A galeria Janaina Torres, em São Paulo, recebe de 10 de agosto a 28 de setembro a exposição “Arqueologias Migrantes”, da artista visual brasileira Liene Bosquê. A mostra explora a interseção entre migração e o patrimônio arquitetônico de grandes metrópoles mundiais, oferecendo um recorte da investigação da autora sobre memórias, narrativas e pertencimento.
O público poderá observar mais de 50 itens que referenciam os desafios impostos pelas fronteiras, como o parapeito do elevador Santa Justa (Lisboa), as grades do antigo presídio Carandiru (São Paulo) e da 14th Street, em Manhattan, Nova York. Além disso, a exposição traz memórias pessoais e afetivas de cidadãos de diferentes origens, resultantes de proposições participativas realizadas por Liêne em várias cidades, incluindo a performance “Coletando Impressões”, no centro de São Paulo em 2018.
A exposição destaca materiais que evocam a história e o espírito de épocas passadas, como o ferro, que moldou as construções urbanas desde o início do século XIX, e ainda simboliza o desenvolvimento acelerado e a rigidez das grandes cidades. Em contraste, Liêne utiliza suportes delicados como tecido e papel, evidenciando a manualidade humana. Ela também explora elementos naturais e suas interações com áreas urbanas, incorporando argila em processos de coleta de impressões, usando a luz solar para cianotipias e extraindo ferrugem para instalações têxteis.
Toda essa abordagem ocorre sob a perspectiva de uma artista brasileira migrante, radicada em outro país. Bosquê provoca uma reflexão sobre a relação entre cidade, história, memória e deslocamentos humanos, abordando o desejo de pertencimento intensificado pela experiência do migrante diante de questões urbanas como especulação imobiliária, gentrificação, desemprego e xenofobia.
“Me interessa muito o aspecto interdisciplinar de sua produção, que alia elementos de arquitetura, história, espaço, luz, artes plásticas, afetos e diversidade. E que embute um aspecto educacional, que ela exerce, muitas vezes, com a participação direta do público”, comenta Janaina Torres, galerista que representa o trabalho de Liene Bosquê no Brasil.
Reflexões e trajetória
Desde 2005, quando se mudou para Portugal, e posteriormente para os EUA (onde vive desde 2008), Liêne Bosquê investiga o patrimônio arquitetônico com métodos semelhantes aos da arqueologia, capturando elementos urbanos para criar obras que tangibilizam memórias individuais e coletivas.
“Na maioria das minhas pesquisas artísticas, utilizo elementos arquitetônicos, como grades e gradis, para explorar as fronteiras enfrentadas pelos imigrantes, tanto territoriais quanto sociais, e as questões de acesso a direitos e oportunidades. Ao integrar a arte têxtil, procuro instigar o acolhimento emocional e físico, aspectos essenciais para qualquer imigrante que busca construir novas referências em seu novo lar. Tudo isso pode ser experienciado na minha primeira exposição individual no Brasil, ‘Arqueologias Migrantes’, na Janaina Torres Galeria”, afirma a artista.
A trajetória da artista e arquiteta brasileira inclui exposições internacionais em instituições renomadas, como MoMA e Museum of Contemporary Photography, e eventos prestigiados no Brasil e no exterior. Residente no Oolite Arts e participante de programas de mentoria e residências artísticas, ela leciona na University of Miami desde 2016.
“Como artista e imigrante latina, refletindo sobre a experiência de viver fora do Brasil por 20 anos, sendo 16 deles nos EUA, considero como atravessar fronteiras e barreiras me ajuda a entender a terra estrangeira, sua história e urbanismo. Muitos dos meus trabalhos mapeiam texturas e formas urbanas para compreender o novo ambiente onde me encontro”, reforça Liêne.
Liêne está atualmente em residência artística em São Paulo, concluindo as peças finais de sua exposição no Massapê Projetos, no bairro de Santa Cecília, com o apoio do prêmio “Summer Artist Access Grant Award FUNDarte and Miami-Dade County Department of Cultural Affairs”. As obras finais refletem sua vivência na região central de São Paulo e oferecem uma perspectiva quase estrangeira sobre a cidade onde cresceu. Sua busca por pertencimento ressoa com a experiência dos migrantes, que constroem novas memórias e significados em seus novos ambientes.
Serviço
Exposição “Arqueologias Migrantes”
Datas e horários: 10 de agosto a 28 de setembro – Terça a sexta, das 10h às 18h, e sábados, das 10h às 16h
Local: Janaina Torres Galeria: R. Vitorino Carmilo, 427 – Barra Funda, São Paulo
Entrada: Gratuita
Faixa etária: Livre
Acessibilidade: Sim