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sábado, dezembro 21, 2024

“Sem escapatória”: relatório do ACNUR aborda intersecção entre mudanças climáticas, conflitos e deslocamento forçado

Estudo divulgado durante a COP29 revela que as pessoas que são forçadas a se deslocar devido a guerras, violência e perseguição são cada vez mais afetadas pela crise climática, mas sem o financiamento e o apoio necessários para adaptação

Por Vitória Dell’Aringa Rocha

Pessoas que são forçadas a se deslocar devido a guerras, violência e perseguição também estão na linha de frente da crise climática global, mas ainda não recebem a assistência e o apoio financeiro necessários para adaptação climática. Essa é uma das principais conclusões do relatório Sem escapatória: Na linha de frente das mudanças climáticas, conflitos e deslocamento forçado”, elaborado pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.

O documento, elaborado em parceria com outras 13 organizações, instituições de pesquisa e grupos liderados por refugiados, foi lançado oficialmente no último dia 12, durante a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 29) em Baku, capital do Azerbaijão.

Na última década, os desastres relacionados ao clima foram responsáveis por 220 milhões de deslocamentos internos, uma média de 60 mil por dia. As mudanças climáticas afetam tanto os locais de origem quanto os de destino das pessoas deslocadas, agravando e tornando ainda mais complexos os desafios que elas enfrentam.

Realidade devastadora

Segundo o documento, dos mais de 120 milhões de indivíduos em situação de deslocamento forçado no mundo, 75% vivem em países profundamente afetados pelas mudanças climáticas; além disso, cerca de 60 milhões se encontram em locais que são afetados, ao mesmo tempo, por conflitos e por graves riscos climáticos, tais como Síria, Somália, Haiti, Etiópia, Sudão e Mianmar.

Como exemplos práticos, o relatório menciona o deslocamento de 700 mil pessoas do Sudão para o Chade em virtude do conflito, sendo o Chade um dos países mais expostos às mudanças climáticas. Aqueles que permanecem no Sudão também enfrentam riscos climáticos, como as inundações de grandes proporções que assolaram o país. Outro caso apresentado é o de Bangladesh, onde os riscos naturais  – como ciclones e inundações – são classificados como extremos e estão cada vez mais intensos, e que recebeu 72% dos refugiados de Mianmar.

“Embora o conflito continue sendo o principal fator de deslocamento, as mudanças climáticas podem agravar uma realidade já devastadora. Seus impactos afetam de forma desproporcional as populações mais vulneráveis do mundo – incluindo refugiados, pessoas deslocadas por conflitos e as comunidades que as abrigam”, diz trecho do relatório.

Projeções pessimistas

O ACNUR estima que, até 2040, 65 países enfrentarão riscos extremos relacionados ao clima (atualmente, são três), e que a maioria deles será de nações que recebem pessoas deslocadas foçadas. Além disso, até 2050, a maioria dos campos e assentamentos de refugiados enfretará o dobro de dias com índices de calor em nível considerado perigoso.

O relatório enfatiza que os países mais vulneráveis, as pessoas deslocadas e as comunidades de destino não estão recebendo o apoio e o financiamento necessários para se adaptarem às consequências das mudanças climáticas: enquanto países que não são considerados frágeis recebem 161 dólares por pessoa para adaptação anual, Estados considerados extremamente frágeis recebem, apenas, dois dólares (e a maior parte desses recursos se concentra nas capitais).

“Para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade do mundo, as mudanças climáticas são uma realidade dura que afeta profundamente suas vidas,” disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, em comunicado oficial à imprensa. “A crise climática está impulsionando o deslocamento em regiões que já abrigam muitas pessoas deslocadas, agravando sua situação e deixando-as sem um local seguro”.

Caminhos possíveis

Nesse sentido, o relatório é concluído com um chamado para proteção das pessoas deslocadas por mudanças climáticas e desastres naturais, aplicando e adaptando ferramentas legais existentes, tais quais:

  • inclusão da opinião e das necessidades específicas das populações deslocadas e das comunidades anfitriãs nas decisões políticas e de financiamento climático;
  • investimentos na construção de resiliência climática nos locais onde as necessidades forem maiores, especialmente em contextos frágeis e afetados por conflitos;
  • aceleração da redução das emissões de carbono, visando prevenir desastres climáticos e evitar e minimizar novos deslocamentos.

“Espero que as vozes neste relatório ajudem os tomadores de decisão a entender que, se não forem abordados, o deslocamento forçado e os efeitos multiplicadores das mudanças climáticas piorarão. Mas, se nos ouvirem, podemos fazer parte da solução também”, disse disse Grace Dorong, ativista climática e antiga refugiada no Sudão do Sul, por meio de comunicado distribuído pelo ACNUR.


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