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quinta-feira, novembro 21, 2024

Mulheres já são quase metade dos atendimentos a pessoas em situação de refúgio em São Paulo

Caritas SP relata ter realizado 3.882 pessoas de 73 nacionalidades ao longo do primeiro semestre

Os últimos dados sobre atendimento a pessoas em situação de refúgio — sejam refugiados já reconhecidos ou solicitantes de refúgio — no 1º semestre de 2020 em São Paulo mostram a equiparação do número de homens e mulheres. Uma tendência que é puxada pela migração advinda da Venezuela.

Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (26) pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo, em parceria com o Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados), durante evento transmitido pelo Facebook.

No primeiro semestre deste ano, o percentual de pessoas que se identificaram como homens foi de 51% e 49% de mulheres, sendo cinco como trans. Em 2018, os homens compunham 67%, enquanto as mulheres 33%. Já em 2019, o percentual de homens registrou 57% e, de mulheres, 43%.

“Historicamente no Brasil, a gente tinha uma população solicitante de refúgio muito mais composta de homens jovens porque chegavam principalmente pela via aérea. Então normalmente vinham o marido ou o irmão para tentar algum tipo de integração no Brasil e, uma vez concretizado, conseguia se reunir com a família. Quando o perfil de deslocamentos forçados não é de países vizinhos, não é fronteiriço, é via aérea, isso normalmente acontece. Mas agora com a situação da Venezuela, nossos fluxos são mais parecidos com os globais. Então por meio da fronteira física, nós temos recebido mais famílias estendidas, núcleos familiares com tias, primas e irmãs, incluindo mulheres chefes de família, famílias monoparentais lideradas por mulheres”, explica a diretora do Acnur em São Paulo, Maria Beatriz Nogueira.

A Caritas SP relata ter realizado 3.882 pessoas de 73 nacionalidades ao longo do primeiro semestre. Além dos venezuelanos, que representam 52% do total de atendimentos, vêm em seguida nacionais da República Democrática do Congo (7%), da Síria (6%) e da Colômbia (6%).

Venezuelanos no mundo e no Brasil

Segundo os dados analisados pela agência da ONU para refugiados, neste primeiro semestre, mais de 5 milhões de venezuelanos já deixaram seu país de origem. Destes, mais de 2,4 milhões obtiveram permissões de permanência legal em outros países e 900 mil solicitaram refúgio nos últimos três anos.

Somente no Brasil, há 264 mil venezuelanos em situação de refúgio e migração, segundo . De um total de 43 mil pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Brasil, 38 mil são de nacionalidade venezuelana.

Mesmo com a crise do novo coronavírus e a situação de quarentena, que conta com o trabalho de equipe reduzida, o número total de atendimentos aos solicitantes de refúgio e refugiados – que envolvem moradias, kits de higiene, roupas, alimentos, informações de programas sociais, auxílios-emergenciais – ultrapassou o total dos anos anteriores, predominantemente por venezuelanos (52%).

Os meses de maio e junho, que marcaram o pico da pandemia no Brasil, foram os que contabilizaram um número expressivamente maior de demandas e atendimentos. Esses dois meses registraram mais de seis vezes a média de demandas e três vezes a média de atendimentos realizados nos meses de janeiro a abril.

Impacto da Covid-19

A pandemia tem reunido três crises. Primeiro, em questões relacionadas à saúde pública, que impactam com severidade os refugiados principalmente pela dificuldade de seguirem os protocolos de distanciamento social em assentamentos precários.

Segundo, as questões socioeconômicas, em um contexto em que refugiados já vem buscando oportunidades de emprego no país de acolhida. No entanto, a crise do novo coronavírus tem piorado o mercado de trabalho, além da dificuldade em preencher requisitos no mercado imobiliário e a constante insegurança alimentar. E terceiro, em assuntos voltados à proteção.

Segundo Maria Beatriz, um dos maiores impactos da disseminação da Covid-19 é na educação das crianças e adolescentes. Isso porque o ambiente escolar é um meio de inserção social que, no entanto, sem as aulas presenciais, as crianças perdem a oportunidade de socialização – além do fato de não terem bom acesso a plataformas digitais para acompanhar as aulas online.


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