Esta é a primeira parte da série Migração e Saudade, derivada do Projeto Guadalupe, idealizado pela cineasta e fotógrafa Erica Suelen de Sousa.
O Projeto Guadalupe são histórias de imigrantes que saíram de sua zona de conforto em outros territórios, pelas mais diversas razões, e chegaram ao Brasil com o sonho de fazer dessas terras também o seu lar. Eles já fazem parte de Brasília, do Goiás, do Cerrado. Décadas de vivência no Planalto Central e expectativas dos recém-chegados fazem a diversidade dessa pesquisa.
A partir dos oito personagens que integram o projeto, Erica convida a refletir: “As fronteiras são linhas imaginárias que nos separam de seres que vivem no mesmo lar que nós. O mundo é formado por sistemas de regras que nos impedem de cruzar essas linhas, contradizendo e violando nosso direito universal de ir e vir”.
José Mario, dos vulcões ao Planalto Central
por Erica Suelen de Sousa
Conheci José Mario na minha primeira aventura em busca dos personagens da pesquisa. Ele estava na Rodoviária do Plano Piloto de Brasília trabalhando quando fiz a abordagem. Desde o primeiro momento foi uma pessoa bem receptiva e nossa conversa fluiu muito naturalmente. José Mario é um cara inquieto. Não demora muito em um mesmo lugar, mas já faz anos que vive no Brasil, por ser um país que parece ser vários em um.
Ele é artesão, natural de El Salvador, da província de Santa Ana. El Salvador é um país na América Central cheio de mistérios e curiosidades naturais: praias negras, vulcões e lindas montanhas. Quando à saudade, principal tema a se explorar no corações dos imigrantes nesse projeto entra em questão, ele respira fundo, fecha os olhos e em sua língua responde:
“Primeramente: mi família… hermanos, primos, tios. Extraño también la culinária. Extraño mucho las cosas que yo hacía de “criança”, de niño. Extraño también mi hijo, de estar con mi hijo. Extraño también los colores de los pueblos de los interiores, la cultura indígena, estar en volcanes. Extraño hasta los huracanes del Caribe.”
Tradução livre: “Em primeiro lugar: minha família… irmãos, primos, tios. Sinto saudade também da culinária. Sinto muita saudade das coisas que eu fazia quando eu era criança. Sinto saudade também do meu filho, de estar com meu filho. Sinto falta das cores das vilas, do interior, da cultura indígena, estar nos vulcões. Sinto saudade até dos furacões do Caribe.”
Admirando e respeitando cada vez mais o seu trabalho, Rodrigo
Oi linda, parabéns mais uma vez, contribuindo para evidenciar os invisíveis… mas presentes em nossas vidas.