Por Isabel Rabelo e Rodrigo Veronezi
A invasão da Ucrânia pela Rússia, iniciada nesta quinta-feira (24), se desenha como a maior crise militar na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial. E ao mesmo tempo também já se formam grandes grupos de pessoas em deslocamento interno forçado e de refugiados a partir do país do leste europeu para nações vizinhas.
As redes sociais amanheceram com fotos de estradas cheias e engarrafamentos, mostrando o desespero de ucranianos que buscam fugir da situação de guerra. A mídia alemã estima que entre 200 mil e um milhão de pessoas podem fugir para países da União Europeia. Outras projeções chegam a falar em 5 milhões de ucranianos buscando refúgio.
Ucranianos já estão cruzando as fronteiras com a Polônia, onde o país instalou pontos de recepção de deslocados e hospitais poloneses se preparam para receber feridos. A também vizinha Moldávia registrou quase 2 mil pessoas procedentes da Ucrânia cruzando a fronteira.
Já a Hungria e Eslováquia, também fronteiriços à Ucrânia pelo oeste, planejam enviar tropas para ajudar no processamento do fluxo de pessoas. A Alemanha ofereceu ajuda humanitária aos países que fazem fronteira com a Ucrânia, principais destinos dos que fogem da guerra.
Em nota, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) expressou preocupação com os acontecimentos em curso no leste da Europa. E pediu que os países vizinhos mantenham suas fronteiras abertas.
“As consequências humanitárias para as populações civis serão devastadoras. Não há vencedores na guerra, mas inúmeras vidas serão dilaceradas. Já vimos relatos de vítimas e pessoas começando a fugir de suas casas em busca de segurança. As vidas civis e a infraestrutura civil devem ser protegidas e resguardadas em todos os momentos, de acordo com o Direito Internacional Humanitário”, diz o texto do ACNUR, assinado pelo alto comissário, Filippo Grandi.
O ACNUR disse ainda que a organização está trabalhando para dar assistência humanitária na Ucrânia, e, em conjunto com países vizinhos, para a acolhida de pessoas.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou nesta quinta-feira que a União Europeia está “totalmente preparada” para receber a população ucraniana. “Temos agora todos os Estados-membros da linha da frente com planos de contingência explícitos para acolher e acolher imediatamente os refugiados da Ucrânia”, aponta von der Leyen.
Também, a comissária europeia dos Assuntos Internos, Ylva Johansson, informou que o bloco apoiará os Estados-membros da UE no acolhimento de refugiados ucranianos e agradeceu os cinco países fronteiriços (Polônia, República Tcheca, Romênia, Eslováquia e Hungria) pela “vontade de proporcionar proteção imediata”.
O aumento do fluxo de ucranianos para países europeus já era algo conhecido desde 2015, um ano após da anexação da Crimeia pela Rússia, quando a população ucraniana na Polônia passou de 200 mil para 800 mil. Na República Tcheca, houve um crescimento de 65% em poucos meses.
“Os oito anos de conflito na Ucrânia causaram o deslocamento de 1,4 milhão de pessoas que agora dependente de assistência para suprir suas necessidades diárias. Essa escalada irá apenas aprofundar as necessidades humanitárias e agravar o sofrimento de milhões de famílias”, acrescentou o Diretor-Geral da OIM (Organização Internacional para as Migrações), António Vitorino, sobre os ucranianos já deslocados por outros países em razão das hostilidades de 2014.
Início do ataque
Após quatro meses de ameaças e discussões no âmbito diplomático, a invasão começou oficialmente após pronunciamento do presidente russo Vladmir Putin às 23h45 de quarta-feira (23), no horário de Brasília.
Em seu pronunciamento, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou uma “operação militar especial” com o intuito de “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia. No discurso, Putin negou querer ocupar todo o território ucraniano, mas sim, enviar tropas em apoio às autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, reconhecidas pela Rússia na segunda (21).
Por outro lado, Putin deu declarações anteriores que mostram algo a mais. Para ele, a Ucrânia atual é uma criação da Rússia Bolchevique e “fracassou como Estado”, uma fala que foi encarada como uma negação de Putin ao direito da Ucrânia de existir como país. De fato, entre os nacionalistas russos mais exaltados há a defesa de que Kiev é o berço do povo russo, já que a primeira capital de um Estado russo foi em Kiev, no final do século X.
Ucranianos no Brasil e manifestações mundo afora
O Brasil abriga a terceira maior comunidade de descendentes de ucranianos no mundo, estimada em pelo menos 600 mil pessoas. Ao mesmo tempo, cerca de 500 brasileiros vivem no país europeu, segundo estimativas do Ministério das Relações Exteriores.
Por meio de manifesto conjunto, pelo menos onze associações culturais e religiosas ucranianas no Brasil condenaram a agressão militar e pediram o apoio da sociedade brasileira contra as hostilidades de Moscou contra Kiev.
“A agressão russa à Nação ucraniana não é uma agressão somente ao povo ucraniano, ela atinge os fundamentos da Carta das Nações Unidas que é a busca da paz e da não agressão, da convivência pacífica dos povos e a solução pacífica dos conflitos. A agressão militar russa a Ucrânia atinge toda a humanidade”.
Na sexta-feira (25), uma manifestação está marcada para o meio-dia em São Paulo, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) em repúdio ao ataque russo contra a Ucrânia.
Diversas cidades europeias, como Berlim, Paris, Varsóvia e Haia registraram protestos contra a invasão russa contra a Ucrânia. Já na própria Rússia, as autoridades advertiram que reprimiriam qualquer manifestação “não autorizada” contra a guerra no país vizinho.
Brasileiros na Ucrânia
Quanto ao apoio a brasileiros na Ucrânia, o Itamaraty divulgou uma nota oficial recomendando que quem estiver no leste do país e outras regiões em condições de conflito, mantenham contato diário com a embaixada, seguindo as orientações do órgão. A orientação nesses casos é tentar chegar a Kiev e procurar a representação diplomática.
Por outro lado, a Chancelaria brasileira ainda não possui um plano para resgate dos cidadãos brasileiros que desejarem deixar o país europeu, embora estude uma estratégia para tal por vias terrestres.
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