Manifestação política a partir de passagem da Bíblia foi organizada por Igreja Metodista de Claremont, nos Estados Unidos, em homenagem à “mais famosa família de refugiados do mundo, a família de Jesus”
Por Eduarda Esteves
Em São Paulo
Uma igreja evangélica dos Estados Unidos montou um presépio com Jesus, Maria e José enjaulados e separados em gaiolas, em alusão ao tratamento que imigrantes sem documentos recebem ao tentar entrar no país.
A Igreja Metodista de Claremont, cidade localizada a leste de Los Angeles (EUA), inaugurou o presépio na época natalina, como de costume. Mas, esse ano, a ideia era protestar contra a política migratória do presidente Donald Trump, principalmente em relação aos imigrantes que chegam à fronteira do país com o México.
No presépio, Jesus aparece enrolado em uma manta térmica, semelhante à usada pelos migrantes e solicitantes de refúgio quando são resgatados. “E se esta família procurasse refúgio no nosso país hoje?”, dizia um trecho do texto publicado no site oficial da instituição religiosa.
“Neste tempo em nosso país, quando as famílias de refugiados procuram asilo nas nossas fronteiras e são separadas umas das outras, nós lembramos a família de refugiados mais conhecida do mundo: Jesus, Maria e José, a Sagrada Família”, diz outra parte da publicação.
Ainda segundo o texto, no cenário montado em frente ao templo, “a Sagrada Família ocupa o lugar das milhares de famílias sem nome separadas nas nossas fronteiras”.
A pastora líder da igreja, Karen Clark Ristine, publicou uma foto da montagem, inaugurada no último sábado (7), na sua página no Facebook.
Ristine declarou ao jornal “Los Angeles Times” que a igreja costuma usar a cena do presépio para abordar uma questão social. A crise dos sem teto que atinge o sul da Califórnia, região onde fica Claremont, já foi mostrada em montagens anteriores, de acordo com ela.
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) afirmou que 911 crianças migrantes foram separadas de suas famílias na fronteira dos Estados Unidos com o México entre o fim de junho de 2018 e 29 de junho de 2019.
“O governo continua separando crianças dos pais sob o disfarce de estar protegendo essas crianças de seus próprios pais, embora o alegado histórico criminal deles esteja errado ou é chocantemente menor”, afirmou Lee Gelernt, do projeto de direitos dos imigrantes da ACLU.
Leia o texto publicado pela Igreja (tradução)
No tempo em nosso país quando as famílias de refugiados procuram asilo nas nossas fronteiras e são separadas umas das outras nós lembramos a família de refugiados mais conhecida do mundo: Jesus, Maria e José, a Sagrada Família.
Logo após o nascimento de Jesus, José e Maria foram obrigados a fugir com seu jovem filho de Nazaré para o Egito para escapar do rei Herodes, um tirano. Eles temiam perseguição e morte.
E se esta família procurasse refúgio no nosso país hoje?
Imagine José e Maria barrados na fronteira e Jesus, com menos de dois anos, tirado de sua mãe e colocado atrás das grades de um centro de detenção da patrulha de fronteira, como foi feito com mais de 5.500 crianças nos últimos três anos.
Jesus cresceu para nos ensinar bondade e misericórdia e a acolhida de todas as pessoas.
Ele disse: “Eu estava com fome e você me deu comida, eu estava com sede e você me deu algo para beber, eu era um estranho e você me acolheu.” Mateus 25:35
No presépio da Igreja metodista de Claremont, neste Natal, a Sagrada Família ocupa o lugar das milhares de famílias sem nome separadas nas nossas fronteiras.
Dentro da igreja, você verá esta mesma Sagrada Família reunida em um presépio que se une aos anjos em cantar “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” Lucas 2:14.
Outras críticas sociais
Essa não é a primeira vez que a igreja traz questões reflexivas ao montar o presépio natalino. Em 2014, os organizadores montaram a Virgem Maria sem-teto em um ponto de ônibus com o recém-nascido, que seria Jesus.
Em outros anos, as exibições foram até vandalizadas, como em 2011 com um casal heterossexual e homossexual. Em 2013, o templo mostrava o jovem Trayvon Martin na manjedoura.
Trayvon Martin foi assassinado em Sanford, Flórida, Estados Unidos, na noite de 26 de fevereiro de 2012. O garoto era um jovem negro de 17 anos de idade, estudante do ensino médio. Ele foi alvejado pelo segurança George Zimmerman, em um condomínio fechado, onde o jovem estava de visita.
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