Por Ana Carolina Montoro
Desde o começo da pandemia de Covid-19, instituições que trabalham com o tema da migração e refúgio no Brasil acompanham os reflexos causados pelo novo coronavírus nessa população. E a pesquisa “Impactos da pandemia de Covid-19 nas migrações internacionais”, desenvolvida e aplicada por um conjunto de instituições, traz uma parte dos resultados desse acompanhamento.
A pesquisa foi um dos destaques do webinário “Vulnerabilidade e pandemia: migrações, tráfico de pessoas e trabalho escravo”, que ocorreu na última terça-feira (29) por meio da página da OIM (Organização Internacional para as Migrações) no Facebook.
A pesquisa, iniciada em abril, foi tocada pelas seguintes instituições: Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão Direitos Sociais e Migração (GIPE)/ PUC Minas; Grupo Distribuição Espacial da População (GEDEP)/PUC Minas; Observatório das Migrações em São Paulo/Núcleo de Estudos de População Elza Berquó/Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Das 2.475 respostas avaliadas, 1.184 pessoas disseram que estavam trabalhando antes da pandemia. No entanto, esse número caiu para 624 depois do início da crise sanitária. E daqueles que estavam desempregados entre março e abril, apenas 65 conseguiram um novo emprego nos meses seguintes.
A pesquisa também ajuda a ter uma ideia das principais nacionalidades migrantes que hoje vivem no território brasileiro e quais delas aparecem em maior número. No total, o levantamento teve respostas de pessoas originárias de 60 países diferentes. Os venezuelanos são a maioria, com 48,8%, seguidos pelos haitianos (27,6%), senegaleses (3,5%), colombianos (2,5%) e cubanos (2,4%).
Nunca é demais lembrar que as comunidades venezuelana e haitiana protagonizaram os dois grandes fluxos migratórios em direção ao Brasil desde 2010. Tal presença é considerada um dos fatores que impulsionou a adoção de medidas como o visto humanitário e a atual Lei de Migração.
“Essa é uma pesquisa de resposta voluntária. Então, certamente não é uma representação dos imigrantes no Brasil, mas é uma pesquisa que teve um volume de respostas muito grande, em um espaço também muito grande em termos de número de municípios e estados levantados”, comenta o professor Duval Fernandes, da PUC Minas e um dos responsáveis pela pesquisa.
Atlas dos venezuelanos no Brasil
O fluxo migratório de venezuelanos já é considerado o maior dentro da história recente da América Latina, motivando uma série de estudos para entender da melhor forma possível essa situação. E um deles, também apresentado durante o webinário, é o Atlas das Migrações Venezuelanas.
Lançado em conjunto pelo Nepo (Núcleo de Estudo de Populações) da Unicamp, Fundo de Populações das Nações Unidas (Unfpa) e OIM, o mapeamento dá uma ideia da difusão da presença venezuelana no Brasil. Até agora, 1.291 dos 5.570 municípios brasileiros (ou 23% do total) contam com a presença de pelo menos uma pessoa natural da Venezuela.
Somente no Brasil, atualmente há 264 mil venezuelanos em situação de refúgio e migração. De um total de 50 mil pessoas devidamente reconhecidas como refugiadas no país, cerca de 90% (46 mil) são de nacionalidade venezuelana.
Depoimentos de migrantes
O webinário também contou com duas histórias de pessoas que viram o Brasil como um lugar para recomeçar suas histórias.
Maha Mamo, de 32 anos, foi a primeira apátrida a receber a nacionalidade brasileira depois de 4 anos morando em Belo Horizonte com os dois irmãos, que compartilhavam com ela a falta de uma nacionalidade materna. Nascida no Líbano, ela não teve direito a ser registrada como libanesa, pois pela lei local só pode ser considerado libanês quem é filho de pais nascidos no país – e seus pais eram sírios.
Osvaldo Jose Ponce Perez é juiz e saiu da Venezuela em 2015 por conta de perseguição política. Trabalhou em Boa Vista (RR) durante 3 meses em condições análogas à escravidão em uma oficina de tratores, até que decidiu aproveitar o antigo hobby de tocar harpa para ganhar dinheiro como artista de rua pela capital de Roraima.
Desde então, conseguiu revalidar seu diploma, tornou-se mestrando na UFRR e agora aguarda a 2ª fase da prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para voltar a exercer a profissão.
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