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sexta-feira, novembro 22, 2024

Sejam bem-vindos, haitianos, senegaleses e quem quer que seja!

Por Patrícia Deviciente*

Se você leu “Brás, Bexiga e Barra Funda” vai se lembrar que a elite econômica e cultural de São Paulo detestava os imigrantes italianos, assim como detestava todos os outros imigrantes também porque a elite não se identificava (e não se identifica) com o pobre, ignorante, sujo e que não falava a sua língua.

Hoje, passado algum tempo, você exibe com orgulho sua ascendência europeia, como se isso lhe conferisse algum prestígio social sem que você precisasse provar seu valor. Quase como uma carteirada social.

Sinto lhe dizer, descendente de italiano, espanhol, português, alemão, japonês… Sua família era pé-rapada. Saiu de suas terras de origem seduzida por políticas públicas de estado para ser mão-de-obra barata nos latifúndios do café. Seus parentes eram analfabetos na grande maioria da vezes, sem escolarização alguma. Eram trabalhadores corajosos, pois aceitaram a oferta de um trabalho que não conheciam em um país que nem sabiam onde ficava. Enfrentaram o mar durante meses e aqui chegaram.

Escultura no Museu da Imigração, em São Paulo. Migrar é um direito humano, que precisa ser reconhecido como tal, não importa a origem, crença ou motivo. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Escultura no Museu da Imigração, em São Paulo. O local, que é a antiga Hospedaria do Brás, recebeu imigrantes de diferentes origens e que passaram por problemas e angústias muito semelhantes aos imigrantes de hoje.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim


O Brasil era a Terra Prometida para os milhares de imigrantes que chegavam cheios de piolho e pulga na Mooca [bairro da zona leste de São Paulo].

Por que agora você fala “abobrinhas” quando lê notícias a respeito da chegada dos haitianos? Por que você acha que o Brasil não pode ser a Canaã para eles também?
Por que acha que eles não têm também o direito ao sonho?

Sejam bem-vindos, haitianos, senegaleses e quem quer que seja! Há muito espaço por aqui e se não tiver a gente inventa, a gente cria e estabelece soluções novas para problemas novos, pois é assim a humanidade.

*Patrícia Devicidente é professora de redação/português e italiano, formada em Letras pela USP. Atualmente é também estudante de Gestão de Políticas Públicas na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. O texto acima foi publicado originalmente pela própria Patrícia em seu perfil pessoal no Facebook e replicado no MigraMundo com autorização da autora.

  1. Agradeço o espaço oferecido pelo MigraMundo.
    O mote da minha postagem foi a tristeza de ver posturas xenófobas de alguns contatos e sobretudo dos usuários que comentam nas páginas da imprensa oficial e também das mídias alternativas deixando palavras horrorosas para essa nova onda imigratória no Brasil.
    Sou descendente de italiano, neta para bem dizer. Meu avô chegou ao Brasil em 1952, isso significa que não veio na esteira dos grandes movimentos migratórios dos séculos XVIII e XIX, mas o contexto social e politico na Itália continuavam desfavoráveis e sua família inteira vieram “fazer a América” também.

    A grande questão que está em jogo agora não é o fato desses imigrantes serem também pobres, de baixa escolaridade, não possuírem mão-de-obra especializada, etc, até porque as pessoas falam sem terem dados concretos que comprovem suas rasas argumentações. A questão é que falam pautando-se apenas no preconceito, no pensamento hegemônico e sobretudo no racismo que tentam velar, mas que nessa hora fica escancarado.
    O branco pobre é bem-vindo, mas o negro pobre merece a miséria como legado? Isso é terrível! É desumano e repudio esse tipo de comportamento/pensamento.
    Se temos o mínimo de empatia que seja nos identificamos no sofrimento do outro. Como alguém pode ver a dor e o desespero nos olhos do outro e lhe negar ajuda? Isso é monstruoso. É desumano!
    Não tenho orgulho da minha ascendência italiana. O que me faz uma pessoa que tem ou não valor não é minha tradição familiar. Não sou melhor nem pior do que ninguém porque meu avô chegou pulguento e piolhento na Hospedaria dos Imigrantes. O que determina o nosso valor e nosso papel no mundo é justamente o modo como tratamos todos que nos cercam e até aqueles que não temos contato direto.
    Eu me solidarizo enquanto cidadã brasileira. Estendo as mãos aos haitianos, bolivianos, senegaleses, paraguaios, sírios… não tenho medo desses novos moradores, pois não os vejo como inimigos, como ameaça. Eu os encaro como parceiros, como mais uma peça a mais na força motora de buscar transformar esse país em um lugar melhor para se viver. Um lugar melhor para todos.
    Precisamos democratizar pelo menos o direito ao sonho, pois já há muitos espaços privados dentro da sociedade ocidental capitalista.
    Admiro a postura do governo brasileiro de manter as fronteiras abertas e oferecer ajuda humanitária. O Itamaraty me representa!

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