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quinta-feira, dezembro 19, 2024

O que a volta de Donald Trump à Casa Branca representa para as migrações nos EUA e no mundo

Em sua volta à Casa Branca, Donald Trump deve retomar e expandir políticas que restringem o fluxo migratório para os Estados Unidos, de forma ainda mais severa

Por Bianca Medeiros

A reeleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos representa uma reafirmação e radicalização das políticas iniciadas em 2016, especialmente no que diz respeito à imigração e às relações internacionais.

Esse segundo mandato de Trump não apenas intensifica uma abordagem de narcisista, traduzida no “América First”, mas também solidifica uma tendência global para governos de direita e movimentos nacionalistas que priorizam fronteiras rígidas e uma postura de soberania agressiva nas negociações internacionais.

O retorno de Trump cria um cenário de renovação do “efeito manada” ao redor do mundo, inspirando líderes de perfil similares que compartilham seu discurso nacionalista, anti-imigração e cético quanto ao multilateralismo, afetando profundamente a geopolítica e a dinâmica da migração global.

Essa dinâmica é sentida principalmente no campo da imigração quando, Trump retoma e expande políticas duras que restringem o fluxo migratório para os Estados Unidos, desta vez com medidas ainda mais severas. Ao intensificar o controle nas fronteiras e limitar os vistos para trabalhadores e estudantes estrangeiros, ou ainda ao realizar campanha manifesta sobre a migração indocumentada, Trump reforça a ideia de que a imigração deve ser estritamente controlada para proteger a segurança nacional e os empregos de cidadãos americanos, sem se preocupar com a burocracia limitante imposta diariamente a quem não é norte americano. (APADURAI, 2006)

Prova disso, é a constante política de construção de muros físicos e virtuais na fronteira com o México, assim como medidas de segurança que envolvem maior vigilância digital e parcerias internacionais para reduzir o número de pessoas que tentam ingressar nos EUA. Essa política rígida influencia outros países a seguirem o mesmo caminho, gerando uma onda de medidas de contenção migratória ao redor do mundo.

Na Europa, por exemplo, observam-se reações similares em países como a Itália, com Giorgia Meloni, como André Ventura em Portugal e, na França, onde figuras de extrema-direita como Marine Le Pen, ganham ainda mais espaço ao promover uma postura semelhante de controle rígido da imigração. (MASSEY, & CAPOFERRO, 2008)

Internacionalmente, o segundo mandato de Trump consolida a ruptura com o multilateralismo. Ao fortalecer relações bilaterais que favoreçam interesses específicos dos Estados Unidos e ao se afastar de organizações internacionais como a ONU e a OTAN, Trump envia uma mensagem clara sobre a preferência por acordos que priorizem ganhos individuais em detrimento do consenso global.

Países como a Polônia e a Hungria, sob a liderança de Viktor Orbán, compartilham essa perspectiva, fortalecendo um bloco de nações que buscam reduzir sua dependência de instituições e tratados internacionais. Ou seja, alimenta-se o crescimento de líderes de extrema-direita ao redor do mundo, que veem em seu retorno ao poder um sinal de que políticas populistas e nacionalistas podem ser amplamente aceitas e bem-sucedidas nas urnas, fortalecendo líderes como Jair Bolsonaro no Brasil, e mesmo figuras emergentes como Javier Milei na Argentina, que adotam discursos anti-establishment e nacionalistas.

Essa onda de líderes de direita e extrema-direita promove uma política voltada para a preservação dos valores locais, utilizando a imigração e o multiculturalismo como ameaças aos interesses e às identidades nacionais. O apoio de uma base eleitoral que se sente desamparada pela globalização e pela política tradicional fortalece esses candidatos e faz com que a política mundial se oriente cada vez mais em direção a ideais de nacionalismo e protecionismo econômico. (MUDDE E KALTWASSER, 2017)

A volta de Trump representa um momento histórico ao consolidar uma era de polarização política e crescente divisão ideológica, tanto nos Estados Unidos quanto no mundo. No contexto global, isso reflete uma desconfiança generalizada com relação ao multilateralismo, à imigração e às políticas de integração. Ao eleger um líder que questiona abertamente o papel dos EUA em organizações internacionais e que toma medidas radicais contra a imigração, os Estados Unidos transformam-se em um símbolo para líderes populistas e nacionalistas ao redor do globo. (BUZAN E WAEVER, 2003)

Além disso, o apoio crescente a políticas protecionistas indica uma rejeição ao modelo de cooperação internacional que marcou a política mundial nas últimas décadas. Essa mudança afeta a dinâmica diplomática global, provoca enfraquecimento da integração entre as nações e incentiva o surgimento de lideranças que privilegiam o interesse nacional sobre o bem-estar coletivo.

Assim, damos início a uma nova fase da política global, na qual as nações estão cada vez mais inclinadas a seguir um modelo de liderança que promove o fechamento de fronteiras e o distanciamento de alianças internacionais. Esse “efeito” impulsionado pelo sucesso eleitoral de Trump encoraja a busca de posições de poder e a implementar políticas que desafiem o status quo, promovendo um cenário político que parece estar cada vez mais distante dos ideais de integração global. Tempos difíceis eu diria e, as fronteiras cada vez mais vazias.

Sobre a autora

Bianca da Silva Medeiros é Doutoranda em Direito na Universidade Nova de Lisboa – UNL, mestre em Ciências da Sociedade com ênfase em direitos humanos, sociedade e cidadania ambiental pela Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Oeste do Pará – Ufopa. Especialista em Direito Constitucional Aplicado e Relações Internacionais com ênfase em Direito Internacional Público. Pesquisadora, Consultora Jurídica e Gestora de Projetos no Terceiro Setor. Amazônida, latina, filha da educação pública e defensora dos direitos humanos.

Referências Bibliográficas

APPADURAI, A. (2006). Fear of Small Numbers: An Essay on the Geography of Anger. Duke University Press.

MUDDE, C., & KALTWASSER, C. R. (2017). Populism: A Very Short Introduction. Oxford University Press.

BUZAN, B., & WAEVER, O. (2003). Regions and Powers: The Structure of International Security. Cambridge University Press.

HUNTINGTON, S. P. (1996). The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order. Simon & Schuster.

GIDDENS, A. (1990). The Consequences of Modernity. Polity Press. MASSEY, D. S., & CAPOFERRO, C. (2008). The Politics of Restrictive Immigration Reform in the United States and Europe. In European Migration: What Do We Know?


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