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sexta-feira, novembro 22, 2024

Conselheiros migrantes de São Paulo tomam posse e visitam haitianos na Missão Paz

Em mais um episódio histórico para São Paulo e o Brasil, tomaram posse nesta segunda-feira os 20 imigrantes eleitos no último dia 30 de março para os Conselhos Participativos de 19 das 32 Subprefeituras da capital (veja aqui os nomes dos eleitos).

Migrantes eleitos para os Conselhos Participativos são empossados pela Prefeitura. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Migrantes eleitos para os Conselhos Participativos são empossados pela Prefeitura.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim

A cerimônia de posse aconteceu no Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura, e contou com a presença do prefeito Fernando Haddad; da vice-prefeita Nádia Campeão; do secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili; do secretário municipal de Relações Governamentais, Paulo Frateschi; do secretário municipal de Relações Internacionais e Federativas, Leonardo Barchini; e da conselheira da Subprefeitura do Ipiranga Olga Luiza Leon de Quiroga, representando os imigrantes.

Para o prefeito Haddad, a eleição dos conselheiros representa uma ruptura na visão tradicional sobre os imigrantes. “Entendemos que a presença de imigrantes em nossa cidade quer dizer muito mais que produção material; quer dizer que vocês querem conviver conosco, construir conosco e, portanto, exercer plenamente os direitos de cidadãos.”

Já o secretário de Direitos Humanos da Prefeitura, Rogério Sottili, disse que a gestão municipal faz coro pelo direito ao voto dos migrantes. “O sucesso da eleição para os Conselhos Participativos indica que esse é um primeiro passo muito importante e podemos avançar ainda mais.”

Com a palavra, os conselheiros

Os novos conselheiros já recebem demandas dos migrantes que vivem nos bairros pelos quais foram eleitos. “Já estou tendo algumas reuniões com a comunidade para fazer na medida do possível o que o pessoal já está passando para nós. Hoje é o primeiro dia e ainda estamos nos integrando”, explica o chinês Cheung Ka Wai, um dos representantes da Sé.

Já o senegalês Massar Sarr, também da região Sé, enfatiza a necessidade de ouvir as comunidades, mas também de esclarecer as funções dos conselheiros. “Conselheiros têm muito para fazer. Vamos lá saber dos problemas deles e já estamos conversamos com as comunidades para explicar a eles o que são os conselheiros, o que podem fazer”, completa.

O boliviano Luiz Vasquez, que representa os imigrantes da região da Mooca (zona leste), diz que há na comunidade uma grande expectativa de que os conselheiros podem resolver muitos problemas. “Já recebi muitas demandas. Alguns migrantes pensam que fomos eleitos prefeitos, mas somos apenas conselheiros. Acho que temos uma limitação, mas vamos trabalhar para que possamos resolver o que for possível”, completa.

Visita à Missão Paz

Logo após a cerimônia, atendendo a uma sugestão do conselheiro Sarr, parte dos representantes empossados seguiu para a Paróquia Nossa Senhora da Paz, na rua do Glicério, para visitar os imigrantes haitianos que estão sendo recebidos pela Missão Paz. Lá, acompanhados do coordenador de políticas para imigrantes da Prefeitura, Paulo Illes, e do padre Paolo Parise, um dos coordenadores da entidade, puderam ter uma ideia do tamanho do desafio que representa buscar uma solução coordenada para a questão.

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Conselheiros migrantes e Paulo Illes, coordenador de Políticas para Imigrantes, visitam a Missão Paz.        Crédito: Rodrigo Borges Delfim

De acordo com a Prefeitura, pelo menos 800 haitianos chegaram do Acre desde o início de abril. Na madrugada desta segunda, chegou a São Paulo um ônibus com mais 42 migrantes e a previsão era de que chegaria mais um durante a madrugada desta terça. Segundo relatos dos que chegam, as viagens são pagas pelo governo do Acre.

Alguns dos recém-chegados contam que eles sequer comiam durante os cerca de 4 dias que dura a viagem até a capital paulista. Muitos dos migrantes chegam ainda apenas com protocolos de solicitação da carteira de trabalho, o que dificulta na hora de conseguir uma vaga de emprego – e para empresários interessados em contratá-los. O idioma é uma outra barreira, já que a maioria fala apenas creole, uma língua derivada do francês.

O padre Parise expressou ainda a preocupação de como e onde acomodar os migrantes que continuam chegando. “O que temos de mais urgente é arrumar um local para eles ficarem. Não temos onde acomodar os que chegaram”, disse. No auditório da entidade já estão dormindo cerca de 200 pessoas, evidenciando a superlotação da entidade.

Auditório da Missão Paz vira alojamento provisório para cerca de 200 migrantes que chegaram nos últimos dias. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Auditório da Missão Paz vira alojamento provisório para cerca de 200 migrantes que chegaram nos últimos dias.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim

Um acordo foi fechado ainda nesta segunda-feira entre a Prefeitura e a Igreja para que parte dos migrantes pudesse dormir em um abrigo no Tucuruvi, na zona norte, com 50 vagas. A administração municipal se comprometeu a obter mais vagas.

Roupas estendidas no muro da Missão Paz são apenas um dos efeitos da superlotação da entidade. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Roupas estendidas no muro da Missão Paz são apenas um dos efeitos da superlotação da entidade.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim

A Coordenação e os conselheiros presentes se comprometeram ainda a ajudar a pressionar o governo federal e demais esferas a tomarem atitudes globais sobre a questão, além de outras medidas emergenciais para atender os haitianos.

“Temos de passar da teoria para a prática o mais rápido possível. Não fizemos nada ainda, mas [a visita] já é um bom começo”, diz o conselheiro Vasquez.

2 COMENTÁRIOS

  1. […] Em 30 de março deste ano, imigrantes que vivem em 19 das 32 subprefeituras paulistanas que contam com pelo menos 0,5% de sua população constituída por imigrantes puderam eleger representantes para os Conselhos Participativos locais. A iniciativa foi articulada pela Coordenação de Políticas para Imigrantes (CPMig), criada em maio de 2013 no âmbito da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), e a posse ocorreu no mês seguinte, em 29 de abril. Veja aqui como foi. […]

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