Por Pe. Alfredo J. Gonçalves
Mais do que efeito de mera coincidência, fica-nos a impressão que José Mugica e o Papa Francisco combinaram de marcar encontro em algum lugar cheio luz, calor e paz. Lugar de esplendor e mais luminoso do que nosso pobre planeta Terra. Planeta rico, é verdade, mas empobrecido porque há séculos saqueado, agredido, devastado e contaminado pelo projeto político de exploração, a que chamamos de economia globalizada, que “exclui, descarta e mata”.
Tanto o uruguaio Mujica quanto o argentino Bergoglio, ambos às vésperas dos 90 anos, decidiram nos deixar. Não sem antes, por caminhos diferenciados, árdua e incansavelmente, conjugar paz e sabedoria como poucos o são capazes. Por isso, ao partir, deixam-nos um legado memorável, marcado a ferro e fogo, e em letras de ouro, no pergaminho da história. Partem como estrelas, que mais brilham quanto mais distantes, na escuridão da noite.
Ambos sairam do chão da pirâmide social, escalaram, degrau a degrau, postos de grandeza e prestígio, mas jamais esqueceram o solo escuro e úmido onde lhes cresceram as raízes. A exemplo das árvores, subiram ao vento livre, ao céu azul e ao ar aberto, mas sempre com os pés fixos e firmes na terra em que engatinharam os primeiros passos. Nos diversos níveis, etapas e instâncias por onde lhes tocou alçar voo – um à presidência da república do Uruguai, outro ao pontificado da Igreja Católica – descobriram que poder é serviço, dinheiro não passa de um meio e o cargo, quanto mais elevado, tanto maior o compromisso com o bem-comum.
Na extrema simplicidade, humildade e gratuidade de suas existências reais, um logo canonizado pelas massas populares, outro aclamado pelos próprios cidadãos, ambos seguem vivos em nossa memória e travessia – vivos e vívidos como ícones do diálogo e da paz, imortalizados na trajetória tortuosa e turbulenta da humanidade. Verdadeiros artífices, profetas, protagonistas e peregrinos da esperança!
Sobre o autor
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, é assessor do Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)