A presença de brasileiros em outros países é extremamente significativa. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, em 2021 foram registrados 4.404.255 imigrantes de nacionalidade brasileira vivendo no exterior, superando a estimativa de migrantes internacionais residindo no país – cerca de 1,3 milhão, de acordo com o Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra). O levantamento aponta ainda que Estados Unidos, Portugal, Paraguai, Reino Unido e Japão são os principais países de destino, respondendo por 78% do total. Os Estados Unidos é o país que mais recebe brasileiros, com uma estimativa de 1.775.000 residentes no país.
Nesse contexto, surgem iniciativas que buscam compreender esse fluxo e apoiar a construção de políticas públicas. Entre elas estão a plataforma de dados Brasileiros no Exterior e o Instituto Diáspora Brasil.
“A diáspora brasileira sempre teve um caráter econômico em que as pessoas migravam para Estados Unidos, Europa, Japão e, mesmo aquelas com formação acadêmica, se submetiam a trabalhos de base para ganhar mais dinheiro. Hoje, vemos uma imigração de classe média que não quer ter o chamado ‘trabalho imigrante’, mas sim atuar em suas profissões. O problema é que elas não têm o visto de trabalho e, como saída para essa questão, abrem empresas ou buscam representar empresas brasileiras no exterior. No entanto, a grande maioria acaba não só não ganhando dinheiro, como perdendo o status social, e isso tem criado muitos problemas”, explica Álvaro de Castro e Lima, fundador e presidente do Instituição Diáspora Brasil, sobre as motivações para a migração brasileira nos últimos anos.
O especialista destaca ainda outros desafios importantes para os expatriados. “É expressivo o número de indocumentados nos Estados Unidos e na Europa que vivem em situação de fragilidade legal e econômica. Além disso, tivemos uma destruição de todo o arcabouço de apoio aos imigrantes promovida pelo governo Bolsonaro. Hoje não existe absolutamente nada em termos de relação exterior, a situação é mesmo de terra arrasada no que se refere a políticas públicas para brasileiros que vivem em outros países”.
Instituto Diáspora Brasil
Nesse contexto, o Instituto Diáspora Brasil (IDB) busca facilitar a pesquisa e a elaboração de políticas públicas voltadas para o empoderamento cultural, político e econômico das comunidades brasileiras residentes no exterior e suas organizações. A iniciativa tem como sede a cidade de Boston (EUA), local que conta com presença marcante da comunidade brasileira.
Dentre as atividades desenvolvidas pelo Instituto estão a produção, agregação, classificação e curadoria de textos, documentos, livros, dados e testemunhos que facilitem o entendimento dos processos migratórios dessas populações, suas histórias e memórias.
“O Instituto foi criado por um grupo de imigrantes para fazer pesquisas e trabalhar com as organizações brasileiras mundo afora, com o objetivo de impactar políticas públicas que melhorem a vida dessas pessoas. Para isso, desenvolvemos bases de dados, publicamos livros sobre a temática, como, por exemplo, a obra Eleições Presidenciais Brasileiras no Exterior (1989 – 2022), recém-lançada, que fala sobre como os brasileiros votam no exterior”, explica Lima.
Mariana Dutra, diretora executiva do Instituto, destaca também que, pelo fato de ter sido criada pelos próprios imigrantes, a organização consegue identificar os problemas dessa população sob aspectos diferenciados.
“É uma questão de lugar de fala. Temos pessoas que trabalham para a comunidade, em organizações sociais, ajudando milhares de brasileiros pelo mundo. Acredito que uma das nossas grandes contribuições é poder pensar o que é importante a partir da nossa experiência, mas, claro, sempre ancorados em dados e informação”.
Dessa forma, o Instituto consegue atuar não só para os imigrantes, mas junto a eles, complementa Dutra. “Percebemos esses problemas de maneira coletiva e tentamos encontrar soluções olhando também para a experiência de outras comunidades. Afinal, as organizações comunitárias que estão na ponta de trabalho são aquelas que realmente conhecem as demandas do grupo e, assim, conseguem chegar onde os governos, seja o brasileiro ou do país de recepção, não chegam”.
Brasileiros no Exterior
Outra iniciativa para ampliar a base de informações sobre os brasileiros em outros países é a plataforma recém-lançada “Brasileiros no Exterior”. A iniciativa surgiu a partir do projeto de pesquisa acadêmica Brasileiros no exterior: As redes de comunicação na identificação do perfil, condições de vida, formas de organização e de construção das identidades, que vem sendo desenvolvida desde 2022, no programa de pós-graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo, sob a coordenação geral da professora Dra. Camila Escudero.
“Ao longo desse e de outros estudos, identificamos que, não só faltam dados sistematizados sobre a emigração brasileira, mas, também, os que existem estão muito dispersos, o que dificulta a pesquisa. Assim, o objetivo principal da plataforma Brasileiros no Exterior foi constituir uma base de informações, de acesso público e gratuito, bem como de caráter prático-extensionista no contexto da pesquisa acadêmica, sobre a temática da emigração brasileira”.
A plataforma busca ainda servir como ponto de apoio na articulação de emigrantes e líderes comunitários, pesquisadores, organizações da sociedade civil (OSCs) e esferas governamentais envolvidos com a temática. “Acreditamos que a visibilidade dos dados pode estimular a realização de pesquisas teóricas e empíricas, interdisciplinares, de perspectiva transnacional e intercultural, que explorem o perfil da comunidade emigrante no exterior, suas características, demandas, formas de organização e atuação social e econômica, estruturação em redes, práticas culturais, políticas públicas, inovação e impacto, bem como questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Além disso, trabalhamos para construir uma rede colaborativa de pesquisadores que se dedicam à temática para a produção de mais estudos nessa área”, afirma a pesquisadora.
A partir dessas metas, o primeiro passo da equipe foi reunir as informações, construir a plataforma e fazer o lançamento. Outro ponto importante foi conseguir o apoio de instituições relevantes da área de migrações, como o escritório do Brasil da Organização Internacional para Migrações (OIM) e o CRBE (Conselho de Representantes Brasileiros no Exterior); além de suporte financeiro das agências de fomento para a pesquisa. Mas os projetos não param: “até aqui, já foi um desafio e tanto. Agora, pretendemos realizar uma consulta para verificar qual a opinião da população nacional sobre os brasileiros que vivem no exterior. Iniciaremos a coleta dos dados ainda neste mês e a previsão é que tenhamos os primeiros resultados até final de julho de 2023”.