Em meio ao processo de cassação na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, anunciou nesta quarta-feira (20) a renúncia ao cargo. Ele era alvo de 21 representações no Legislativo Paulista pelas declarações machistas e sexistas feitas sobre mulheres refugiadas ucranianas.
Em março, sob o argumento de apoiar os ucranianos em meio à invasão russa, Arthur do Val viajou para a fronteira entre a Eslováquia e a Ucrânia, um dos pontos que tem servido como rota de saída da população que foge do conflito. Até o momento, segundo a ONU, mais de 5 milhões de pessoas já deixaram o país europeu, especialmente mulheres e crianças, no maior êxodo no continente desde a Segunda Guerra Mundial.
As declarações geraram fortes reações dentro e fora do universo político, repercurtindo também junto à comunidade migrante no Brasil.
As manifestações contra Arthur do Val foram reunidas em um único processo, aprovado por unanimidade pelo Conselho de Ética da Alesp no último dia 12 de abril. A decisão não interrompe o andamento do processo na Alesp, que pode torná-lo inelegível por oito anos. Ele é julgado por quebra de decoro parlamentar em razão das declarações sobre mulheres ucranianas.
“Sem o mandato, os deputados agora serão obrigados a discutir apenas os meus direitos políticos e vai ficar claro que eles querem na verdade é me tirar das próximas eleições. Estou sendo vítima de um processo injusto e arbitrário dentro da Alesp. O amplo direito a defesa foi ignorado pelos deputados, que promovem uma perseguição política”, disse do Val, por meio de nota à imprensa.
“Vou renunciar ao meu mandato em respeito aos 500 mil paulistas que votaram em mim, para que não vejam seus votos sendo subjugados pela Assembleia. Mas não pensem que desisti, continuarei lutando pelos meus direitos”, completou.
Falas sexistas e machistas
Durante a viagem à Europa, Arthur do Val compartilhou áudios com pessoas próximas nos quais se referiu às mulheres ucranianas como “deusas”, pelo padrão de beleza, e “fáceis” por serem pobres. Eles vazaram para a imprensa no último dia 4 de março, gerando fortes reações dentro e fora do universo político
“Detalhe, hein. Elas olham e, vou te dizer, elas são fáceis, porque são pobres. E aqui, a minha conta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, porque a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de ‘minas’ e é inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo, você dá bom dia e ela [sic] ia cuspir na sua cara e aqui elas são supersimpáticas e supergente boa, é inacreditável”, disse o deputado em um dos áudios. Segundo ele, nas “cidades mais pobres, elas são as melhores”.
Em outra mensagem, Arthur do Val ainda comparou a fila de refugiadas ucranianas na fronteira com a Eslováquia, onde o deputado esteve, à fila de uma balada.
Ao ser questionado pela imprensa na chegada de volta ao Brasil, em 5 de março, o deputado disse que os áudios foram mandados em um grupo privado para amigos e que se dedicou apenas ao que chamou de “missão” no período em que esteve no país.
“Fui para fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz, e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa. Foi errado o que eu falei, não é isso o que eu penso, o que eu falei foi um erro num momento de empolgação e pronto”, disse.
Derrocada
Nos dias seguintes à viagem à Europa, Arthur do Val anunciou a retirada da pré-candidatura ao governo de São Paulo pelo Podemos, partido ao qual havia se filiado poucas semanas antes e do qual se desfiliou, diante de um processo disciplinar ao qual seria submetido. Em 2020, ele foi um dos candidatos à Prefeitura da capital paulista, terminando a eleição em quinto lugar.
Ele também anunciou um afastamento das atividades do Movimento Brasil Livre (MBL), do qual era um dos integrantes mais conhecidos. O grupo ficou famoso por estar na linha de frente das manifestações em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, entre outras ações. No segundo turno da eleição presidencial de 2018, o MBL apoiou o então candidato Jair Bolsonaro, que acabou eleito.
Apesar da desistência de disputar o governo paulista, Arthur do Val ainda pretendia concorrer ao cargo de deputado federal nas eleições de outubro. Atualmente é filiado ao União Brasil, que surgiu da fusão entre o Democratas e o PSL.