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quinta-feira, novembro 21, 2024

Comunidade migrante reage e cobra proviências contra Arthur do Val por declarações sobre refugiadas ucranianas

As manifestações de repúdio destacam a situação de vulnerabilidade e violência vivida pelas mulheres, sobretudo em situações de guerra, e também cobram providências das instituições competentes

Por Rodrigo Veronezi

Além do meio político, a comunidade migrante no Brasil reagiu com indignação aos áudios do deputado estadual por São Paulo Arthur do Val (Podemos), também conhecido como Mamãe Falei, sobre mulheres refugiadas em fuga da guerra na Ucrânia. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados estima que pelo menos 1 milhão e meio de pessoas já deixaram o país, muitas delas mulheres e crianças.

O parlamentar, que esteve em viagem ao leste da Europa na última semana sob pretexto de prestar apoio os refugiados, compartilhou áudios com pessoas próximas nos quais se referiu às mulheres ucranianas como “deusas” pelo padrão de beleza e “fáceis” por serem pobres. Eles vazaram para a imprensa na última sexta-feira (4).

“Detalhe, hein. Elas olham e, vou te dizer, elas são fáceis, porque são pobres. E aqui, a minha conta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, porque a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de ‘minas’ e é inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo, você dá bom dia e ela [sic] ia cuspir na sua cara e aqui elas são supersimpáticas e supergente boa, é inacreditável”, disse o deputado em um dos áudios. Segundo ele, nas “cidades mais pobres, elas são as melhores”.

Em outra mensagem, Arthur do Val ainda comparou a fila de refugiadas ucranianas na fronteira com a Eslováquia, onde o deputado esteve, à fila de uma balada.

Ao ser questionado pela imprensa na chegada de volta ao Brasil, no sábado, o deputado disse que os áudios foram mandados em um grupo privado para amigos e que se dedicou apenas ao que chamou de “missão” no período em que esteve no país.

“Fui para fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz, e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa. Foi errado o que eu falei, não é isso o que eu penso, o que eu falei foi um erro num momento de empolgação e pronto”, disse.

Manifestações de repúdio

A Sociedade Ucraniana do Brasil (Subras), que representa uma série de entidades civis e religiosas ligadas à comunidade no país, classificou como repugnantes e tenebrosos os áudios do parlamentar.

“Ele ofende não só as que foram citadas, mas a todas. Atinge também nossa origem e história, já tão agredidas por diversas frentes em diferentes épocas. Aproveitar-se de fragilidades de qualquer nível em um estado de guerra é, além de condenável, desumano. Enquanto uma das várias entidades representativas dos ucranianos no Brasil, cobramos respostas sobre tal atitude que não deve ter espaço na vida pública”, afirmou a instituição, por meio de nota.

O ativista sírio-brasileiro Abdulbaset Jarour, que integra uma série de ações de luta pelos direitos da população migrante, também expressou indignação com as falas de Arthur do Val.

“Um deputado com esta atitude desrespeitosa em relação as mulheres não merece o cargo que lhe foi atribuído. Visivelmente não tem condições de exercer o trabalho que lhe atribuíram, pois não representa o povo brasileiro, que é solidário e amoroso. Equiparar situação de refúgio à pobreza e à fragilidade é sinônimo de ignorância e desrespeito à dor humana”, afirmou o ativista sírio-brasileiro Abdulbaset Jarour, por meio das redes sociais, sobre as declarações do parlamentar.

O Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI) também destacou a situação de vulnerabilidade vividas pelasa pessoas que buscam refúgio ao repudiar as falas de Arthur do Val.

“Onde há campos de refugiados e filas de pessoas desesperadas para escapar da guerra e da pobreza, não há ironia, humor ou ‘momentos de empolgação’, mas apenas muito, muito sofrimento. Seja em um grupo de whatsapp privado ou declaração pública, são desumanas, repugnantes e inaceitáveis as palavras escolhidas pelo deputado para falar sobre sobre mulheres em situação de vulnerabilidade. O CAMI e o mundo não toleram mais este tipo de pensamento. Nossa entidade presta toda solidariedade às ucranianas e todas as mulheres, sobretudo imigrantes e refugiadas”, diz trecho da manifestação.

No meio acadêmico, os grupos de pesquisa HumanizaCom e Semio Humanitas, que reúne integrantes de diferentes nacionalidades, emitiram uma nota conjunta na qual cobram providências imediatas das instituições competentes.

“Onde há sofrimento humano, há a urgência de uma bússola moral capaz de impedir a sua amplificação. Nossa solidariedade às mulheres ucranianas. Solidariedade que estendemos a todas as mulheres e meninas expostas à violência física e moral, dentro e fora das guerras. Que as instituições competentes tomem as devidas providências. Não se trata de punição, tampouco de cancelamento. Trata-se de justiça – na acepção que mais a aproxima dos direitos humanos”, destaca trecho do documento, divulgado na íntegra pelo portal GGN.

Desdobramentos

No domingo (6), um grupo de quinze deputados estaduais de São Paulo protocolou junto ao Conselho de Ética da Assembleia Legislativa uma representação contra Arthur do Val por quebra de decoro em razão das declarações sobre as mulheres refugiadas. O documento também pede que o parlamentar seja punido com a perda do mandato.

Antes disso, no sábado (5), o deputado estadual anunciou ao retornar da Europa a retirada da pré-candidatura ao governo de São Paulo. Em 2020, ele foi um dos candidatos à Prefeitura da capital paulista, terminando a eleição em quinto lugar.

O deputado também será alvo de um processo disciplinar no Podemos, partido ao qual está filiado. A presidente nacional da legenda, a deputada federal Renata Abreu, classificou o fato como “lamentável e inaceitável”.


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