Projeto estreia com 161 produtos e serviços, oferecidos por 112 migrantes de 19 países
Por Rodrigo Borges Delfim
De São Paulo (SP)
O empreendedorismo tem sido uma das opções diante da crise econômica que tem afetado o mercado de trabalho no Brasil. O mesmo vale para os migrantes que vivem no país. E a plataforma Conectados, lançada no último dia 9 de março em São Paulo, busca dar uma força para aqueles que apostam na própria cultura como elemento de inserção laboral.
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O projeto é uma iniciativa conjunta da ONG Bela Rua, que atua na democratização do espaço público, e do Conexão Cultural, que promove acesso e conteúdo na área cultural por meio da integração entre diversas formas de arte a ativação de espaços públicos e culturais. O Conectados funciona como um catálogo no qual qualquer pessoa pode conhecer os produtos e serviços que cada migrante pode oferecer a partir da sua própria cultura – aulas de idiomas, culinária, dança, música, artesanato, entre outras habilidades. Além da conexão cultural, a valorização do produto ou serviço oferecido pelo migrante também serve como meio para facilitar sua inserção na sociedade brasileira.
“Esse projeto conecta muito mais do que um produto ou serviço, mas permite esse encontro entre culturas”, lembra a arquiteta Juliana Barsi, integrante do Bela Rua e uma das idealizadoras do Conectados.
A plataforma estreia com recursos da segunda edição do programa Vai Tec, da Prefeitura de São Paulo, do qual foi um dos vencedores. Atualmente a equipe busca outras fontes de recursos para ajudar a manter o projeto.
Os conectados
A plataforma estreou com 161 serviços oferecidos por 112 migrantes de 19 países diferentes – Bolívia, Chile, Marrocos, Togo, Palestina, Egito, Costa do Marfim, Síria, Angola, Guiné, Mali, Venezuela, Nigéria, Iêmen, Burundi, Congo, Camarões, Cuba e Senegal. Há “conectados” – como são chamados os migrantes cadastrados na plataforma – que oferecem mais de um produto ou serviço. Por enquanto a abrangência do Conectados está restrita à capital paulista.
Para se cadastrar no Conectados, o migrante deve fazer contato por meio do site ou do Facebook do projeto, informando um meio de contato ativo (WhatsApp, Facebook ou e-mail), uma foto e a descrição sobre o produto ou serviço a ser oferecido. À medida que os novos cadastros são validados pela equipe, eles passam a figurar entre os disponíveis no Conectados. Todo o processo é gratuito.
Juliana conta que a reação ao projeto tem sido bastante positiva, tanto dos migrantes como dos potenciais consumidores. Desde o lançamento, uma média de 3 a 4 migrantes entram em contato com o Conectados, interessados em se cadastrar na plataforma.
“Se olhar a fundo, são pessoas oferecendo culturas e serviços dos seus países de origem e isso não pode ser substituído. Nós temos muito a ganhar com essa troca de culturas. É importante promover a diversidade no espaço público, somos um país de migrantes e quanto mais rica for nossa cultura, mais temos a ganhar”, lembra Juliana, aproveitando para rebater possíveis manifestações xenófobas contra a plataforma e os migrantes cadastrados.
Próximos passos
O lançamento do Conectados reforça o rol de iniciativas que surgiram nos últimos anos com o objetivo de promover a inserção dos migrantes no Brasil a partir do conhecimento cultural de cada um, como o Abraço Cultural e o Migraflix – ambas, aliás, figuram como apoiadoras do projeto.
Embora o Conectados ainda dê os primeiros passos, a equipe já pensa na segunda etapa do projeto, que prevê capacitação aos migrantes interessados em divulgar produtos e serviços na plataforma. “Desenvolver esse lado mais empreendedor do imigrante pode ajudá-lo a se inserir no mercado”, completa Juliana.