Um incêndio destruiu 1.200 barracas e deixou cerca de 5.000 pessoas desabrigadas em um dos acampamentos de refugiados rohingya em Bangladesh, no último domingo (9). O local fica no complexo de Kutupalong, no distrito de Cox’s Bazar, na fronteira com Mianmar, e é considerado o maior assentamento de refugiados no mundo, com pelo menos 900 mil pessoas, segundo estimativas da ONU.
A região abriga pessoas da etnia rohingya, que é alvo de perseguição e discriminação em Mianmar. Muitos deles fugiram do país na campanha militar de agosto de 2017, ordenada pelo governo birmanês e que investigadores da ONU classificaram de “tentativa de genocídio”.
Ainda não se sabe o que motivou o fogo. No entanto, as instalações do campo constituídas basicamente por cabanas de bambu e lonas, o que torna todo o assentamento um local de alto risco para incêndios. A alta concentração de pessoas em um mesmo espaço torna qualquer desastre um evento potencialmente letal para grandes grupos.
O problema dos incêndios, aliás, tem sido bastante comum. No último dia 2 de janeiro, um outro incêndio, de menor porte, atingiu um dos acampamentos do complexo. No maior deles, em março de 2021, 15 refugiados morreram e mais de 10 mil cabanas foram destruídas pelo fogo.
Além do fogo, outros eventos também colocam em risco a vida dos refugiados que vivem no campo. Em julho passado, as enchentes em grande escala destruíram barracas, afetando 46 mil refugiados. O clima em Bangladesh e em boa parte do sul da Ásia é conhecido pelas monções, que são chuvas pesadas concentradas durante um período do ano com grande potencial para estragos.
Medidas e repercussão
Nesta segunda-feira (10), o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU anunciou a oferta de refeições quentes para 2,2 mil refugiados rohingya afetados pelo incêndio. A divisão da OIM (Organização Internacional para as Migrações) em Bangladesh disse que mobilizou equipes médicas e insumos para atender as pessoas desalojadas.
Já Roberto Vila-Sexto, diretor do Norwegian Refugee Council’s (NRC) em Bangladesh, expressou preocupação com prováveis novos desastres como esse.
“Nosso temor não é só com o que aconteceu desta vez, mas que futuros incêndios podem causar destruição ainda maior e custar mais vidas. Precisamos prover instalações mais seguras e dignas para os refugiados, usando material que retarde o fogo. E as perigosas cercas de arame farpado que dividem os campos devem ser removidas, pois retardam a fuga das pessoas que fogem das chamas”, disse.
Ao mesmo tempo, o governo de Bangladesh vem pressionando a comunidade internacional a respeito dos refugiados rohingya. O premiê AK Abdul Momen disse ao portal local Dhaka Tribune que uma rápida repatriação dos refugiados é uma das prioridades do país.
Contexto
Os rohingya são considerados a etnia mais discriminada do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A comunidade que se concentra no estado de Rakhine, em Mianmar, vem sofrendo ataques há décadas, sendo ela a minoria muçulmana em uma população majoritariamente budista.
O dia 25 de agosto de 2017 marcou o êxodo de mais de 742 mil pessoas da minoria rohingya de Mianmar ao país vizinho, Bangladesh. A data é lembrada como uma das mais traumatizantes da história da migração forçada. Estima-se que pelo menos 10 mil pessoas tenham morrido após uma campanha militar birmanesa contra os rohingya.
Muitos birmaneses alegam que os rohingya eles são uma etnia implantada durante a colonização britânica, que trouxe milhares de trabalhadores muçulmanos de Bangladesh. Já os rohingya dizem ser indígenas do Estado de Rakhine, anteriormente conhecido como Arakan – um dos mais pobres do país.
Uma lei de 1982 retirou do povo rohingya o direito à nacionalidade birmanesa, tornando-os apátridas. Dessa forma, ficam impedidos de ter acesso a serviços públicos (saúde, educação, etc.) e de ter mais de um filho por casal, entre outras restrições. Também são submetidos a trabalhos forçados.
Diante desse cenário, muitos rohingya decidem fugir para países vizinhos. Um desses destinos é Bangladesh, onde fica o campo de . as condições precárias do local chamam a atenção da comunidade internacional, a ponto de a ONG internacional Human Rights Watch acusar o governo bengali de querer transformar em prisões a céu aberto os campos de refugiados.
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