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terça-feira, janeiro 14, 2025

Brasil é 18º em ranking global de passaportes; Singapura e Japão lideram e EUA caem

Consultoria britânica de imigração Henley & Partners faz levantamento atualizado periodicamente sobre passaportes. Lista também permite reflexões sobre a mobilidade humana global

A consultoria britânica de mobilidade global Henley & Partners divulga periodicamente uma lista dos passaportes mais fortes do mundo – no caso, aqueles que permitem a entrada como turista em mais países sem a necessidade de visto. E a primeira versão de 2025 dessa lista mostra Singapura mantendo a liderança desse ranking, seguido pelo Japão e uma série de países europeus. Já o Brasil seguem em posição de estabilidade em relação a outros anos, em um patamar ainda considerado elevado.

Com sede em Londres, a Henley & Partners utiliza dados exclusivos da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) para elaborar o ranking, considerado uma referência global.

Na primeira listagem de 2024, Singapura já aparecia no topo, mas empatada com outros cinco países. Atualmente o documento de viagem para ciadadãos desse país – localizado no Sudeste Asiático e considerado um importante centro financeiro global – permite acesso sem necessidade de visto a 195 países e territórios. O Japão, vice-líder, tem dispensa em 193 localidades.

Mesmo caindo um posto em relação a 2024, o Brasil aparece em uma posição relativamente alta na tabela da consultoria britânica, na décima oitava posição, com um passaporte que dispensa visto para acesso em 171 países. Em relação a outros países da América Latina, aparece em terceiro lugar, logo atrás de Chile (16°, com 176) e Argentina (17°, com 172).

Posição RankingPaísesLocais com dispensa de visto
1Singapura195
2Japão193
3Finlândia, França, Alemanha, Itália, Coreia do Sul, Espanha192
4Áustria, Dinamarca, Irlanda, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Suécia191
5Bélgica, Nova Zelândia, Portugal, Suíça, Reino Unido190
6Austrália, Grécia189
7Canadá, Malta, Polônia188
8Hungria, Tchéquia187
9Estados Unidos, Estônia186
10Letônia, Lituânia, Eslovênia, Emirados Árabes Unidos185
16Chile176
17Argentina172
18Brasil, Hong Kong, San Marino171

Na parte de baixo da lista, o Afeganistão segue como o país cujo passaporte tem o menor poder, com dispensa de visto de apenas 26 países. Pouco acima estão Síria (27), Iraque (31), Iêmen (33) e Paquistão (33).

Posição rankingPaísesLocais com dispensa de visto
97Sudão43
98Eritreia42
99Coreia do Norte41
100Bangladesh, Líbia, Palestina40
101Nepal39
102Somália35
103Iêmen, Paquistão33
104Iraque31
105Síria27
106Afeganistão26

Por meio do portal da Henley & Partners é possível fazer comparações diversas sobre os passaportes e verificar onde ele permite acesso com ou sem necessidade de visto.

O Brasil, por exemplo, precisa de autorização prévia para acessar países como Canadá, China, Índia, México, Arábia Saudita e Estados Unidos. Ao mesmo tempo, é dispensado desse documento para entrada na maior parte dos países da Europa e América Latina. Além disso, costuma exigir visto dos locais que estipulam essa condição para ingresso no território brasileiro – exceção feita a Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Os passaportes e reflexões sobre mobilidade humana

Para além da curiosidade que o ranking gera sobre a força do passaporte deste ou daquele país, ele é um exemplo das oportunidades (se o passaporte é de um país rico) e dos desafios (se for de uma nação considerada pobre), a respeito da mobilidade global.

Países europeus e asiáticos que compõem o chamado Norte Global dominam as primeiras colocações, refletindo relações diplomáticas fortes e atratividade econômica que exercem. O primeiro país latino-americano na lista é o Chile, enquanto o mais bem-colocado entre os africanos é o arquipélago das Seychelles (25°, dispensado de visto para 156 localidades), conhecido destino turístico e também sede fiscal de diferentes empresas de tecnologia.

“A própria noção de cidadania e seu sorteio de direitos de nascimento precisa ser repensada fundamentalmente à medida que as temperaturas aumentam, os desastres naturais se tornam mais frequentes e severos, deslocando comunidades e tornando seus ambientes inabitáveis. Simultaneamente, a instabilidade política e os conflitos armados em várias regiões forçam inúmeras pessoas a abandonar suas casas em busca de segurança e refúgio”, reflete Christian H. Kaelin, presidente da Henley & Partners e criador do índice.

Protagonista de um dos maiores deslocamentos forçados no mundo atual, a Venezuela é o pais que apresentou a maior queda na lista da Henley nos útimos dez anos, passando da posição 30 em 2015 para a 45 neste ano.

Artigos publicanos no MigraMundo nos últimos anos trouxeram à tona esse debate gerado a partir dos passaportes e da capacidade de acesso a outros locais. Em 2018, durante visita ao Brasil, a escritora italiana Idiaba Scego, filha de pais somalis, falou a respeito de um “apartheid de passaportes”. “Vivemos um momento de apartheid dos deslocamentos porque quem tem um passaporte forte, como o meu (italiano, europeu) pode se deslocar, viajar. E quem não tem um passaporte assim, não pode. Nós poderíamos fazer com que as pessoas não fizessem migrações forçadas, mas sim viagens circulares regulamentadas. Quem se aproveita desse sistema atual são as máfias”.

Na mesma linha, a cientista política francesa Catherine Wihtol de Wenden observa que o processo de migrar acabou reduzido a uma questão de passaporte. “O ser humano migra porque é de sua natureza (…). Mas o que existe hoje são desigualdades no direito de migrar. Migrar passou a ser não uma questão humana, mas uma questão de passaporte. Se você tem um passaporte africano, isso é quase uma sentença de morte”, disse ela, em seminário acompanhado pelo MigraMundo também em 2018.

Possível “Efeito Trump”

Um dado curioso levantado pelo ranking da Henley & Partners é o poder do passaporte dos Estados Unidos quanto a dispensa de visto – embora ainda seja considerado “forte”, o documento apresentou queda significativa nos últimos anos. Em 2015 era o více-líder e agora aparece na nona posição, o segundo maior declínio no espaço de uma década – atrás somente da Venezuela.

Para os organizadores do ranking, a chegada de Donald Trump à Presidência pode acentuar esse declínio, diante da postura isolacionista e autocentrada do republicano, além dele ter o rechaço à migração como uma de suas principais bandeiras.

“Mesmo antes da possibilidade de um segundo mandato de Trump, as tendências políticas americanas já haviam se tornado visivelmente voltadas para dentro e isolacionistas. Apesar de a saúde econômica dos EUA depender fortemente da imigração, do turismo e do comércio, os eleitores durante a campanha presidencial de 2024 foram apresentados a uma narrativa de que a América pode (e deve) se sustentar sozinha. No final das contas, se tarifas e deportações se tornarem as ferramentas políticas padrão de uma administração Trump, os EUA não apenas continuarão a cair no índice de mobilidade global em termos comparativos, mas provavelmente também em termos absolutos. Enquanto isso, a maior abertura da China pode fortalecer ainda mais a dominância do soft power brando da Ásia no cenário mundial”, analisa Annie Pforzheimer, Senior Associate do thinktank Center for Strategic and International Studies, em comentário especial para a Henley.

A China, por sua vez, está entre as nações que mais ganharam posições no ranking de passaportes nos últimos anos, passando da 94ª posição em 2015 para a 60ª neste ano.


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