliviana (veja aqui a lista completa).
Dentro da comunidade boliviana há ainda outra ação, a Voluntários por Amor, que também arrecada e distribui cestas básicas e fornece informações sobre prevenção ao Covid-19, nome do novo coronavírus.
A conta ainda inclui campanhas de arrecadação de recursos diversos, promovidas por coletivos de imigrantes, para serem revertidos às famílias mais afetadas pela pandemia. E também ações individuais, como as entregas de marmitas promovidas pelo casal de sírios Talal Al-Tinawi e Ghazal Baranbo, e pela também síria Razan Suliman.
Cruzando fronteiras
Desde meados de março, quando aumentaram as medidas de isolamento social para frear o Covid-19, pelo menos 50 ações — especialmente no Estado de São Paulo — foram protagonizadas ou tiveram participação ativa de imigrantes.
Esses dados constam da plataforma COVID-19 e Solidariedade Migrante (acesse aqui), mantida de forma colaborativa pelo Fórum Internacional Fontié ki Kwaze – Fronteiras Cruzadas, uma rede de trabalho sócio-técnica baseada na USP, e pela Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Unicamp (Universidade de Campinas).
“O mapeamento inicial mostra o grande potencial da organização autônoma da população, com destaque para as organizações dos próprios migrantes como a África do Coração, a União Social dos Imigrantes Haitianos e Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (CEMIR). E o trabalho em rede com as organizações de direitos humanos e entidades como sindicatos, igrejas e universidades, que tem papel fundamental”, explica a advogada especialista em migração Karina Quintanilha, doutoranda em sociologia na Unicamp e curadora do fórum.
A ideia da plataforma é de ampliar essa coleta e registro de informações para atividades que ocorrem em outras regiões do Brasil e do exterior. Já há menções, por exemplo, a mobilizações em Portugal e no México.
“É bom lembrar que é uma plataforma colaborativa, bem simples, que permite que qualquer pessoa possa incluir novas ações, e tem como objetivo dar visibilidade e ampliar as conexões entre as redes de solidariedade, inclusive a nível internacional”, destaca Karina.
Articulação urgente e necessária
Ao mesmo tempo que mostram a capacidade de organização dessa população, tais ações deixam ainda mais expostas as lacunas deixada pelo poder público na área social. E também ressaltam a necessidade de uma melhor articulação entre as instituições da sociedade civil.
“Estamos em um momento que pega todos de surpresa. E falta diálogo, articulação e abertura do poder público para discutir essas propostas [de resposta ao Covid-19]”, ressalta Fabio Andó Filho, coordenador do Projeto Canicas, que atua no apoio junto à população migrante.
A confusão de informações a respeito da concessão do auxílio emergencial, especialmente em relação a imigrantes indocumentados e pessoas em situação de rua, segundo Fabio, foram exemplos cabais dessa falta de articulação — seja em nível municipal, estadual ou federal.
“Na crise fica evidente que esses setores não estão dialogando”, completa.
A falta de uma articulação entre poder público e sociedade civil também é apontada pela assistente social peruana Soledad Requena, coordenadora do Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (CEMIR).
“Sem articulação, não temos como saber se estamos ou não duplicando esforços. Precisamos dialogar e coordenar ações. sobretudo nesse momento de pandemia”.
Mais poder e peso aos imigrantes
Uma das saídas para ajudar a tampar essas lacunas em meio às políticas referentes à população migrante seria a inclusão dela própria nos processos de discussão e aplicação de tais medidas.
“Importante ter interlocutores em cada comunidade migrante, para a informação chegar mais diretamente. E também incluir lideranças imigrantes nas discussões”, aponta Soledad. Tais pessoas, segundo ela, estão não apenas nas instituições formais, mas também em coletivos culturais, times de futebol e em igrejas.
Além do apoio a lideranças imigrantes locais, Fabio sugere um maior peso na administração pública para espaços institucionais que já existem na capital paulista, como o Conselho Municipal de Imigrantes (CMI).
“Acho que tem que fortalecer, dar mais poder a esse tipo de espaço”, exemplifica o coordenador do Canicas.
Em funcionamento desde outubro de 2017, o Conselho está previsto na Política Municipal para a População Imigrante de São Paulo. E tem como objetivo ser um espaço de diálogo e representação das comunidades migrantes e associações ligadas à temática junto à gestão pública paulistana.
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