Em uma visita ao East Side Gallery, trecho remanescente do Muro de Berlim que virou uma famosa galeria de arte a céu aberto, dois grafites me chamaram a atenção: o primeiro, bastante colorido, traz a palavra “Kosmopolitismus” sobre uma bandeira alemã; o segundo poucos metros adiante, exibe uma mensagem em espanhol que dispensa traduções: “Hijos de puta/Dejen de Mentir/No aprendimos nada”.
Embora opostos, os dois grafites são complementares. Um simboliza uma característica notada, desejada e celebrada em relação a uma Alemanha e a um mundo traumatizados pelos acontecimentos históricos do último século; por outro, mostram a decepção com a série de liberdades, avanços e progressos prometidos com a queda do muro e o final da Guerra Fria.
Juntos, os dois grafites compõem um recado válido para o mundo todo – não apenas para a Alemanha. Afinal de contas, como está esse cosmopolitismo hoje? Seria ele uma mentira? O que ficou por fazer da lição de casa deixada pelos acontecimentos gerados ou impactados pelo muro?
Cosmopolitismo deve ser visto como um ambiente no qual seja facilitado o intercâmbio entre diferentes culturas e também a partilha de ideais em comum – não violência, respeito aos direitos humanos (inerentes a qualquer crença ou cultural), entre outros. Grandes cidades e/ou com grande concentração de pessoas de toda a parte em geral, como Berlim, Nova York, Londres, São Paulo e Toronto são locais privilegiados para esse ambiente.
Os imigrantes (mesmo aqueles que não se enxergam nessa condição) são grandes agentes desse cosmopolitismo, direta e indiretamente: agregam elementos da cultura de onde vivem com a que adquiriram na terra natal; como consumidores, ajudam a movimentar a economia das cidades e países onde se estabelecem, além de possíveis remessas que ajudam a sustentar outras localidades; e quando engajados e interessados na vida pública desta ou daquela continuidade, buscam e reivindicam meios de participar dela.
Embora presente, reconhecido e também celebrado mundo afora, esse mesmo cosmopolitismo também é criticado, repudiado e combatido por defensores de ideias nacionalistas, xenófobas e por aqueles que enxergam todo esse mix como um agente destruidor em vez de complementar e enriquecedor.
Esse mesmo mundo que tanto sofreu com casos de segregação, preconceito e exploração, continua dando exemplos de que pouco aprendeu com as lições deixadas por eventos históricos – como o Muro de Berlim. É lamentável, aliás, que tais exemplos ainda existam no mundo atual, depois de tudo o que já aconteceu…
Ele pode ter caído, mas as novas barreiras criadas devido aos preconceitos e segregações por crença, gênero, posição política, origem e classe social continuarão a ser construídos e a se expandir caso esses conceitos não sejam superados.
Essa revisão de conceitos ultrapassados é o subsídio básico para que a mensagem do primeiro grafite se torne uma realidade plena, e a segunda se torne apenas a lembrança de erros cometidos no passado – para que não se repitam no futuro.
Permitir que novos muros sejam construídos ou lutar por um ambiente que permita partilha de valores e trocas culturais? Essa é uma pergunta que ainda aguarda nossa resposta.