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sábado, dezembro 21, 2024

Brasil, um país de braços abertos e portas fechadas

O crescimento econômico do Brasil e a formação multiétnica da sociedade tem atraído pessoas de todo o mundo em busca de novas oportunidades por aqui. No entanto, estamos recebendo bem esses novos moradores, independente do país de origem? Infelizmente, essa resposta é não.

O documentário Open Arms, Closed Doors (Braços Abertos, Portas Fechadas, em tradução livre), mostra bem esse “outro lado” da vida dos imigrantes no Brasil. A produção é dirigida pelas paulistas Fernanda Polacow e Juliana Borges, mas tem como apoiadora a rede de TV Al Jazeera, do Qatar, que a transmitiu para cerca de 130 países em fevereiro deste ano – para ver a produção no Brasil, só pela internet.

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O nome da produção é didático: como um Cristo Redentor, o país tem seus braços abertos a todos em teoria, mas na prática a situação é bem diferente. Enquanto exalta a vinda de europeus em busca de trabalho por aqui, torce o nariz quando os imigrantes em questão são latinos e africanos. Um exemplo é o modo pejorativo com o qual o dono de uma loja de material de construção, entrevistado pelo documentário, se refere aos angolanos: “Eles são todos iguais, muda apenas o nome”.

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O documentário é focado no angolano Badharo, 37 anos, no Brasil desde 1997. É morador da favela da Maré, no Rio de Janeiro – local que tem a segunda maior população angolana no Brasil. Teve parentes mortos na Guerra da Independência de Angola e encontrou na música sua forma de se expressar a respeito das dificuldades sociais que afligem tanto a ele quanto a outros imigrantes – em especial os africanos.

“O Brasil é um dos países mais racistas do mundo, mas é um racismo velado”, diz Badharo. “Já me arrependi muito de ter vindo para o Brasil. Só não desisti porque formei uma família”, completa o músico, que vive com uma brasileira e tem uma filha com ela.

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Uma das músicas do rapper se inspira em Zulmira de Souza Borges Cardoso, estudante de mestrado angolana morta na região do Brás, zona leste de São Paulo, em maio de 2012. O crime causou indignação da forma como se caracterizou. A angolana estava com um grupo de amigos num bar quando dois brasileiros começaram a provocá-los com xingamentos racistas como “macacos”.  Os dois homens foram expulsos do bar, entretanto, um deles voltou e disparou vários tiros contra o grupo. Uma das balas atingiu a cabeça da estudante de 27 anos, que morreu. A lentidão da Justiça e o pouco caso da polícia com o crime são criticados por Badharo na canção feita em homenagem à jovem.

O documentário fica ainda mais atual se lembrarmos de outro caso emblemático da situação precária de certas colônias estrangeiras no Brasil. No último dia 28 de junho, o menino boliviano Brayan Capcha, 5, foi morto nos braços da mãe durante um assalto à oficina de costura na qual trabalhavam – e também dormiam. A revolta com o crime fez a comunidade boliviana, que costuma sofrer calada, sair às ruas pedindo justiça.

Com essa “proeza” de ser racista mesmo com uma miscigenação com poucos exemplos similares no mundo, é como se o Brasil cuspisse cotidianamente no próprio prato que come e o faz conhecido no mundo todo.

Fatos como esses mostram que o país e sua sociedade ainda precisam aprender como de fato ser cosmopolita e a abandonar o racismo – em suma, passar à pratica o discurso que tanto é defendido na teoria. Essa mudança é possível, mas os exemplos atuais mostram que o caminho a ser percorrido é longo. Bem longo.

Ficha técnica:

Título: Open Arms, Closed Doors
Produção: Plataforma
Coprodução: Fagulha Filmes
Direção e roteiro: Fernanda Polacow e Juliana Borges
Produção Executiva: Ana Nasser e Pedro Gorski
Fotografia: Pablo Hoffmann
Montagem: Eliza Capai e Lara Lopes
Técnico de som direto: Evandro Lima
Duração: 26 min
Ano: 2012

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