As medidas tomadas pelo poder público para conter o avanço do coronavírus (Covid-19), embora necessárias, têm efeitos colaterais. E parte deles atinge diretamente os imigrantes e suas fontes de renda.
Sem eventos públicos e com funcionamento apenas de serviços essenciais, muitos deles foram impactados economicamente — entre negócios, empreendimentos individuais e projetos aos quais estão vinculados.
Com o indicativo de uma situação duradoura de quarentena devido ao Covid-19, uma série de iniciativas em São Paulo e no Rio de Janeiro vêm procurando atenuar os efeitos econômicos da pandemia sobre essa parcela da população.
Vaquinha para oficinas de costura
O setor têxtil foi atingido em cheio pela crise gerada pelo coronavírus. Com lojas fechadas, as encomendas de peças de roupas praticamente sumiram das oficinas de costura. E muitas delas são tocadas por imigrantes, tanto no funcionamento como na direção.
Como resultado, há oficinas que há duas semanas não recebem qualquer encomenda.
Para evitar uma quebradeira desses negócios —e por consequência, da renda desses imigrantes — a ONG Alinha lançou uma campanha de financiamento coletivo (clique aqui). O objetivo é arrecadar fundos que ajudarão, inicialmente, famílias responsáveis por 21 oficinas apoiadas pelo projeto.
Criada em 2014, a Alinha auxilia na regularização e na profissionalização de oficinas de costura de imigrantes. E decidiu realizar tal intervenção para evitar um retrocesso social, organizacional e humano sobre essas empresas e seus envolvidos.
“Queremos garantir que esses empreendedores, que tanto se esforçam para conseguir ter seus negócios alinhados, não sejam esquecidos. As vitrines podem estar fechadas, mas as nossas roupas continuam carregando a história desses trabalhadores”, sintetiza Dari Santos, sócia-fundadora da Alinha.
‘Abraço Online’
Conhecido por promover aulas de idiomas ministradas por imigrantes em situação de refúgio, o Abraço Cultural decidiu levar seus cursos para o ambiente online. As aulas terão início no novo formato a partir do dia 30 de março, tanto para alunos de São Paulo como do Rio de Janeiro.
“Dessa forma, continuamos garantindo o pagamento dos professores, que dependem dessa renda, e continuamos oferecendo uma forma de abraçar os alunos, mesmo com o distanciamento social”, afirma Mari Garbelini, diretora-executiva do Abraço Cultural.
Para isso, segundo ela, a equipe de pedagogia trabalhou com os professores para adaptar o conteúdo e método de aula à situação atual.
“Já recebemos respostas positivas e acreditamos que esta seja a solução para este momento”, completa.
#CompreDoPequeno
O Abraço Cultural também tem levado a campanha #CompredoPequeno para a temática migratória. A ideia é incentivar a compra de artigos — como comidas típicas, artesanato, vestuário e outros itens — produzidos por imigrantes tanto do Rio como de São Paulo.
O conceito por trás da campanha é simples. Grandes empresas possuem maiores condições de enfrentar situações econômicas adversas, enquanto pequenos negócios são mais frágeis e tendem a fechar, gerando desemprego e ampliando os efeitos da atual crise.
É nessa situação potencial que estão vários imigrantes, que recorreram ao empreendedorismo para ganhar o próprio sustento no país e driblar questões que atrapalham sua inserção no mercado do trabalho.
“A ideia principal era unir duas causas: o mês da mulher e o apoio aos pequenos empreendedores, principalmente migrantes e refugiados, que foram afetados com o Covid-19. Entramos em contato com pessoas que conhecíamos e o retorno foi de total gratidão, reforçando a necessidade de continuar dando visibilidade aos trabalhos ainda mais nesse momento, já que muitas vezes, a principal fonte de renda dessas pessoas é a participação de feiras e eventos”, explicou Bianca Silva, da área de comunicação do Abraço.
No último dia 16, o MigraMundo —com a ajuda da pesquisadora Sofia Zanforlin —publicou uma lista de imigrantes em São Paulo que atuam com gastronomia e aceitam encomendas de seus produtos.
Manifesto na internet
O coletivo Conviva Diferente, que oferece cursos gratuitos de português e formações diversas para imigrantes no bairro de Guaianases, no extremo-leste de São Paulo, lançou uma manifesto nas redes sociais.
O texto expõe as dificuldades relatadas pelos imigrantes atendidos pelo projeto e reivindica uma série de medidas a serem tomadas pelo poder público em apoio aos imigrantes nas periferias da capital paulista. Também procura estender ao bairro as campanhas de solidariedade que nem sempre chegam às áreas mais afastadas da cidade.
“Conclamamos aqueles e aquelas que queiram auxiliar a nos procurar, para que possamos canalizar essa mobilização à rede assistencial já estabelecida no bairro, através das igrejas, entidades de assistência e representações do poder público”, diz o texto.
O manifesto, disponível na íntegra no Facebook do Conviva Diferente, conta atualmente com 18 adesões, entre associações e coletivos de imigrantes.
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