Atualizado em 09/07/2014
Já imaginou turcos, poloneses, bósnios, ganenses, nigerianos, brasileiros e alemães jogando na mesma seleção? Pois essa situação é uma realidade quando se fala da atual seleção alemã de futebol.
Sim, é a mesma Alemanha que ficou marcada a ferro e fogo na história pelo regime nazista, de alto teor racista e xenófobo, que tinha o conceito da raça pura ariana como ideal. Felizmente, o país tem apresentado mudanças (ainda que a contragosto dos mais conservadores, nacionalistas e xenófobos de plantão) e o esporte representa um belo termômetro dessa abertura recente.
Na Copa do Mundo de 2010, por exemplo, nada menos que dez dos jogadores convocados para defender a Alemanha eram estrangeiros naturalizados ou descendentes: Klose, Podolski e Trochowski, nascidos na Polônia; Marin, da Bósnia; Özil e Tasci, alemães de nascimento e descendentes de turcos; Aogo, Boateng e Khedira, com pais nigerianos, ganenses e tunisianos, respectivamente.
O time do último Mundial ainda contava com o brasileiro Cacau, de Santo André (SP), naturalizado alemão desde 2009. E outro “novo” alemão, o descendente de espanhóis Mario Gomez (também apelidado de “Super Mario”), aparecia nas convocações.
Já em 2014, a presença imigrante se faz com Klose, Podolski, Özil, Boateng, Khedira, Höwedes (descendente de noruegueses) e Mustafi (de pais albaneses nascidos na Macedônia). A imagem abaixo, do Global Post, simula como seria a seleção alemã sem os jogadores com raízes fora do país.
A mudança
Enquanto a Alemanha apresenta progressos na sociedade e no futebol com a miscigenação, outros países adotam caminho inverso. É o caso da França, no qual dirigentes nacionais têm investido no “branqueamento” da seleção nacional e desestimulado o ingresso dos descendentes ou estrangeiros radicados no país, que atualmente ainda são maioria no time. Ironicamente, foi comandada por Zidane, filho de argelinos, que a França conquistou seu único titulo mundial de futebol, em 1998.
Nesse mesmo Mundial, disputado em solo francês, uma seleção alemã formada somente por brancos foi derrotada por 3 a 0 pela estreante Croácia nas quartas de final. Dois anos depois, veio uma eliminação ainda na primeira fase da Eurocopa e o vice-campeonato contra o Brasil na Copa de 2002.
Era hora de mudar. Em 2002, o narrador brasileiro Galvão Bueno dizia que a Alemanha “jogava algo parecido com o futebol”. Doze anos depois veio a resposta, que pode virar título em pleno Brasil.
Os reveses do final da década de 1990 e na final de 2002 desencadearam um processo profundo de reformulação do futebol alemão. Os clubes das duas principais divisões nacionais foram obrigados a criar centros de treinamento para buscar e formar novos jogadores. Do plantel que disputa a Copa no Brasil, apenas Klose (o mais velho da equipe) não é fruto desses centros de excelência.
Esse processo de reformulação aumentou o ingresso de imigrantes e descendentes nas categorias de base e na seleção principal da Alemanha. Já em 2002, o ganense de nascimento Gerard Asamoah entrou para a história como o primeiro negro a vestir a camisa da Alemanha em Copas do Mundo. E teve como artilheiro o mesmo Klose, nascido na Polônia e que neste Mundial se tornou o maior goleador da história das Copas, superando o brasileiro Ronaldo.
Essa nova geração de jogadores, considerada a mais talentosa do país desde o início da década de 1990, reflete o tamanho da população imigrante na Alemanha. Dos 82 milhões de habitantes, cerca de 7 milhões têm origem estrangeira – sendo 3 milhões deles de origem turca. E tal diversidade tem sido apontada como um dos motivos para o bom desempenho da seleção nacional nos últimos anos – por mais que nenhum título ainda tenha sido conquistado.
O título ainda não veio (pode vir no próximo dia 13). Mas desde 2006 a Alemanha tem figurado entre as quatro melhores seleções em Mundiais. Neste ano de 2014 essa seleção pode conquistar enfim o título que pode coroar o processo de reformulação, que conta com grande participação dos imigrantes e descendentes.
O sucesso dessa comunidade no futebol e em outros esportes na Alemanha não os deixa a salvo dos simpatizantes de grupos de extrema-direita e neonazistas, que os acusam de “manchar” as cores germânicas. Mas quanto mais a sociedade alemã contrariar o ideal de Hitler, fazendo contorcer-se onde quer que ele esteja, melhor para o país e para o mundo.
Leia também: Uma Copa de imigrantes e descendentes
Rodrigo, não acho que a sociedade alemã esteja aberta para o estrangeiro não. O estrangeiro aqui é tolerado, mas não totalmente considerado cidadão alemão. Digo isso por morar aqui há 20 anos e saber de casos de brasileiras que, mesmo tendo o passaporte alemão e falando fluentemente o idioma, pois estudaram aqui, foram discriminadas. Não, elas não são afro-brasileiras. Claro, sempre há aqueles que são abertos e gostam de ter contatos com estrangeiros, mas vai demorar ainda até o alemão MESMO aceitar que o país É um país de emigrantes.
Autor do artigo disse: Enquanto a Alemanha apresenta progressos na sociedade e no futebol com a miscigenação, outros países adotam caminho inverso. É o caso da França, no qual dirigentes nacionais têm investido no “branqueamento” da seleção nacional e desestimulado o ingresso dos descendentes ou estrangeiros radicados no país, que atualmente ainda são maioria no time.
Miscigenação não traz progresso a nada nem a ninguém. Todos os países miscigenados são fracassados. E a França tem que barrar estrangeiros da sua seleção mesmo. Primeiramente pq a França é um país europeu e de maioria branca, não é um país africano e de maioria negra pra ser representado por negros. Segundo pq os negros estrangeiros que vestem/vestiram a camisa da França não se sentiam franceses de fato, sequer cantavam o hino.
[…] post serve como resposta a um comentário recebido pelo blog recentemente no post A multiétnica seleção alemã. , no qual o leitor defendia a ideia de que a França deveria, sim, “embranquecer” sua […]
Caro leitor,
Creio que este post e o artigo que o originaram servem de resposta ao seu comentário. Claro, cada um é livre para pensar o que quiser, mas isso não me impede de discordar de sua opinião. Não apenas a francesa, mas diversas seleções estão miscigenadas. E embora muitos ainda não aceitem essa realidade, é público e notório que essa mistura de fato trouxe benefícios a elas.
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[…] A multiétnica seleção alemã de futebol […]