A Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) está atravessando uma crise financeira grave que coloca em risco a continuidade de suas atividades, bem como das pessoas que dependem dessas ações.
Atualmente, a UNRWA apoia cerca de seis milhões de refugiados palestinos em cinco áreas de operações: Jordânia, Gaza, Líbano, Síria e Cisjordânia, além de Jerusalém Oriental. Quase um terço deles vivem em acampamentos. Dentre os diversos programas em curso, a UNRWA mantém 700 escolas, 140 instalações de saúde e fornece US$ 30 milhões para compra de alimentos para cerca de 600 mil pessoas.
A instituição foi criada em 1949 como uma assistência temporária aos palestinos forçados a se deslocarem após a criação do Estado de Israel, que aconteceu um ano antes. Contudo, as sucessivas crises políticas na região aprofundaram a complexidade do tema e as demandas humanitárias.
Ajuda à Palestina é um problema crônico
Na última sexta-feira (5), a organização convocou uma reunião com países-membros e doadores para expor a situação e reforçar a necessidade de que as contribuições aumentem. No final do evento, os participantes prometeram US$ 812,3 milhões de ajuda à Palestina. Deste total, US$ 107,2 são aportes novos. Mas, segundo o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, esse valor ainda é insuficiente. Para manter todos os programas atualmente em curso, a agência precisaria de, no mínimo, US$ 300 milhões extras.
Desde a última década, a entidade vem operando com um orçamento US$ 75 milhões a menos do que o acordado. Os países-membros e doadores justificam que os cortes decorreram de dificuldades financeiras ou desacordos políticos. No governo de Donald Trump, por exemplo, os Estados Unidos cortou todo o financiamento da UNRWA, descrito como “uma falha irremediável”. Recentemente, a administração de Joe Biden restaurou a contribuição, anunciando na semana passada uma contribuição de US$ 154 milhões.
Por isso, Lazzarini ressalta que, mais do que aportes financeiros, o cenário exige uma profunda discussão política.
“Existe uma contradição entre o que se espera que a UNRWA faça e os recursos disponíveis para ela. A UNRWA tem hoje uma natureza única, pois é a única agência encarregada de fornecer serviços semelhantes aos serviços do governo. Ao me dirigir a vocês hoje, não tenho recursos para manter nossas escolas, centros de saúde e outros serviços funcionando a partir de setembro”.
Nas palavras do secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, a instituição está a beira de um colapso. “Quando o futuro da UNRWA estiver em jogo, também estará a vida de milhões de refugiados palestinos que dependem de seus serviços básicos”.
“Não somos SÓ refugiados palestinos”
Durante o encontro em Nova York, dois estudantes palestinos falaram sobre a necessidade de ajuda à Palestina para garantir um futuro melhor. Uma delas, Leen Sharqawi, de 15 anos, é aluna da Escola UNRWA Nuzha School para Garotas em Amã, na Jordânia. Leen afirmou que, somente pela educação, milhares de crianças e jovens refugiados palestinos podem mudar suas realidades.
“Como uma menina representando as vozes de mais de meio milhão de meninos e meninas, estou aqui hoje falando com vocês com confiança e paixão, graças à educação de qualidade que recebo. Somos crianças com grandes sonhos e grandes habilidades. Não somos APENAS refugiados da Palestina. Somos crianças que sonham em se tornar cidadãos globais e que querem ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor. Uma boa educação é o que nos permitirá fazer isso”.
Após o apelo da ONU, alguns países anunciaram novas contribuições. O Qatar assegurou US$ 1,17 milhão por dois anos e a Itália se comprometeu a doar € 1 milhão.