Por Paula Godoy
Ela é nascida em Recife e criada em João Pessoa, com residência atual em Zurique (Suíça) e já tendo a experiência de ter passado por tantos outros cantos mundo afora. Dessa experiência migrante surge Úrsula Zufrieden (lê-se “sufrida”, em uma brincadeira com a palavra brasileira e nomes estrangeiros), que é o pseudônimo de Caroline Melo Ribeiro da Costa, uma escritora multifacetada que usa a literatura como ferramenta para exorcizar a solidão de nunca achar que pertenceu a lugar algum.
Essa experiência, que ganhou força durante a pandemia de Covid-19, deu origem a seu livro de estreia, “Caso Fevereiro Dure Para Sempre” (Editora Paraquedas). A obra consiste em uma coletânea de contos que misturam ficção e realidade com histórias que vão desde assuntos relacionados a fases da vida até questões ambientais. Recheada de narrativas emocionantes, a publicação reflete ainda a trajetória pessoal da autora e sua visão sobre o mundo.
Úrsula já atuou em campos de refugiados no Quênia, na África. Lá, contribuiu para implementar tecnologias hidropônicas que permitiram aos refugiados produzir alimentos em condições extremas. Hoje, trabalha em uma fábrica de chocolates na Suíça, mas não se afasta de causas sociais. Ela destaca que, mesmo em outra área, seu trabalho é ligado à justiça climática e ao combate ao trabalho infantil e escravo, ao garantir a compra de cacau a preços justos e promover práticas de reflorestamento.
A migração na vida e obra de Caroline/Úrsula
Respondendo a questionamento do MigraMundo, a autora reflete sobre o impacto da migração em sua vida e obra. “Eu sou esses temas! O aspecto da exclusão, de ser diferente, de ser estrangeira. E também o aspecto de me ver no outro”, compartilhou. Sua vivência de 18 anos fora do Brasil alimenta suas histórias, que buscam dar voz a personagens reais e fictícios.
Úrsula reconhece os desafios de se integrar a um novo país. “Emigrar não é fácil, sobretudo para quem vem por necessidade (…) tem haver com traçar muitos paralelos com a sua cultura, querer que o novo país seja o bom de onde você deixou, e isso não é confortável porque o outro país nunca vai ser como você viveu no seu país”. Ainda assim, ela enfatiza a importância do esforço mútuo para a integração social.
Além de questões migratórias, Úrsula ressalta a necessidade de incluir minorias nos debates. “A gente precisa trazê-los para serem protagonistas. É isso que o conto quer.” O livro reflete esse desejo, incentivando o leitor a abraçar a própria diversidade e a valorizar o diferente.
“O estranhamento precisa ser um ato de contemplação, uma necessidade de contemplar algo que você não reconhece ainda”, diz a autora, que usa a escrita para explorar questões de identidade e adaptação.
A obra também reflete o desejo de dar voz às minorias. “Eu precisava contar as histórias das pessoas que eu encontrava na rua e que não tinham voz. Eu acredito que eu sou uma ganhadora de loteria por chegar onde cheguei, e eu sei que tem pessoas que lutaram muito mais do que eu e não chegaram onde eu cheguei, então eu preciso dar essa voz, eu preciso dar um microfone pra essas pessoas.”
Uma obra indispensável para quem já enxerga a vida com carinho e um convite para aqueles que ainda não o fazem a descobrir os detalhes frequentemente ignorados.
Próximos passos
Úrsula também anuncia seu próximo projeto literário. Em 2025, ela lançará “O Ardor do Merthiolate”, um romance que aborda os desafios de uma mulher em pré-menopausa e questiona os papéis impostos pela sociedade.
Com uma escrita que transforma o estranhamento em contemplação, Úrsula busca inspirar e emocionar. “Eu trabalho na escrita, eu trabalho tentando usar a ficção pra descrever o estranhamento com o diferente e pra descrever o estranhamento na mudança, com o outro que está se construindo”, finaliza
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