Em meio à pandemia do novo coronavírus, imigrantes que atuam no setor informal estão entre os trabalhadores que mais sofreram impacto com a crise na economia. Em Pernambuco, assim como na maioria dos estados do país, no último dia 22 de março, o governador Paulo Câmara determinou o fechamento do comércio, dos serviços e das obras de construção civil em todo o estado.
Com o comércio de portas fechadas, as ruas desertas e sem nenhuma movimentação de compradores, comerciantes senegaleses se viram diante de um novo cenário. Os que antes enviavam dinheiro para a família no Senegal, na África, agora precisam receber uma pequena quantia dos familiares para bancar os custos com alimentação enquanto a quarentena é mantida em Pernambuco.
Momar Mbaye, 36, chegou ao Brasil em 2013 e diz que nunca enfrentou uma situação tão triste como a deste ano, devido à crise na saúde e na economia por causa do Covid-19. “A gente fica em casa sem fazer nada. Quem guardou dinheiro consegue se manter, mas quem não tinha nada, precisa da ajuda de amigos e familiares. Alguns não conseguiram pagar o aluguel desse mês e estamos fazendo um acordo para não pagar no mês que vem também”, descreve.
Ele não acredita em uma abertura do comércio nas próximas semanas. “E mesmo que abra, não vai ter ninguém para comprar”, diz.
Ação assistencial
De acordo com o gestor do Escritório de Assistência à Cidadania Africana em Pernambuco (Eacape), Altino Mulungu, são 286 senegaleses que vivem no estado, o maior grupo de comerciantes informais vindos do continente africano.
Diante da política de isolamento social e a paralisação das atividades comerciais, muitos vendedores passam por dificuldades e não encontram apoio na gestão municipal.
No dia 30 de março, o Eacape fez a solicitação da doação de 50 cestas básicas aos senegaleses e foi atendido pela Subcomissão de Direito dos Refugiados ligada à Comissão de Direitos Humanos da OAB em Pernambuco.
No último dia 2 de abril, um representante da OAB-PE foi ao Centro Islâmico do Recife, localizado no bairro da Boa Vista, região central da cidade, para entregar a doação. “Nossa ideia é prover os direitos fundamentais da nossa comunidade de senegaleses promovendo uma campanha de arrecadação de cestas básicas para eles”, conta Altino.
Responsável por receber as doações, Amadou Touré, presidente da Associação Senegalesa do Nordeste, diz que com o comércio fechado, a vida dos vendedores do Senegal não está fácil. “Eles precisam pagar dois aluguéis, o da casa e o local onde fica guardado o material de trabalho, mas nem isso estão conseguindo pagar”, conta o representante dos comerciantes informais.
Amadou explica que por serem imigrantes a burocracia traz dificuldades para garantir direitos. Ele também relata que o que muitos vendedores têm feito é utilizar o dinheiro que seria utilizado na compra de mercadorias para fazer feira. “Nesse cenário não dá para mandar dinheiro para casa, não sei até quando vamos aguentar”, lamenta.
O presidente da Associação Senegalesa do Nordeste detalha que as cestas foram distribuídas no dia seguinte, mas nem todos conseguiram receber a doação. Touré pede que interessados em ajudar os senegaleses residentes em Pernambuco entrem em contato com a associação por meio do telefone: (81) 97913-1436 (falar com Amadou) ou (81) 99765-9777 (falar com Altino).
Imigrantes têm direito a auxílio emergencial
O MigraMundo divulgou na última semana imigrantes residentes no Brasil, incluindo aqueles em situação de refúgio, estão entre as populações que podem receber um auxílio emergencial criado pelo governo federal para atenuar os efeitos do coronavírus sobre a renda.
Esse auxílio emergencial, no valor de R$ 600, será pago a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (ou MEIs) e desempregados pelo período de três meses. Saiba mais aqui.
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