Por Nathalia Ramos
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), deslocados internos são pessoas que foram forçadas a deixar suas casas devido a conflitos armados, violência generalizada, desastres naturais ou violações de direitos humanos, sem, no entanto, cruzar fronteiras internacionais. Esses indivíduos compõem 59% da população global deslocada à força.
Diferentemente dos refugiados, essas pessoas continuam dentro de seus países e, muitas vezes, não têm acesso à proteção e assistência necessárias. As pessoas deslocadas internamente estão entre as mais vulneráveis do mundo, podendo permanecer nessa situação por anos ou, até mesmo, décadas.
É neste contexto que se insere o “Relatório Global sobre Deslocamento Interno” (GRID), produzido pelo Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC), que é parte do Norwegian Refugee Council. A publicação é a principal referência mundial em dados e análises sobre o deslocamento interno e serve como base para decisões políticas, estratégias humanitárias e intervenções governamentais.
O GRID
Em sua edição de 2025, o GRID registrou um número recorde: 83,4 milhões de pessoas viviam em situação de deslocamento interno forçado no fim de 2024, em 117 países e territórios, um aumento de 7,5 milhões em relação ao ano anterior. Durante o mesmo período, ocorreram 65,8 milhões de deslocamentos internos.
Tendo um aumento de 51% na última década, os deslocamentos por conflitos e violência foram responsáveis por 20,1 milhões de movimentações. Somente o Sudão, imerso em uma guerra civil, registrou 11,6 milhões de pessoas deslocadas, o maior número já contabilizado para um único país. Na Faixa de Gaza, o cenário foi igualmente dramático: quase toda a população permaneceu deslocada, muitas famílias foram forçadas a fugir até dez vezes em razão dos bombardeios.
Além dos conflitos, os desastres naturais tiveram papel crucial no aumento do número de deslocados. Em 2024, foram contabilizados 45,8 milhões de deslocamentos por eventos como ciclones e enchentes — o maior número desde o início dos registros do IDMC, em 2008. Os Estados Unidos se destacaram como o país com o maior número absoluto de deslocamentos por desastre, com 11 milhões de casos, principalmente por eventos climáticos extremos.
Projeção pessimista e Brasil mencionado
Nesse contexto, o Brasil se destacou no relatório pelo seu maior recorde relacionado aos desastres ambientais. O estado do Rio Grande do Sul foi duramente atingido por chuvas excepcionais entre abril e maio, causando aproximadamente 775 mil deslocamentos internos e afetando 478 dos 497 municípios. A área atingida no sul do país tem seu tamanho equivalente ao do Reino Unido. No norte do país a população sofria com a seca, desencadeando 35 mil deslocamentos no Amazonas. Além disso, esse panorama gerou incêndios florestais no Pará, que foi responsável por 9.400 das 11.000 movimentações causadas por incêndios apenas no Brasil.
Em comparação com o ano de 2023, os dados revelam um crescimento acentuado nas causas tanto por violência quanto por desastres: em 2024 foi registrado um aumento de 10% nos deslocamentos por conflitos e de 29% por desastres em relação ao ano anterior. As projeções para o futuro são de que esses números continuem numa crescente, refletindo um mundo cada vez mais hostil e vulnerável às mudanças climáticas.
Segundo o relatório do ACNUR “Sem Escapatória: na linha de frente das mudanças climáticas, conflito e deslocamento forçado”, até 2040, o número de países afetados por extremos climáticos deve saltar de três para 65 — muitos dos quais já abrigam populações deslocadas. Além disso, projeta-se que a maioria dos campos e abrigos de refugiados enfrentará o dobro de dias de calor extremo até 2050, agravando ainda mais a crise humanitária.
Diante desses números, especialistas do IDMC alertam: a ajuda humanitária, por si só, não será suficiente. São necessárias políticas públicas robustas, investimentos em prevenção, paz e resiliência climática. Como destacou Alexandra Bilak, diretora do IDMC, “o custo da inação está aumentando, e as pessoas deslocadas estão pagando o preço. Os dados são claros: agora é hora de usá-los para prevenir o deslocamento, apoiar a recuperação e construir resiliência.”
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