Por Rodrigo Veronezi
Organizadora de iniciativas como a Copa dos Refugiados e de uma série de ações de apoio a imigrantes antes e durante a pandemia, a PDMIG-África do Coração completa cinco anos nesta segunda-feira (7). Ela se destaca pelo fato de contar, basicamente, com imigrantes e refugiados em seu quadro diretivo, além de funcionários e voluntários de diferentes nacionalidades.
Para marcar a data, a instituição promove às 19h30 desta segunda a live “Os novos brasileiros: valorização das diferenças na construção de uma sociedade que acolhe e integra”, a ser transmitida pelo canal da entidade no YouTube. O evento é o primeiro de outros que vão acontecer nos próximos dias, aproveitando o fato de junho lembrar outras duas datas importantes quanto às migrações: o Dia do Refugiado (20) e o Dia Nacional do Imigrante (25).
“O brasileiro é fruto de migração, e nós também somos os novos brasileiros”, reforça o sírio-brasileiro Abdulbaset Jarour, vice-presidente da instituição e um dos fundadores, ao lado do congolês Jean Katumba, que ocupa a presidência da entidade.
Atualmente a entidade conta com 39 imigrantes e 78 brasileiros voluntários ativos e se mantém a partir de doações de pessoas físicas e jurídicas.
Origens
As sementes da criação da PDMIG – África do Coração datam de 2013, quando Katumba e outros imigrantes de países africanos debatiam a criação de uma instituição que representasse a comunidade africana no Brasil. As conversas não evoluíram em princípio, mas a vontade de criação de uma entidade formada por imigrantes e que atuasse em prol dessa comunidade permaneceu.
A partir da realização da primeira Copa dos Refugiados, em 2014, com o apoio da Cáritas de São Paulo e do ACNUR, Jean e Abdul se conheceram e passaram a dialogar sobre uma instituição que englobasse imigrantes de diferentes nacionalidades, além de reforçar o caráter da África como berço da humanidade.
“Se a gente consegue se integrar para realizar uma Copa, poderemos também ampliar o campo de atuação da ONG para ajudar a comunidade de refugiados e imigrantes em São Paulo”, comenta Katumba.
Em 2016, a África do Coração ganhou forma e passou a atuar formalmente, com CNPJ e a participação de imigrantes de diferentes nacionalidades. Desde então, a instituição firmou uma série de parcerias com o setor público e privado para a realização de seus projetos.
Dessa forma, a partir de 2017, a Copa dos Refugiados foi expandida para outras cidades brasileiras além de São Paulo, como Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife e Brasília. Junto a essa iniciativa, outros projetos começaram a ganhar forma, tanto na capital paulista como em outras localidades.
Formação de lideranças
Além da Copa dos Refugiados, a PDMIG – África do Coração exerce uma série de projetos que incluem palestras em escolas, consultoria para organizações de imigrantes, orientação para imigrantes e refugiados para questões ligadas a mercado de trabalho e documentação, entre outras.
Em todas essas áreas de atuação está presente o objetivo de sensibilizar a sociedade brasileira sobre a questão migratória e do refúgio. E além do apoio assistencial, visa encorajar o imigrante a assumir protagonismo e se mobilizar.
“Queremos formar imigrantes, fazer com que eles sejam protagonistas”, ressalta Abdul.
Além da sede principal em São Paulo, a PDMIG conta com sedes regionais em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis e Brasília. Recentemente a instituição também se estendeu ao exterior, com representantes entre brasileiros que vivem na Argentina e França, além de uma venezuelana na Colômbia.
Ações em meio à pandemia
Com a chegada da pandemia, a PDMIG – África do Coração tem reforçado ações assistenciais como a doação de cestas básicas e roupas. São pelo menos 1.500 famílias de imigrantes cadastradas junto à instituição só na capital paulista. Também são realizadas, de forma mais pontual, ações de apoio à população em situação de rua.
Em outras cidades com representação da África do Coração a estimativa gira em torno de 150 a 200 famílias cadastradas em cada localidade.
Katumba aponta que a pandemia trouxe uma série de desafios para o trabalho da organização, mas também mostrou potenciais a serem explorados.
“A pandemia trouxe ao PDMIG uma larga articulação para atingir seus objetivos de trabalhar com equipe remota e uma pequena equipe presencial”, ressalta.
Novo nome
Desde 2020 a África do Coração formalmente ganhou um adendo ao nome, sendo agora chamada de PDMIG – África do Coração. A sigla significa “Pacto pelo Direito de Migrar” e foi aprovada em assembleia pela instituição.
A mudança de nome visa uma adequação ao caráter mais amplo da organização, que também vem ampliando sua participação em espaços de construção política.
Desde meados de 2020 a PDMIG – África do Coração foi a única instituição formada por imigrantes a obter habilitação para o Conselho Nacional de Direitos Humanos. E em maio passado a ONG foi uma das eleitas para compor o Conselho Municipal de Imigrantes de São Paulo, a partir do voto da população migrante na capital paulista. A posse ocorre ainda no mês de junho.
“Agora como titulares no Conselho, a PDMIG buscará promover políticas públicas impactantes na comunidade de imigrantes no Brasil, principalmente em SP”, completa Katumba.
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