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domingo, dezembro 22, 2024

Projeto Cosmópolis busca ser local de encontro e referência para e sobre o imigrante; como vai funcionar?

Instrumento de política pública, agente de quebra de estereótipos, ponto de referência acadêmica e social quanto às migrações. Esses são alguns dos objetivos e desafios à frente do Projeto Cosmópolis, lançado oficialmente nesta quarta-feira (13) em São Paulo. O frio e a chuva não foram impeditivos para que o auditório da biblioteca Mário de Andrade ficasse lotado para o evento – reunindo especialistas, migrantes, profissionais e demais envolvidos com a temática migratória.

O novo portal é fruto da parceira firmada em dezembro de 2013 entre a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), e o Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP). O portal conta ainda com o apoio da Fundação Friedrich Ebert, do Centro Universitário Maria Antônia (USP) e do Coletivo Educar para o Mundo (EpM).

Projeção da homepage do portal Cosmópolis, durante o lançamento do site. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Projeção da homepage do portal Cosmópolis, durante o lançamento do site.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim

Diálogo entre governo, academia e sociedade

Em um primeiro momento, o Cosmópolis deve cooperar com a Prefeitura na elaboração de um diagnóstico dos imigrantes na capital paulista, agrupar os estudos e notícias já existentes sobre migrações e tornar esse vasto acervo acessível tanto à comunidade acadêmica quanto para a sociedade. “A ideia é que a gente consiga amplificar nosso debate sobre migrações e fomentar novas pesquisas, trabalhos e fomentar o interesse da própria comunidade migrante de participar nesse trabalho”, explica a professora Rossana Reis, do IRI-USP e que esteve diretamente envolvida na elaboração da ferramenta.

Além de abrir mais espaço para participação do migrante, o Cosmópolis também funcionaria como uma ferramenta de prestação de contas por parte do poder público. “Ele ajuda também para a transparência do trabalho que a gente vêm fazendo e como ferramenta para que a comunidade possa contribuir diretamente com a construção da política municipal”, relata Paulo Illes, coordenador de políticas para imigrantes da Prefeitura de São Paulo. “O portal Cosmópolis faz parte desse processo de diálogo frutífero entre governo, sociedade civil e academia. É uma ferramenta para todos”, complementa o argentino Gonzalo Berron, representante da Fundação Friedrich Ebert, uma das apoiadoras do projeto.

Mesa de abertura do lançamento do portal Cosmópolis. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Mesa de abertura do lançamento do portal Cosmópolis.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim

Outro grande desafio à frente do projeto é de ajudar a corroer estereótipos em geral associados à questão migratória (visão securitária do tema, imigrante visto como ameaça, entre outros), costurando pontes entre os saberes de origem acadêmica e popular – que costumam ser apresentados separadamente.

“Reunindo diversos saberes (acadêmicos, jornalísticos, fotos, vídeos, etc.), o portal contribui para essa visão multidimensional e para corroer discursos que carregam preconceitos e opressões”, pontua Caio Mader, integrante do EpM. “Esperamos com o tempo ser essa referência plural, uma ponte entre esses diferentes mundos e saberes”, complementa a professor Deisy Ventura, do IRI-USP e também envolvida na elaboração do projeto.

Como é o portal?

O funcionamento do Cosmópolis é bastante simples. Ele é dividido nas seções Dúvidas, Serviços, Eventos, Fotos, Notícias, Vídeos, Trabalhos Acadêmicos, Institucional e Legislação, englobando assim diversas áreas de interesse tanto de migrantes como de pesquisadores da área. Além do português, o acervo do Cosmópolis está acessível também em inglês, espanhol e francês.

A atualização do portal é feita de forma gradual, a partir das contribuições dos próprios usuários (imigrantes, pesquisadores, etc.) quanto a eventos, serviços, dúvidas, notícias e artigos relacionados com a temática migratória. Uma equipe ligada ao IRI-USP ficará responsável por atualizar, filtrar e publicar o conteúdo sugerido e enviado por meio dos canais de participação do portal.

Um sistema de filtro por meio de palavras-chave também está incluso no portal, de forma a facilitar a busca de conteúdo dentro do Cosmópolis. “Nossa ideia com isso é horizontalizar, colocar lado a lado conteúdos de origens diversas e fazer conexões entre eles”, explica Fernando Bizarri, um dos desenvolvedores do site.

Fernando Bizarri e André Wiegmann apresentam funcionamento do portal. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Fernando Bizarri e Andre Wigman apresentam funcionamento do portal.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim

Quando a seção desejada não contar com um espaço específico para deixar dúvidas ou sugestões, pode ser usado o e-mail [email protected] para contato ou envio de material.

“De certa forma nosso trabalho nesse site acaba restituindo um pouco a riqueza trazida ao Brasil pelos imigrantes”, diz Bizarri.

Migrantes: o que eles esperam?

As comunidades migrantes foram encorajadas a utilizar o Cosmópolis como espaço para divulgação de seus eventos e também para fazerem consultas e sugestões. E o lançamento da ferramenta deixou uma impressão muito positiva junto aos migrantes presentes no evento.

Público acompanha com atenção a apresentação do novo portal. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Público acompanha com atenção a apresentação do novo portal.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim

“Estou entusiasmado, acho fantástico um site com todas essas informações e a gente poder contribuir. E é muito importante para as comunidades migrantes divulgarem seus eventos”, opina o alemão Werner Regenthal, conselheiro participativo municipal na região do Butantã.

O senegalês Massar Saar ressalta a importância de o migrante também se interessar pelo conteúdo do Cosmópolis e pelas ferramentas de divulgação disponíveis para atividades diversas. “Se cada um fizer sua parte, as outras partes ficam sabendo. Cada uma tem que passar as informações e os migrantes também precisam parar para procurar por essas informações”.

A estudante de enfermagem Luisa Limachi, nascida na Bolívia e vivendo há dez anos no Brasil, foi mais uma a destacar o conteúdo exposto no portal. “Adorei, é uma página que não fica restrita a trabalhos acadêmicos e na qual a população pode publicar os eventos. É um grande avanço e saio daqui muito satisfeita”.

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