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sábado, dezembro 21, 2024

Por falta de dinheiro, agência da ONU para refugiados palestinos está à beira do colapso

Discussões ideológicas e impactos financeiros causados pela pandemia de coronavírus levaram muitos países a diminuir ajuda à Palestina

A Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) está atravessando uma crise financeira grave que coloca em risco a continuidade de suas atividades, bem como das pessoas que dependem dessas ações.

Atualmente, a UNRWA apoia cerca de seis milhões de refugiados palestinos em cinco áreas de operações: Jordânia, Gaza, Líbano, Síria e Cisjordânia, além de Jerusalém Oriental. Quase um terço deles vivem em acampamentos. Dentre os diversos programas em curso, a UNRWA mantém 700 escolas, 140 instalações de saúde e fornece US$ 30 milhões para compra de alimentos para cerca de 600 mil pessoas.

A instituição foi criada em 1949 como uma assistência temporária aos palestinos forçados a se deslocarem após a criação do Estado de Israel, que aconteceu um ano antes. Contudo, as sucessivas crises políticas na região aprofundaram a complexidade do tema e as demandas humanitárias.

Ajuda à Palestina é um problema crônico

Na última sexta-feira (5), a organização convocou uma reunião com países-membros e doadores para expor a situação e reforçar a necessidade de que as contribuições aumentem. No final do evento, os participantes prometeram US$ 812,3 milhões de ajuda à Palestina. Deste total, US$ 107,2 são aportes novos. Mas, segundo o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, esse valor ainda é insuficiente. Para manter todos os programas atualmente em curso, a agência precisaria de, no mínimo, US$ 300 milhões extras.

Sede da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) em Gaza. (Foto: Ziad Taleb/UN)

Desde a última década, a entidade vem operando com um orçamento US$ 75 milhões a menos do que o acordado. Os países-membros e doadores justificam que os cortes decorreram de dificuldades financeiras ou desacordos políticos. No governo de Donald Trump, por exemplo, os Estados Unidos cortou todo o financiamento da UNRWA, descrito como “uma falha irremediável”. Recentemente, a administração de Joe Biden restaurou a contribuição, anunciando na semana passada uma contribuição de US$ 154 milhões.

Por isso, Lazzarini ressalta que, mais do que aportes financeiros, o cenário exige uma profunda discussão política.

“Existe uma contradição entre o que se espera que a UNRWA faça e os recursos disponíveis para ela. A UNRWA tem hoje uma natureza única, pois é a única agência encarregada de fornecer serviços semelhantes aos serviços do governo. Ao me dirigir a vocês hoje, não tenho recursos para manter nossas escolas, centros de saúde e outros serviços funcionando a partir de setembro”.

Nas palavras do secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, a instituição está a beira de um colapso. “Quando o futuro da UNRWA estiver em jogo, também estará a vida de milhões de refugiados palestinos que dependem de seus serviços básicos”. 

“Não somos SÓ refugiados palestinos”

Estudante da UNRWA, Leen Sharqawi, discursa na Conferência de Doadores da UNRWA em Nova York. Divulgação: UNRWA.

Durante o encontro em Nova York, dois estudantes palestinos falaram sobre a necessidade de ajuda à Palestina para garantir um futuro melhor. Uma delas, Leen Sharqawi, de 15 anos, é aluna da Escola UNRWA Nuzha School para Garotas em Amã, na Jordânia. Leen afirmou que, somente pela educação, milhares de crianças e jovens refugiados palestinos podem mudar suas realidades.

“Como uma menina representando as vozes de mais de meio milhão de meninos e meninas, estou aqui hoje falando com vocês com confiança e paixão, graças à educação de qualidade que recebo. Somos crianças com grandes sonhos e grandes habilidades. Não somos APENAS refugiados da Palestina. Somos crianças que sonham em se tornar cidadãos globais e que querem ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor. Uma boa educação é o que nos permitirá fazer isso”.

Após o apelo da ONU, alguns países anunciaram novas contribuições. O Qatar assegurou US$ 1,17 milhão por dois anos e a Itália se comprometeu a doar € 1 milhão.

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