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sábado, julho 12, 2025

Luta e esperança: ativista congolês diz o que representa memorial em homenagem a Moise no Rio

Para o compatriota de Moise, há um paralelo entre as luta pela independência da terra natal e pelo estabelecimento de políticas públicas no Brasil em prol das populações migrantes

“Pra mim como migrante e congolês que mora no Brasil há 13 anos, esse ato é uma esperança e vitória de luta”. Assim o ativista Daniel Diowo Otshudi definiu a inauguração do memorial em homenagem ao compatriota Moise Kabagambe, espancado e morto em 24 de janeiro de 2022 em frente ao quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

A inauguração ocorreu na última segunda-feira (30), próximo ao quiosque Dumar, também na Barra da Tijuca, e contou com a presença de familiares do jovem congolês e demais representantes da comunidade congolesa e migrante no rio, além de autoridades. A data não foi escolhida ao acaso: ela coincide com o aniversário de independência da República Democrática do Congo, obtida em 1960.

Para Otshudi, o memorial em homenagem a Moise permite um paralelo entre a lutas pela independência da terra natal e pelo estabelecimento de políticas públicas no Brasil em prol das populações migrantes.

“Para ter a independência do Congo, teve pessoas que morreram lutando. E o Moise foi o imigrante que morreu por falta de políticas públicas migratória e fez acordar o mundo e o Brasil para reformar e estrutura as políticas migratórias que não estavam organizadas”.

Representante da comunidade migrante no Rio durante a segunda Comigrar, no ano passado em Brasília, Otshudi recordou que nos últimos anos a capital fluminense experimentou avanços em políticas públicas voltadas aos migrantes, como a abertura do CRAI (Centro de Referência e Atendimento ao Imigrante) Rio, e a criação de comitês e departamentos voltados à temática junto ao poder público local. Por outro lado, ressaltou que a morte do compatriota deixa um alerta.

“Para não acontecer mais uma nova covardia como essa, o governo tem que pensar na uma política especial eficiente e estruturada de acolhimento (abrigamento, trabalho), integração e acompanhamento. E assim proteger a população”, avalia.

Daniel Diowo Otshudi, ao lado do memorial em homenagem ao compatriota Moise Kabagambe. (Foto: arquivo pessoal)

Memorial na Barra

A mais nova homenagem a Moise no Rio consiste em uma escultura que traz a trajetória do jovem congolês e uma ilustração de seu rosto emoldurada no formato do mapa da República Democrática do Congo. A instalação do memorial é uma das medidas previstas na ação indenizatória movida pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ), que representa a família de Moïse desde o início do caso.

Presente à inauguração do espaço, a mãe de Moïse, Lotsove Lolo Lavy Ivone, destacou em entrevista à Agência Brasil a importância do memorial como símbolo de resistência.

“É muito difícil estar aqui, onde tudo aconteceu. São muitas memórias. A gente acha que a dor vai diminuir, mas não diminui. Ainda assim, é importante que a história do meu filho não seja esquecida. Espero que este lugar se torne um espaço de acolhimento, um lugar para outras pessoas refugiadas”, disse.

Ao final da cermimônia de inauguração, organizada pela Prefeitura do Rio em parceria com a Orla Rio, ocorreu ainda uma apresentação cultural, promovida por migrantes congoleses, representando a dor da perda, bem como a força e a resiliência desse povo.

Além do memorial instalado na Barra da Tijuca, Moise já foi alvo de pelo menos outras duas homenagens póstumas. Em junho de 2024, familiares do jovem receberam em seu nome na Assembleia Legislativa do Rio uma Medalha Tiradentes, a maior honraria do Estado. Antes, em 2022, um quiosque com seu nome foi inaugurado no bairro de Madureira, zona norte da capital fluminense. O estabelecimento, inclusive, foi entregue pela gestão municipal à família do congolês, responsável por sua administração.

Quiosque no Parque Madureira, zona norte do Rio, que homenageia o congolês Moïse Kabagambe. (Foto: Natália Scarabotto)

Entenda o caso

Moïse Mugenyi Kabagambe tinha 24 anos quando foi espancado até a morte, no Posto 8, da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, após cobrar uma dívida trabalhista do quiosque Tropicália. Três pessoas foram presas e acusadas de homicídio triplamente qualificado – por motivo torpe, meios cruéis e sem que a vítima tenha tido oportunidade de se defender.

O caso ganhou grande repercussão e milhares de pessoas protestaram em frente ao local do crime no Rio e em outras capitais do Brasil naquela semana, sob o lema “Justiça por Moïse”.

Ato em São Paulo em apoio a Moïse e a outros imigrantes que foram vítimas do racismo e da xenofobia no Brasil. (Foto: Dolores Guerra)

Em março deste ano, dois dos três réus foram condenados. Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca foi sentenciado 23 anos, sete meses e 10 dias, enquanto Fábio Pirineus da Silva foi condenado a 19 anos, seis meses e 20 dias. Eles já se encontravam presos desde fevereiro de 2022, pouco após o crime. O terceiro réu, Brendon Alexander Luz da Silva, também está preso, mas ainda não foi julgado porque recorre da sentença de pronúncia e seu nome foi desmembrado do processo originário.

Para pesquisadores e migrantes ouvidos pelo MigraMundo à época do julgamento, o resultado representa justiça (ainda que tardia), mas também deixa recados à sociedade brasileira em geral. Entre eles estão a importância de ações de combate ao racismo e à xenofobia, a necessidade de mobilização e de monitoramento para impedir que situações semelhantes a essa caiam no esquecimento.

Com informações de DPRJ e Agência Brasil


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