Os protestos do dia 30 de junho de 2018 mostram que muitos americanos não concordam com Trump e sua política migratória
Por Patrícia Nabuco Martuscelli
Em Raleigh (Carolina do Norte, EUA)
Uma coisa é a política conduzida pelos governos; outra coisa é a reação de uma sociedade a essas políticas. Foi o que mostraram centenas de milhares de cidadãos nos Estados Unidos no último sábado (30/06), em protesto contra as políticas de “tolerância zero” em relação às migrações conduzidas pelo republicano Donald Trump desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2017.
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Cerca de 700 cidades registraram atos – intitulados “Families Belong Together” – contra a separação de famílias de imigrantes e o envio delas para centros de detenção. Os manifestantes pediam também o fim da política de tolerância zero da administração Trump.
Alguns dos maiores protestos ocorreram nas maiores cidades do país. Na capital, Washington D.C., foram 35 mil pessoas que marcharam sob um calor de 35 graus em apoio aos imigrantes – além de 60 mil em Nova York e 90 mil em Los Angeles.
Um olhar sobre Raleigh
Os protestos também se espalharam por cidades de pequeno e médio porte no país. O MigraMundo acompanhou a manifestação que aconteceu nas ruas de Raleigh, que tem cerca de 460 mil habitantes e é a capital do Estado da Carolina do Norte.
A presença de famílias, mulheres, crianças era notada durante toda a marcha, apesar da temperatura já superar os 30 graus na manhã de sábado. Americanos brancos, negros e imigrantes de diferentes origens fizeram cartazes, bonecos com a cabeça do Trump e diferentes manifestações artísticas para mostrar sua indignação.
A marcha aconteceu no centro da cidade começando na City Plaza. Por fim, um palco montado no final da marcha trouxe depoimentos de imigrantes separados de suas famílias e discursos de ativistas da causa migratória.
Diversas pessoas traziam camisetas com os dizeres “Eu me importo e você?” (I care. Do u?) – uma resposta ao fato de a atual primeira-dama do país, Melania Trump, ter utilizado um casaco com os dizeres “Eu realmente não me importo e você?” (I really don’t care. Do U?) ao visitar crianças separadas de suas famílias.
Um varal com roupas de bebês trazia dizeres como “famílias devem ficar juntas, acabem com a separação de famílias”. Uma mãe e sua filha usavam camisetas combinando dizendo: “Mantenham as famílias juntas e eu não vou ao banheiro sem a minha mãe”. Em muitos cartazes, era possível ver versículos bíblicos que mostravam que receber imigrantes era a coisa cristã a fazer. Vários movimentos religiosos participaram da marcha de diferentes dominações incluindo protestantes e judeus.
Outros cartazes pediam o fim do ICE (Immigration Costums Enforcement), autoridade responsável por deportar imigrantes no país. Muitos eram destinados ao Trump pedindo sua deportação ou prisão. Um dizia que o racismo não pode ser escondido por políticas nacionalistas. Na mesma linha, outro dizia “apoio aos imigrantes, deportação aos racistas”. Um outro dizia que preferia um vizinho imigrante do que um racista.
Movimentos de mães apareceram em peso para apoiar famílias imigrantes. Outros manifestantes usavam botons que pediam para “tornar a América boa” (Make America Kind). Várias pessoas traziam mensagens que discutiam o papel dos EUA nisso tudo, com dizeres como “Nós somos melhores do que isso” ou “Onde foi que a América errou?”
Eleições a caminho
Apesar de não-partidário, havia uma preocupação grande em registrar eleitores e chamar atenção para a importância do voto. Isso está diretamente relacionado com as eleições para o legislativo que acontecem no segundo semestre desse ano (midterm elections).
Os manifestantes, em suas faixas, também reconheciam a importância do voto com mensagens como “Eu me importo, Eu voto” ou “Trump, não vamos nos esquecer na hora das eleições”. Por fim, vários cartazes pediam pelo fim da separação das famílias e afirmavam que imigrantes eram bem-vindos e que direitos dos imigrantes são direitos humanos.
Sábado de manhã foi um bonito momento de esperança para aqueles que acreditam que a imigração é o que fortalece as sociedades e defendem o fim de políticas migratórias desumanas. Para aqueles que vivem em um país onde o atual presidente chama imigrantes de animais, estupradores e criminosos, os protestos do dia 30 de junho de 2018 mostram que muitos americanos não concordam com Trump e que os EUA podem ser melhor do que isso. A mensagem final para o país é: há esperança, América.