Além das gangorras rosas que tomaram o noticiário nos últimos dias, local tem sido ponto de outras ações-protesto e intervenções artísticas ao longo dos anos – de vôlei a bebê gigante
Por Amanda Louise
Em São Paulo
As imagens repercutiram rapidamente nas redes sociais na última terça-feira (30). Nos 40 minutos em que estiveram instaladas, as gangorras cor-de-rosa contrastavam com o cenário local e com o metal da cerca entre as cidades de Sunland Park (EUA) e Ciudad Juárez (México).
Unindo crianças e adultos de ambos os lados da fronteira, a brincadeira simboliza as consequências da construção de um muro que já vem sendo discutido e construído há mais de uma década na região.
“[A gangorra] foi uma resposta para pensar em como a fronteira é um lugar onde há um grau de desigualdade, desequilíbrio – tanto laboral, do trabalho, como humanístico”, explicou o arquiteto Ronald Rael, idealizador da intervenção.
Projetadas em 2009 por Rael e pela designer Virginia San Fratello, as três gangorras foram planejadas para falar de política de forma lúdica, provocando um senso de unidade entre as duas nações. “Quando adotamos certas ações de um lado, elas têm consequências diretas do outro”.
Embora o muro tenha ganhado força durante a campanha eleitoral do então candidato Donald Trump, em 2016, a discussão e implementação da divisória teve início já no governo do democrata Bill Clinton (1993-2000), sendo endossada pelo ex-presidente republicano George W. Bush (2001-2008) e continuada no governo do democrata Barack Obama (2009-2017) – e já é usado pelo republicano Donald Trump para disputar a reeleição à Casa Branca em 2020.
Se por um lado o aço é a ideia para separar o país do restante do continente americano, por outro, assim como Ronald Rael e sua equipe, diversas pessoas já interviram, ao longo dos anos, com ações e protestos contrários à construção do muro e à política migratória do presidente Donald Trump.
Esporte pela paz
Anualmente, em abril, uma partida de vôlei acontece na cidade de Nacos, que é cortada pela fronteira México-EUA, o “Wallyball”. Os times de ambas as nações se encontram para amenizar as tensões impostas pelo muro, usando a grade como rede.
Segundo o site GreenMe, o jogo ganhou fama e tornou-se um evento regular, onde não só Naco (Sonora, México) e Naco (Arizona, EUA) se enfrentam, mas também em Tijuana (Baja California, México) e San Diego (Califórnia, EUA), por exemplo.
“Abraços, não muros”
Em 2017, o grupo Rede Fronteiriça dos Direitos Humanos organizou um encontro para que familiares mexicanos pudessem se abraçar na fronteira es.
O ato aconteceu nas margens do Rio Grande, que divide os dois países na área mais próxima ao Golfo do México, logo após a ordem executiva de ampliar o muro para separar os territórios.
Arte na fronteira
Coincidindo com a proposta separatista de Donald Trump, o mexicano Enrique Chiu quis transformar o muro em um “grande mural”, como resposta ao presidente do país vizinho.
O projeto “Mural da Irmandade” (The Mural of Brotherhood), teve início em 2017, quando Chiu decidiu pintar sua casa, em Tijuana (México), por não haver manutenção nos muros, então enferrujados. “Eu queria embelezar isso para dar algo de volta à comunidade”, disse ao site Artnet.
Cerca de 2.600 pessoas de diversas partes do mundo se voluntariaram para ajudar a colorir o mural. Chiu ainda afirmou que o mural é para quem assume riscos e àqueles que foram deportados e separados de suas famílias.
O site Dezeen listou cinco projetos de designers e arquitetos que respondem às propostas do Trump. Entre os croquis, uma mesa de jantar para substituir a barreira, muro rosa – em homenagem ao arquiteto mexicano Luis Barragan –, e até mesmo uma campanha para construir uma cerca de ouro ao redor do complexo do presidente em Palm Beach, Flórida.
Bebê à vista
Em abril de 2017, uma semana depois que Trump manifestou intenção de acabar com o DACA, programa que protege jovens imigrantes que chegaram aos Estados Unidos sem documentos, o artista francês JR colocou uma foto gigante de um bebê no trecho da cerca que separa Tecate (México) do estado norte-americano da Califórnia.
“Como artista considero fantástico o fato de a peça chegar num momento em que provoca mais diálogo. A ideia base é despertar perguntas, mas não tenho as respostas”, disse o artista, segundo o site Euronews.
A expressão do bebê mostra curiosidade sobre o que há do outro lado da fronteira – um sentimento que, em circunstâncias reais, pode trazer graves consequências a quem se arriscar.
JR é conhecido por suas obras de grandes proporções. Uma delas foi no no Rio de Janeiro em 2016, onde produziu fotografias em grande formato retratando atletas.