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segunda-feira, dezembro 23, 2024

Conflito entre Israel e Hamas já causou deslocamento forçado de 1 milhão de pessoas em Gaza

Entidades alertam para a iminência de uma catástrofe humanitária sobre palestinos em Gaza, em meio à possibilidade do conflito ganhar escala

Por Rocio Paik
Com colaborações de Maria Eduarda Matarazzo e Rodrigo Borges Delfim
Atualizado às 9h05 de 16.out

O mais recente conflito que eclodiu entre Israel e o grupo Hamas, iniciado no último dia 7 de outubro, vem causando deslocamentos forçados em massa na região e agravando emergências humanitárias já presentes. Além disso, há grandes temores sobre seus desdobramentos, em meio à iminente escalada das ações militares.

Os bombardeios de Israel à Faixa de Gaza começaram em 7 de outubro, como resposta a um ataque sem precedentes do Hamas, grupo extremista que de resistência contra a ocupação israelense, considerado terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outros países. Cerca de 1.200 pessoas morreram e mais de 3 mil ficaram feridas, segundo autoridades de Israel.

A retaliação já deixou mais de 2.600 palestinos mortos, segundo estimativas oficiais. Além disso, meios de comunicação de Israel informam que 1.500 corpos de palestinos que integravam grupos armados estão com as autoridades israelenses.

Deslocamento forçado em Gaza

Os palestinos em situação de deslocamento interno em Gaza pelos ataques de Israel já chegaram à casa do 1 milhão, de uma população de aproximadamente 2,2 milhões, espremidos em um território que tem o tamanho do município de Curitiba. A situação tende a se agravar, aliás, por conta da iminente invasão do Exército israelense.

Escolas geridas pela UNRWA, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, tem servido de abrigo provisório para os deslocados. No entanto, as instalações não significam segurança, uma vez que algumas delas foram atingidas pelos bombardeios, além da própria sede da agência da ONU.

Até o momento, os dois lados não dão sinal de que o conflito bélico esteja perto de um fim, o que resulta em um aumento significativo de deslocamentos internos a todo momento.

Uma possível rota de fuga de Gaza seria pelo sul, a partir da fronteira com o Egito – o que é aguardo, inclusive, por um grupo de 31 brasileiros que tentam deixar o território palestino ocupado. No entanto, o governo de Israel negou a existência de um acordo de cessar-fogo para permitir a retirada de pessoas e a entrada de ajuda humanitária.

Emergência humanitária

Enquanto isso, os agentes humanitários, que trabalham para auxiliar as vítimas dos bombardeios, apelam à comunidade internacional o estabelecimento de um corredor seguro que capacite a entrega de assistência e recursos básicos.

No entanto, há dificuldade na providência de ajuda, uma vez que a incerteza provocada pela continuidade dos ataques impede acesso nas áreas afetadas. A insegurança impacta, também, na distribuição de auxílio especialmente para famílias que não estão em abrigos garantidos pela UNRWA.

A Faixa de Gaza, que é ponto central dos ataques, é controlada pelo Hamas desde 2007, depois de uma ruptura violenta deste com o Fatah, movimento predominante na Autoridade Nacional Palestina, que atualmente controla partes da Cisjordânia, outro território palestino ocupado.

A movimentação de mercadorias e o trânsito em espaço aéreo e terrestre, que já eram fiscalizados por Israel, acabaram sendo bloqueados em 9 de outubro, quando o Ministério da Defesa israelense impôs um “cerco completo” cortando recursos básicos como eletricidade, água, alimentos e combustíveis. A determinação prejudica 2,1 milhões de pessoas que habitam o território, que tem um tamanho semelhante ao do município de Curitiba (PR). Quase metade dessa população é composta de menores.

As preocupações também se concentram com as equipes responsáveis pela assistência médica das vítimas dos ataques. Segundo o Palestinian Red Crescent Society (PRCS), a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, as forças de ocupação rejeitam a garantia de segurança aos paramédicos que atuam na região. O porta-voz da organização, Mohammed Abu Mosabeh, diz que uma crise humanitária está iminente.

“Este é de longe o ataque mais agressivo à Gaza. Não há nenhum alerta antes de ataques às unidades residenciais, o que resulta em um número ainda maior de vítimas.”

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha informa que já está em contato com o grupo Hamas e as autoridades israelenses para auxiliar na comunicação e libertação de reféns. No entanto, o diretor da organização, Fabrizio Carboni, teme que o conflito se intensifique.

“Com a falta de eletricidade em Gaza, falta luz nos hospitais, colocando em risco a vida dos recém-nascidos em incubadoras e pacientes idosos que precisam de oxigenação. A hemodiálise deixa de funcionar e não é possível tirar raios X. Sem eletricidade, os hospitais correm perigo de se transformar em necrotérios.”

Quando Israel fechou as passagens em Erez e Kerem Shalom, extremos de Gaza, Egito manteve aberta uma travessia em Rafah. O local, porém, foi atingido por ataques aéreos, o que limitou não somente a possibilidade de locomoção de pessoas, como também o acesso à ajuda para envio de suprimentos. O Crescente Vermelho teria enviado mais de duas toneladas de medicamentos para Gaza e continuam persistindo na entrega de mais fontes de auxílio.

Na medida em que as tensões perduram, agentes humanitários mantêm os esforços para intervir e alcançar os necessitados. Quem está na linha de frente no auxílio às vítimas pede urgentemente a instalação de um corredor humanitário para socorro. Enquanto restam recursos, equipes continuam trabalhando na expansão de mais abrigos, na distribuição de alimentos básicos, no envio de combustíveis e na assistência psicossocial.

Repatriação: brasileiros que já deixaram a região

Pelo menos 2,7 mil brasileiros que vivem em Israel e nos territórios palestinos ocupados manifestaram deixar o Oriente Médio e voltar ao Brasil. Ao todo, cinco voos já repatriaram 736 brasileiros de cidades israelenses.

A chancelaria brasileira tenta proteger os brasileiros que ainda se encontram em Gaza e pede a instalação de um corredor humanitário para permitir a retirada do grupo. Até o momento, não há sinais de que o pedido seja atendido, enquanto o conflito corre o risco de se agravar e ganhar escala.

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