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quinta-feira, novembro 21, 2024

Sejamos parte, não fiquemos à parte: obrigado, Oriana Jara

Um relato pessoal de como conheci Oriana Jara, ícone da luta pelos direitos dos imigrantes no Brasil, que deixou este plano no último dia 2 de dezembro, aos 75 anos

Era 9 de março de 2012. Estava em um evento no Instituto Cervantes, em São Paulo, que marcava o lançamento de um informe sobre as políticas migratórias na América do Sul, elaborado pelo CDHIC (Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante). Mal sabia eu do que aconteceria dali em diante.

Interessado em saber mais sobre a temática das migrações contemporâneas, levantei a mão e perguntei onde eu poderia buscar mais informações. Três pessoas me atenderam prontamente: uma delas foi a professora Deisy Ventura, da USP, que estava na mesa como debatedora; a outra foi Natália Lima Araújo, representando o coletivo Educar para o Mundo; e a terceira foi uma senhora chilena, que me entregou seu cartão de visitas e fez questão de se colocar à disposição para ajudar.

Foi assim que conheci Oriana Jara. Mal podia imaginar que aquela pessoa que se apresentava com tanto empenho em ajudar um jornalista novato era simplesmente uma das grandes lideranças e referências na luta pelos direitos dos migrantes no Brasil.

Uma atuação, inclusive, que começou ainda no Chile, nas mobilizações contra a ditadura militar na terra natal. E que deixou também suas marcas no Brasil. Fundadora da ONG Presença da América Latina e liderança da Rede Sem Fronteiras, atuou em diversos espaços de participação social — como no Conselho da Cidade de São Paulo, no Comitê Intersetorial da Política Municipal para a População Imigrante, no Conselho Municipal de Imigrantes, entre outros.

Entre outras realizações, Oriana Jara foi fundadora da ONG Presença de América Latina
Entre outras realizações, Oriana Jara foi fundadora da ONG Presença de América Latina. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mal sabia eu também que aquela atividade de março de 2012 seria a primeira da qual participaria em relação às migrações (e que ela lançou as sementes que germinariam mais tarde, com a criação do MigraMundo em outubro daquele mesmo ano).

Também mal poderia imaginar naquele março de 2012 que encontraria Oriana tantas outras vezes — seja nas edições da Festa do Imigrante, na Comigrar, nas Conferências Municipais de Políticas para Imigrantes, na instalação do Conselho Municipal de Imigrantes de São Paulo, na Marcha dos Imigrantes… Isso só para citar alguns! E mal sabia eu que teria naquela mulher cheia de garra uma apoiadora e conselheira de primeira hora.

Em março de 2014, atendendo a um convite feito por mim, Oriana escreveu um texto dizendo o que, para ela, significava ser mulher e imigrante. “Ser mujer siempre fue una tarea heroica,  ser mujer e inmigrante más aún”.

Oriana também lançou uma série de livros com narrativas migratórias de mulheres de diferentes países da América do Sul. Também reuniu mulheres migrantes em um projeto de arpilleras, técnica de bordado que se tornou um ícone da resistência à ditadura chilena.

A chilena Oriana Jara, militantes histórica dos direitos dos imigrantes no Brasil
A chilena Oriana Jara, militantes histórica dos direitos dos imigrantes no Brasil. (Foto: Arquivo pessoal)

Essa longa e frutífera jornada de Oriana Jara chegou ao fim nesta última quarta-feira, 2 de dezembro. No último dia 20 de novembro ela havia completado 75 anos.

Meu último contato com Oriana foi online, como tem sido a maior parte das interações em tempos de pandemia. Ela acompanhou e interagiu em uma das lives do MigraMundo, com o Roque Patussi, do CAMI, em setembro passado. Passou por lá para deixar seu recado e apoio, como de praxe.

Oriana não estará mais fisicamente nos eventos, nem dará mais seus pitacos nas reportagens do MigraMundo. Seu legado, no entanto, permanece vivo e como fonte de inspiração. E não há melhor forma de honrar sua memória do que preservar e expandir esse legado.

Como ela própria não cansou de dizer, “Sejamos parte, não fiquemos à parte”.

Oriana, presente!


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