Por Julia Santos
Na noite da última terça-feira (4), a cidade de Nova York recebeu destaque mundial ao eleger o deputado estadual Zohran Mamdani, do Partido Democrata, como seu 111º prefeito. A capital abriga cerca de um milhão de imigrantes muçulmanos e escolheu, pela primeira vez, um deles para seu cargo mais alto.
Na manhã desta quarta-feira (5), com mais de 90% das urnas apuradas, Mamdani marcava 50,4% dos votos, contra 41,6% do ex-governador de Nova York Andrew Cuomo, que foi superado por Mamdani na primária do Partido Democrata e decidiu concorrer como candidato independente. O republicano Curtis Sliwa registrava 7,1%.
Nascido em Kampala (Uganda), Mamdani é filho de pais de ascendência indiana. Sua mãe, Mira Nair, é uma respeitada cineasta indiana-americana, e seu pai, Mahmood Mamdani, é um acadêmico ugandense nascido na Índia. Fugindo da instabilidade política na África Oriental, a família se estabeleceu nos Estados Unidos, onde Mamdani chegou aos sete anos e obteve a cidadania local em 2018. Antes de entrar para a política, se tornou um organizador comunitário.
Em um discurso de vitória eletrizante, o prefeito eleito destacou sua identidade como ponto foco da campanha municipal e mandou um recado ao atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem na perseguição a imigrantes uma de suas principais ações de governo: “Nova York é uma cidade construída por imigrantes, impulsionada por imigrantes. E a partir desta noite, ela será liderada por um imigrante”.
Uma campanha identitária
Desde a oficialização de sua candidatura a prefeito, Mamdani utilizou sua fé e origem como identidades estratégicas para se conectar com uma coalizão diversa de eleitores da classe trabalhadora.
A vitória do imigrante indiano-ugandense de 34 anos ocorre em uma cidade que, nas últimas duas décadas, viu suas comunidades muçulmanas e sul-asiáticas enfrentarem intensa estigmatização, especialmente após os ataques de 11 de setembro.
Em 2001, o atentado às torres gêmeas deu início a um período de vigilância oficial contra as comunidades muçulmanas, árabes e sul-asiáticas em Nova York. Hoje, a eleição de Mamdani é tratada como um enorme progresso relacionado ao tratamento desses grupos étnicos na cidade.
“Por mais de 20 anos, ser muçulmano em Nova York significava ser visto primeiro como uma ameaça”, disse Ahmed Ali, um motorista de táxi e membro da organização social Drum Beats em entrevista ao jornal The Guardian.
Campanha contra a crise habitacional
Durante o período de campanha eleitoral, Mamdani construiu sua narrativa política com uma agenda socialista progressista, centrada na crise de moradia e no alto custo de vida da cidade.
Sua principal proposta esteve relacionada à moradia como direito humano, sugerindo um programa de construção de moradias sociais em Nova York. A ideia ganhou força em bairros de maioria imigrante, que enfrentam despejos e aluguéis crescentes na última década.
“Zohran não falou apenas sobre nós; ele falou conosco“, comentou a organizadora de inquilinos Maria Sanchez em entrevista ao portal Migrant Insider. “Ele entende que a crise de moradia é uma crise de imigrantes. Quando você é imigrante, um despejo não significa apenas perder sua casa; significa perder sua comunidade, sua rede de apoio.”
Desafios à frente
Eleito com promessas de deportar imigrantes em situação irregular nos EUA, o presidente Donald Trump ameaçou cortes de verbas para a cidade de Nova York caso a eleição de Mamdani se concretizasse.
Além da retaliação presidencial, o prefeito deve enfrentar resistência do lobby imobiliário de Nova York, dos sindicatos de polícia céticos e de uma ala moderada do Partido Democrata que vê seu socialismo com desconfiança.
A partir de janeiro de 2026, Mamdani enfrentará a tarefa de governar uma cidade de 8,5 milhões de habitantes, marcada por profundas desigualdades econômicas. Apesar dos desafios futuros, a eleição de 4 de novembro já se consolidou como uma vitória definitiva para a comunidade imigrante global.
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